SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mais conhecido opositor do governo Vladimir Putin, Alexei Navalni, foi considerado culpado em um novo julgamento nesta terça (22) em Moscou. Ele pode pegar mais 13 anos de cadeia -já serve uma sentença de dois anos e meio desde 2021.

Navalni, 45, foi condenado pela acusação de fraude e desrespeito à Justiça. O primeiro crime teria ocorrido, segundo a Procuradoria russa, ao longo de anos em que sua Fundação Anticorrupção recebeu doações para fazer projetos de denúncia de malfeitos de políticos e organizar protestos contra o Kremlin.

Segundo os procuradores, Navalni embolsou US$ 4,7 milhões (R$ 23,2 milhões) no processo. O valor foi reduzido, ao longo do julgamento, para apenas 2,7 milhões de rublos (R$ 128 mil), mas apenas a definição da sentença dirá qual foi o entendimento da juíza Margarita Kotova.

Ela também considerou o ativista culpado por desrespeito à corte por seu comportamento durante o julgamento. Ele ocorreu dentro de uma corte improvisada na própria colônia penal em que Navalni cumpre sua pena, em Pokrov, 100 km a leste de Moscou.

Navalni foi preso em janeiro do ano passado, quando voltava de tratamento médico na Alemanha devido ao envenenamento que sofrera em agosto de 2020 na Sibéria. Ele acusou o FSB (Serviço Federal de Segurança, principal sucessor da KGB) e Vladimir Putin pelo crime. O presidente fez graça, dizendo que se a agência quisesse matá-lo, o teria feito.

Ao chegar à Rússia, ele teve seu avião desviado para outro aeroporto de Moscou e foi preso ao desembarcar. O motivo alegado é de que ele, tendo deixado o país em coma, havia violado a liberdade condicional da sentença suspensa de um outro julgamento, que Navalni também diz ser meramente perseguição política.

Assim, ele foi preso e levado para longe da capital. Fez greve de fome e, segundo aliados, quase morreu. Agora, sua porta-voz, Kira Iarmich, disse no Twitter que a nova sentença "não é sobre a liberdade de Navalni, mas sobre sua vida".

"Eu não vou renunciar às minhas palavras e a meus atos", escreveu Navalni no dia 15 na sua conta no Telegram. O Fundo Anticorrupção, que sempre fez segredo sobre seu financiamento, foi declarado "entidade extremista" e fechado pelas autoridades russas no ano passado.

A condenação, cujos termos finais deverão ser divulgados ainda nesta terça, ocorre em meio à onda de repressão interna na Rússia devido à guerra na Ucrânia. Ela tem de ser chamada de "operação militar especial" pela mídia, e qualquer pessoa pode pegar até 15 anos de cadeia se for considerada responsável por disseminar fake news sobre a ação ou sobre as Forças Armadas.

Isso tornou o trabalho da imprensa, que já era tolhido, quase impossível. Meios independentes como a TV Chuva e a rádio Eco de Moscou fecharam as portas, e o último jornal de linha editorial livre, o Novaia Gazeta, parou de publicar notícias sobre a guerra em protesto.

Jornalistas e ativistas deixaram o país, naquilo que Putin chamou de "purificação natural". Para ele, todos os que se opõem ao conflito são "traidores".

Navalni surgiu na cena política russa em 2012, nos protestos de classe média que pela primeira vez questionaram o poder de Putin, então reeleito para um terceiro mandato. Foi candidato a prefeito de Moscou, com boa votação, e em 2017 começou a liderar atos gigantescos em todo o país, organizados de forma dispersa, pela internet.

Tentou transformar o ativismo em prática eleitoral, defendendo candidatos de qualquer partido que não fosse o de sustentação do Kremlin, o Rússia Unida. Obteve alguns sucessos locais e tentou viabilizar sua candidatura a presidente, em 2018, mas foi impedido pela Justiça justamente por ter a condenação anterior.

A repressão que se abateu sobre a oposição a partir de 2019 e 2020 selou seu destino, simbolizado na cadeia em 2021 -os últimos grandes atos contra Putin na Rússia foram na esteira de sua prisão, sendo abafados pela polícia. Desde o início da guerra, em 24 de fevereiro, 15 mil pessoas foram detidas por protestar contra o conflito, mas soltas em seguida.

Navalni mesmo, curiosamente, nunca foi muito popular: não atingiu mais de 5% de intenções de voto para o Kremlin. Mas pesquisas recentes davam um apoio algo maior à sua causa, entre 15% e 20%.

Seu Fundo Anticorrupção agora trabalha do exílio, principalmente de países Bálticos, publicando investigações que muitas vezes soam panfletárias e, até por sua natureza, são praticamente impossíveis de provar. Na segunda, véspera do julgamento, divulgou uma apuração ligando um superiate de US$ 700 milhões (R$ 3,5 milhões) registrado numa offshore nas ilhas Marshall a Putin, dizendo que o barco é tripulado pelo FSB.