<p>SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um discurso a mais de 40 executivas reunidas em São Paulo para um almoço no Palácio Tangará, nesta sexta-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que Paulo Guedes, ministro da Economia, não apita em política.

</p><p>"Converso com eles [ministros] antes de tomar qualquer decisão, seja a mais simples, a mais normal. Chamo Damares e pergunto o que fazer. Paulo Guedes, na economia, quase nada falo. Temos um bom relacionamento porque eu não apito em economia e ele não apita em política", afirmou Bolsonaro em um vídeo obtido pelo jornal Folha de S.Paulo.

</p><p>No momento do discurso, o presidente estava ao lado de Guedes, que riu do comentário. A presença da ministra Damares Alves (Família e Direitos Humanos) estava prevista, mas ela não compareceu.

</p><p>"Obviamente, com o passar do tempo, vou dando minhas peruadas no Paulo Guedes e ele vai dando na política para mim", acrescentou Bolsonaro no vídeo, emendando que, muitas vezes, o ministro tem uma visão de empresas e o governo federal precisa contemplar questões políticas e sociais.

</p><p>A fala do presidente ocorre depois de semanas de impasses sobre a divisão de recursos no Orçamento de 2021, com sucessivas divergências entre a equipe econômica de Guedes e o Congresso. Também surge no momento em que há negociações para colocar de pé as reforças administrativas e tributárias, que têm potencial de gerar novos conflitos entre a Economia os parlamentares.

</p><p>Além disso, o ministro foi alvo de polêmicas nesta semana. Em uma reunião em que não sabia que estava sendo gravado, Guedes disse que algumas universidades abriram vagas para todo mundo durante a gestão petista.

</p><p>“Deram bolsa para quem não tinha a menor capacidade. Não sabia ler, escrever. Botaram todo mundo. Exageraram. Foi de um extremo ao outro”, disse, em falas relatadas pelo jornal O Estado de S. Paulo na quinta (29).

</p><p>Na mesma reunião, afirmou que "o chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva que a do americano".

</p><p>Depois, em entrevista à Folha de S.Paulo, o ministro destacou que suas críticas a programas sociais eram voltadas ao que chamou de excesso das medidas.

</p><p>O almoço desta sexta foi organizado e divulgado pela gaúcha Karim Miskulin, presidente do Grupo Voto, empresa de mídia e de eventos de relacionamento fundada há 17 anos. Ela também lidera o movimento liberal Brasil de Ideias.

</p><p>Antes de ser marcado no Tangará, o almoço ocorreria na residência de Vivian Kherlakian, uma das coanfitriãs do evento, e mulher do investidor Otávio Fakhoury, como noticiou Folha de S.Paulo. Kherlakian é investigado no inquérito das fake news sob a suspeita de financiar disparos de mensagens e de atuar com o chamado "gabinete do ódio" do governo.

</p><p>A lista de presentes não incluiu alguns nomes de peso entre as lideranças empresariais femininas, como Luiza Trajano, que não compareceu alegando incompatibilidade de agenda.

</p><p>O encontro no Tangará reuniu presidentes, diretoras e conselheiras de companhias como Amil, Carrefour, JP Morgan Brasil, General Motors e Sabin. O hotel é um dos mais luxuosos da capital. No cardápio, havia massa, carne e salmão.

</p><p>Além de Bolsonaro e Guedes, também estiveram presentes Flávia Arruda (Secretaria de Governo da Presidência), Paulo Skaf, presidente Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Fábio Faria (Comunicação), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Pedro Guimarães (Caixa), Gustavo Montezzano (BNDES) e alguns deputados.

</p><p>Karim abriu o almoço com um discurso em que pediu "união para avançar". "Avançar na economia, nas reformas sociais, na desburocratização da máquina pública", disse.

</p><p>Participaram com perguntas ou ponderações Dulce Pugliese, cofundadora da Amil e uma das mulheres mais ricas do país, Sandra Comodaro, do Voto Mulher, e Marly Parra, do iHub e do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

</p><p>A reunião foi muito simpática ao presidente e à equipe econômica, com executivas abertas a encontrar formas de mobilizar a sociedade para que a agenda liberal do governo seja destravada.

</p><p>Bolsonaro falou sobre os desafios de aprovar reformas e privatizações no Congresso e jogou para os estados às respostas sobre a pandemia. Com o governo na mira da CPI da Covid, ele pediu às presentes que cobrem dos governadores a aplicação dos R$ 294 bilhões que a União distribuiu para auxílio.

</p><p>Ele também voltou a defender a abertura do comércio e a criticar governadores empolgados com poder. Na quinta (29), o Brasil ultrapassou a marca de 400 mil mortes pelo coronavírus. Bolsonaro atribuiu a destruição de empregos à política de isolamento, ressaltando que o país criou vagas na crise, mas que isso é custoso e não estava previsto.

</p><p>Já Guedes mencionou BIP (Bônus de Inclusão Produtiva), programa social dedicado a trabalhadores informais que ele pretende lançar em breve. A ideia surgiu em fevereiro, durante o debate sobre a nova rodada de auxílio emergencial, e voltou a ser ventilada agora.

