SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Faltando menos de um mês para a provável renúncia do governador Renan Filho (MDB) para concorrer ao Senado, as articulações para a sucessão estadual em Alagoas são marcadas por um xadrez complexo, com a possibilidade de alianças atípicas e com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), como uma espécie de fiel da balança.

Três nomes encabeçam a lista de pré-candidatos ao governo estadual: o deputado estadual Paulo Dantas (MDB), o ex-prefeito de Maceió Rui Palmeira (PSD) e o senador Rodrigo Cunha (PSDB).

Mas a principal batalha se trava nos bastidores, onde os protagonistas da cena política local movem as peças em busca da chapa mais competitiva na eleição de outubro.

Principal nome do campo governista, o deputado estadual Paulo Dantas (MDB) trabalha para construir uma candidatura ao governo que unifique os principais líderes políticos locais, em um arco de alianças que pode incluir o ex-presidente Lula (PT), MDB, União Brasil e até mesmo o PP de Arthur Lira.

O nome do deputado ganhou relevo na sucessão por uma especificidade do pleito em Alagoas: o vice-governador eleito em 2018, Luciano Barbosa (MDB), renunciou em 2020 para assumir a Prefeitura de Arapiraca, segunda maior cidade do estado.

Neste caso, com a renúncia do governador, caberá à Assembleia Legislativa escolher um novo governador e um novo vice em eleição indireta.

Paulo Dantas é o mais forte para suceder o governador na eleição indireta em uma articulação comandada pelo presidente da Casa, o deputado estadual Marcelo Victor (União Brasil). Caso assuma o governo, se torna favorito para concorrer à reeleição pelo grupo governista.

Deputado estadual em primeiro mandato e ex-prefeito de Batalha, cidade 18 mil habitantes do sertão alagoano, Dantas passou a cortejar caciques que são adversários históricos no estado, caso de Arthur Lira, de Renan Filho e do senador Renan Calheiros (MDB).

"Estamos conversando com todos os líderes políticos e da sociedade civil organizada. Queremos unir Alagoas para que nosso estado não sofra nenhum tipo de retrocesso", afirma o deputado.

Lira deu o primeiro passo em direção a Dantas. Em declarações públicas no fim do ano passado, disse que, em caso de renúncia de Renan Filho, apoiaria o nome que fosse escolhido pela Assembleia Legislativa para a sucessão estadual.

Mas Paulo Dantas também se moveu na direção contrária e iniciou articulações pelo apoio de Renan Filho. Nas últimas semanas, intensificou a presença em solenidades do governo e recebeu elogios públicos do governador.

Mesmo filiado ao MDB, Dantas não é um nome do núcleo duro da família Calheiros. Para tentar unir o máximo de partidos em torno de sua candidatura, avalia a possibilidade de se filiar à União Brasil, de onde espera receber o apoio de Renan Filho, do senador Renan Calheiros e de Arthur Lira.

Ao mesmo tempo, mira o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para quem desde já declara o seu voto nas eleições presidenciais.

"Tenho convicção de que Lula é o melhor para o Brasil", diz Dantas, argumentando ainda que seu apoio ao petista não deve fechar as portas para uma composição com Arthur Lira, que é aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O PT não definiu quem apoiará no estado, mas a tendência é de aliança com Dantas. "Não há nada definido, mas o apoio a Lula facilita as conversas", diz o deputado federal Paulão (PT-AL).

A possibilidade deste arranjo inusitado é tratada com ironia entre os opositores. O deputado estadual Davi Maia (União Brasil), de malas prontas para o PSDB, diz que Dantas pode criar a primeira vertente lulista da União Brasil.

Por outro lado, reconhece o peso que o presidente da Câmara terá na sucessão: "Arthur será uma espécie de pêndulo. Para o lado que ele for, pode decidir a eleição", afirma.

Desde que assumiu o comando da Câmara dos Deputados, Lira tornou-se homem-forte na definição do destino das chamadas emendas do relator, dispositivo usado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados para privilegiar aliados políticos e ampliar a base de apoio. Com tamanho poder, ampliou sua influência na política alagoana.

Não à toa os outros dois principais pré-candidatos ao governo do estado também trabalham pelo apoio do presidente da Câmara.

Ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSD) destaca o seu histórico de alianças com Lira nas eleições estaduais de 2014 e 2018, quando apoiou o pai de Arthur, Benedito de Lira, nas disputas para governo e Senado. E lembra que teve o apoio do deputado nas suas duas vitórias para a prefeitura da capital, em 2012 e 2016.

"O PP esteve comigo em meus dois mandatos. Fizemos uma parceria importante que trouxe muitos recursos para a Maceió. É um caminho natural essa união", afirma Rui Palmeira.

O apoio de Arthur Lira será crucial para a viabilidade eleitoral da candidatura de Palmeira, já que o ex-prefeito tem suas bases eleitorais concentradas na capital. O endosso do presidente da Câmara daria capilaridade no interior do estado, sobretudo nas pequenas cidades.

Adversário histórico dos Calheiros, Palmeira aproximou-se do governador Renan Filho na eleição de 2020, quando apoiou para a sucessão o ex-procurador de Justiça Alfredo Gaspar (MDB), aliado do governador que acabou sendo derrotado nas urnas. Agora, diz que a aliança foi circunstancial e que segue na oposição a Renan Filho.

A outra candidatura do campo da oposição deve sair da aliança entre PSB, PDT e PSDB que saiu vitoriosa em 2020, quando elegeu João Henrique Caldas (PSB) conhecido com JHC, para a Prefeitura de Maceió.

Com popularidade em alta, nome de JHC é cotado como um possível candidato ao governo do estado. Mas ele tem indicado a aliados que tende a não renunciar ao cargo com apenas um ano e dois meses de mandato e deve permanecer na prefeitura.

O candidato a governador do grupo deve ser o senador Rodrigo Cunha (PSDB), que começa a intensificar a sua pré-campanha e articular apoios de partidos para além da base aliada do prefeito.

"Temos diálogo estreito com forças como o PSB e o PDT, mas também estamos abertos a conversas com outras agremiações, especialmente aquelas que se opõem à pretendida hegemonia dos Calheiros em Alagoas", afirma o senador, indicando que mantém diálogo com Arthur Lira.

A postura mais aberta contrasta com sua estratégia na eleição de 2018, quando concorreu a senador dividindo a chapa de oposição com Fernando Collor (Pros) para governador e Benedito de Lira (PP) para a outra vaga para o Senado, mas optou por fazer campanha sozinho.

Além de Paulo Dantas, Rui Palmeira e Rodrigo Cunha, um quarto candidato ao governo de Alagoas pode surgir nos próximos meses: o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (Pros).

Com a reeleição ao Senado ameaçada pela provável candidatura de Renan Filho, com quem rompeu em 2018, Collor seria candidato ao governo com o objetivo de garantir um palanque para Bolsonaro no estado.

Procurado, Collor informou por meio de sua assessoria que segue pré-candidato ao Senado. Aliados e adversários, contudo, dizem que pode haver mudanças nos próximos meses, já que o senador tem perfil imprevisível e dado a rompantes.

Em 2018, ele chegou a ser candidato a governador, mas abandonou a campanha faltando três semanas para o dia da votação. Na época, ele justificou a decisão alegando que não teve apoio e reciprocidade dos demais partidos da oposição.