Pai de candidato chileno Kast era filiado ao Partido Nazista da Alemanha, aponta documento
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quinta-feira, 09 de dezembro de 2021
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O pai do candidato da ultradireita à Presidência do Chile, José Antonio Kast, foi filiado ao Partido Nazista da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, segundo documento obtido pela agência de notícias Associated Press.
As relações da família Kast com os nazistas já eram especuladas, mas o candidato chileno sempre sustentou que seu pai foi obrigado a defender Hitler na guerra, como todo jovem alemão à época, e que isso não fazia dele um apoiador do ditador.
Mas um documento de identidade obtido pela AP no Arquivo Federal do governo alemão mostram que Michael Kast, que nasceu na Alemanha e depois da guerra migrou para o Chile, filiou-se ao Partido Nazista em 1942, aos 18 anos. Embora o alistamento militar fosse compulsório, como sustenta o filho, a filiação partidária era voluntária.
A Associated Press afirma que o Arquivo Federal não confirmou que o jovem filiado ao Partido Nazista é o pai do candidato chileno, mas o nome, a data e o local de nascimento batem com os registros do pai de José Antonio Kast. Uma cópia do mesmo documento ao qual a AP teve acesso já havia sido publicada no Twitter no começo do mês pelo jornalista chileno Mauricio Weibel Barahona.
"Não temos sequer um exemplo de alguém que tenha sido forçado a se filiar ao partido", disse o historiador alemão Armin Nolzen à AP. Segundo o pesquisador, Kast provavelmente foi membro da Juventude Hitlerista na adolescência e foi orientado a se filiar ao Partido Nazista por um líder local do grupo. À época, em 1942, a legenda tinha 7,1 milhões de filiados, cerca de 10% da população alemã.
A agência afirma que não há evidências de que Michael Kast tenha tido papel nas atrocidades cometidas pelos nazistas, como o extermínio de judeus. Michael Buddrus, do Instituto de História Contemporânea de Leibniz, em Berlim, disse à AP que não se pode superestimar a participação de uma pessoa tão jovem no partido, mas concordou que Kast deve ter se filiado por vontade própria.
"Ser um membro filiado te liga ao partido e à ideologia dele, mesmo que muitos tenham se filiado por razões puramente oportunistas" como na tentativa de ganhar prestígio na sociedade, disse.
Um livro de 2015 escrito pelo jornalista Javier Rebolledo sobre colaboradores do ditador chileno Augusto Pinochet já havia traçado o passado nazista do alemão, com base em depoimentos da mulher de Michael, mãe de José Antonio, segundo a AP.
Na obra é dito que Kast relutou em se filiar aos nazistas, mas foi convencido por um sargento. Ao fim da Guerra, com a derrota da Alemanha, ele obteve uma identidade falsa enquanto servia na Itália, que dizia que era membro da Cruz Vermelha. Com o documento, ele escapou da prisão duas vezes e conseguiu voltar à Alemanha, onde foi descoberto e confessou ser um soldado nazista, mas foi poupado por um promotor, que queimou seus arquivos no exército, segundo trechos do livro recuperados pela AP.
José Antonio Kast nega a versão do livro e diz que o autor tirou de contexto as memórias da mãe e distorceu fatos.
Em 1950, Michael Kast emigrou da Alemanha para o Chile e se estabeleceu na comunidade rural de Paine, ao sul da capital Santiago. Ele se tornou empresário e montou uma rede nacional de restaurantes e fábricas de alimentos, e morreu em 2014, aos 90.
O ex-deputado José Antonio Kast, 55, do Partido Republicano, ficou em primeiro lugar no primeiro turno da eleição presidencial chilena, em uma votação apertada, e disputará o segundo turno contra Gabriel Boric, candidato da esquerda, no próximo dia 19.
Admirador de Pinochet, já afirmou que gostaria de tomar um chá com o general e disse que receberia o voto do ditador se ele ainda estivesse vivo. Seu irmão Miguel Kast foi ministro e presidente do Banco Central do Chile durante a ditadura de Pinochet, uma das mais sanguinárias da América Latina.
Questionado se o candidato à presidência sabia da filiação do pai ao Partido Nazista, a campanha de Kast não respondeu. Em outras ocasiões, ele rechaçou a associação. "Quando há uma guerra e o alistamento é obrigatório, uma pessoa de 17 ou 18 anos não tem opção de dizer 'não vou' porque será fuzilado no dia seguinte", disse, segundo a AP.