</p><p>Segundo o ministro, a medida visa atingir os cerca de 40 milhões de informais do país, que receberiam ajuda enquanto o governo tenta vacinar a população.

</p><p>“Vamos fazer a vacinação em massa, mas ao mesmo tempo deixar o povo trabalhar”, disse.

</p><p>Em seu discurso, a fundadora da Amil disse que Bolsonaro poderia contar com o setor privado. "Tenho certeza que falo por todos os meus colegas empresários, presentes e ausentes. Nós vamos continuar lutando pelo Brasil com que nós todos sonhamos", afirmou.

</p><p>Lockdown foi outro tema abordado. Entre as alternativas debatidas, surgiu o escalonamento de horários para o transporte público, idealmente só utilizado pela indústria e por quem precisa sair de casa para trabalhar. A mesma medida foi determinada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), rival de Bolsonaro.

</p><p>"Debatemos que a questão do home office é para quem trabalha em grande corporação. Só se pode terminar com lockdown com responsabilidade, não adianta abrir fábricas e lotar o transporte público, é importante escalonar", diz Marly Parra, presente no evento.

</p><p>O encontro desta sexta é visto como parte do esforço de Bolsonaro para se reaproximar do setor privado. Há três semanas, ele jantou com grandes empresários na casa de Washington Cinel, dono da Gocil, também em São Paulo. Entre os 18 convidados, além da presença da comitiva de governo, não havia uma mulher.

</p><p>Segundo o grupo Voto, a ocasião foi uma forma de "abrir um canal de interlocução das lideranças femininas com os tomadores de decisão". A primeira-dama Michele Bolsonaro era aguardada, mas não compareceu.

</p><p>Ela, que durante a eleição de 2018 acenou para pautas de diversidade, já foi homenageada em um dos projetos do Grupo Voto, que a considerou uma das "mulheres que orgulham o Brasil".

</p><p>Na ocasião, o grupo também enalteceu a promotora Gabriela Manssur, Patrícia Ellen, atual secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Paula Paschoal, presidente do PayPal no Brasil, e Karina Kufa, advogada de Bolsonaro, também confirmada no almoço.

</p><p>Outro homenageado pelo grupo, em 2019, foi o ex-ministro Osmar Terra, um dos políticos mais negacionistas da pandemia.

</p><p>Bolsonaro deixou o local por volta das 14h e foi para a B3, onde ocorre o leilão da Cedae, a Companhia de Água e Esgoto do Rio. Tarcísio de Freitas disse no evento com as executivas que a infraestrutura será o gatilho para alavancar empregos no Brasil no pós-pandemia.

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</p><p>AS EXECUTIVAS QUE PARTICIPARAM DO EVENTO:

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</p><p>Adriana Cordoba (Cordoba Construtora)

</p><p>Ana Helena Patrus (Sante)

</p><p>Ana Maria Velloso (Melhoramentos)

</p><p>Andrea Muniz (InService)

</p><p>Angela Miskulin (Grupo Voto)

</p><p>Cláudia Martinez

</p><p>Cristiane Lacerda (Carrefour)

</p><p>Dulce Pugliese (Amil)

</p><p>Edna Onodera (Rede Onodera)

</p><p>Eduarda Derani (Centuria Invest)

</p><p>Emy Shayo (JP Morgan Brasil)

</p><p>Eva Ghisio (CMPC)

</p><p>Evelyn Ido (RV Imola)

</p><p>Fernanda Samaia (Grupo Meta)

</p><p>Flavia Bittencourt (Adidas)

</p><p>Gabriela Manssur (Justiça de Saias)

</p><p>Heloísa Duarte (Technetium)

</p><p>Iara Moraes (Patrocinador)

</p><p>Isabela Nilo Ferreira (Kufa Advogados)

</p><p>Janete Vaz (Laboratório Sabin)

</p><p>Juliana Corsi Paulinetti Esteve

</p><p>Karim Miskulin (Grupo Voto)

</p><p>Karina de Oliveira Guimarães Mendonça (Grupo Itapemirim)

</p><p>Karina Kufa (advogada)

</p><p>Laura Regenin (Grupo Voto)

</p><p>Luciana Esteves Martins (Dana)

</p><p>Marcia Manfrin (Dela Foods/Apetit)

</p><p>Maria Zilda Araújo (Credipaz)

</p><p>Marina Willisch (General Motors)

</p><p>Marly Parra (iHub)

</p><p>Nadir Moreno (UPS)

</p><p>Narja Berquo (SNS Serviços e Participações)

</p><p>Patrícia Audi (Santander)

</p><p>Paula Villar

</p><p>Pietra Bertolazzi (Restaurante Zena)

</p><p>Rachel Maia (CVC Corp)

</p><p>Renata Scarpa (Scarpa Participações Imobiliários)

</p><p>Rute Scheliga

</p><p>Sandra Comodaro (Voto Mulher)

</p><p>Sofia Esteves (Cia de Talentos/BTG Pactual)

</p><p>Stella Damha (Grupo Dhama)

</p><p>Tania Salem (Sede Incorporações)

</p><p>Vanda Jacintho (Vitória Participações)

</p><p>Vivian Kherlakian (Atelier Vivian Kherlakian)

</p><p>Zely Moraes Fernandes

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