SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Horas após fechar um acordo para ampliar o período para receber reclamações de irregularidades no segundo turno do pleito presidencial, o órgão eleitoral do Peru voltou atrás e cancelou a extensão na noite desta sexta-feira (11).

O aumento do prazo tinha sido criticado pelo candidato que lidera a apuração, o esquerdista Pedro Castillo, e por outras autoridades do país. Isso porque a medida beneficiaria sua adversária, a direitista Keiko Fujimori, que tem insistido que a votação de domingo (6) foi fraudada.

A apuração aponta que Castillo tem cerca de 60 mil votos a mais que a rival, uma vantagem que não pode mais ser revertida. Mas as autoridades eleitorais ainda não anunciaram o resultado porque estão revendo parte das atas. A demora aumentou a tensão no país.

Nesse cenário, o Júri Nacional Eleitoral (JNE), responsável por analisar esse tipo de questão, tinha decidido nesta sexta que iria ampliar em 48 horas o prazo para que os partidos envolvidos na disputa -o Peru Livre, de Castillo, e o Força Peru, de Keiko- apresentassem denúncias. Assim, o prazo mudou das 20h de quarta (9) para às 20h desta sexta.

O líder da disputa e seus apoiadores, porém, reclamaram que o órgão estava agindo para favorecer Keiko. Com isso, o JNE levou o caso para ser decidido por sua cúpula, que negou por 3 votos a 1 a ampliação do prazo.

Na prática, a decisão tem pouco efeito prático. Isso porque Keiko já tinha apresentado na quarta -dentro do prazo, portanto- um pedido para que 200 mil votos fossem anulados. Essa requisição será analisada normalmente e, se ela for aceita, a candidata vira a disputa e será eleita presidente. Se não, o cargo será de Castillo.

Ainda não é possível saber quando o vencedor será anunciado, mas o JNE tem duas semanas para analisar as denúncias.

Na apuração, Keiko começou na frente, impulsionada pelos votos dos grandes centros urbanos, como Lima. Conforme a apuração foi incluindo também as urnas no interior, porém, Castillo foi diminuindo a diferença e, na segunda (7), assumiu a liderança.

Vom isso, a rival imediatamente denunciou o que chamou de "fraude sistêmica". A acusação é que partidários de Castillo teriam alterado as atas de votações em algumas regiões no interior do país. Os órgãos eleitorais peruanos e observadores internacionais, porém, afirmaram que não viram irregularidades no pleito.

A situação fez o atual presidente interino do país, Francisco Sagasti, pedir calma para os dois lados. "A tarefa de um chefe de Estado é fazer com que o país mantenha a serenidade e a calma nos momentos difíceis e complexos", escreveu ele em uma rede social.

Keiko, porém, criticou a atuação do presidente. "Sagasti não deve interferir em meu legítimo direito de defender nossos votos", respondeu ela. Ela disse ainda que, com suas declarações, o mandatário não está ajudando a acalmar a situação.

Na quinta (10), o promotor José Domingo Pérez, que trabalha na equipe da Lava Jato peruana, solicitou ao juiz Víctor Zúñiga Urday a revogação da medida que concede liberdade provisória para Keiko. Agora, o promotor quer que uma nova prisão preventiva seja determinada à candidata.

Keiko, que é filha do ex-ditador Alberto Fujimori, é acusada de lavagem de dinheiro e de ter recebido caixa dois e suborno em suas campanhas eleitorais. Ela ficou presa por mais de um ano enquanto a investigação se desenrolava.