SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um padre da cidade de Laranjal Paulista, no interior de São Paulo, tem usado o púlpito da Paróquia São Roque para compartilhar suas posições políticas com os fiéis.

No último domingo (6), durante a missa da Quaresma, ele atacou o governador paulista, João Doria (PSDB), e chegou a afirmar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comprou o STF (Supremo Tribunal Federal).

"Doria ama o seu povo? O governador de São Paulo? Quando que ele defendeu vocês? Na pior crise que nós precisávamos de polícia, não tinha, porque só na frente da casa dele tinha 127 viaturas cuidando dele. É amor ao povo isso?", disse o padre Edison Geraldo Bovo durante o sermão.

O esquema de segurança no entorno da casa de Doria foi reforçado em março do ano passado, após o chefe do Executivo paulista ser alvo de ameaças de morte —mas não com um contingente tão numeroso.

"Por que fechou um monte de empresa? Por que muita gente está aí, até hoje, que não vai se recuperar mais na vida? Perdeu tudo. O sonho de investir em alguma coisa grande desmoronou por causa do desinfeliz [sic]. Agora ele [Doria] quer ser presidente nosso. E vocês vão votar?", acrescentou o padre sobre o tucano.

Um vídeo com trechos da missa já é compartilhado em grupos de WhatsApp e nas redes sociais, publicado no perfil do jornalista paranaense Eduardo Matysiak.

Ao longo de seu discurso, que durou cerca de dez minutos, o pároco se referiu à classe política como "corja dos vagabundos" e atacou, sem provas, as urnas eletrônicas.

"Um sistema de voto que é fraudável, não adianta querer provar outra coisa. E nós estamos pagando para fazer propaganda mentirosa dizendo que é seguro. Não é seguro, em nenhum país isso é seguro. Seguro é eu ir no mercado, pegar meu tíquete e conferir", afirmou Edison Geraldo Bovo.

"Não abre mão, não aceita [o voto em papel] de jeito nenhum por quê? Porque é fraude, porque é mentira, porque é falcatrua tudo", continuou.

O padre ainda disse que não orientaria os fiéis a votarem ou não em determinados candidatos, justificando que apenas pede às pessoas que não tenham memória curta. Depois disso, ele seguiu atacando nominalmente o pré-candidato petista à Presidência.

"O mais estúpido é o ladrão. O maior ladrão que o mundo já viu, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, né. Coitada da família dele, dos pais, da mãe que tem vergonha disso. Onde você pesquisar no mundo, é o pior", disse durante a missa, que foi transmitida pela internet.

"Sabe quanto que vocês pagaram? Sabe quanto que nós pagamos? Eu não vou falar porque o pessoal acostumou com dinheiro e não sabe o que que é", seguiu.

"Esse dinheirinho é usado para pagar Supremo Tribunal, os advogados, para dizer 'ele é inocente', 'ele não fez nada', 'ele é bonzinho'. [Lula] vai se candidatar e muita gente vai votar nele. Para com isso, gente. Se vocês não querem viver, se vocês estão cansados da vida, não judiem dos seus filhos, não judiem da geração que vai chegar", afirmou.

Na ocasião, o padre também rechaçou a ideia de que fé e política não devem ser misturadas. "A partir do momento que a Igreja acreditou nisso, a política começou a mandar na Igreja", disse.​ "Estamos sendo enganados. Até a própria Igreja, padres e bispos falando coisas contrárias por aí", afirmou ainda.

Questionado pela reportagem se teme alguma represália por causa de seus posicionamentos, o padre Edison Geraldo Bovo diz ter receio de alguma reação por parte da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), mas que isso não o levará a diminuir o tom de seus sermões.

"Não vou parar. Se acharem que eu não sirvo para a Igreja, entrego a paróquia. O que eu sou, sou desde que nasci e vou ser até o fim. Não retiro nada do que disse. Não são ameaças que vão me fazer calar", diz.

À frente da Paróquia São Roque de Laranjal Paulista há 12 anos, Edison Geraldo Bovo afirma que sempre teve o hábito de se posicionar publicamente. "Se fosse uma coisa tão ruim, não teria durado tanto tempo", diz.

Ele conta que, até agora, apenas "quatro ou cinco pessoas se opuseram" às suas falas, e que diversas associações e advogados já se colocaram à disposição caso precise de ajuda.

"É bem o grito do povo entalado na garganta de todo mundo", diz sobre seus sermões. "Eu sou pé no chão, eu vivo a realidade. Eu sinto na carne, na pele todo dia. Não vou falar outra coisa para colocar panos quentes", segue.

Edison Geraldo Bovo nega ser um apoiador de Jair Bolsonaro (PL), mas afirma não ver outra opção de voto para o pleito de 2022. "Não é que eu defendo o presidente. Eu defendo o Brasil. O Brasil é grande, bonito, tem muita riqueza. Infelizmente não temos outra opção, é ele [Bolsonaro]", afirma.