SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Ao menos 11 prefeitos eleitos em 2020 avaliam abrir mão de dois anos e nove meses de mandato até 2024 para tentar a sorte nas urnas e concorrer aos governos de seus respectivos estados nas eleições de outubro.

Para serem candidatos em outubro, eles devem renunciar ao cargo que ocupam até 2 de abril. A data, seis meses antes da eleição, é o limite para desincompatibilização por determinação da legislação eleitoral.

Dentre os que avaliam a renúncia estão prefeitos de seis capitais: Belo Horizonte, Maceió, Aracaju, Florianópolis, Cuiabá e Campo Grande. Também cogitam concorrer a governos estaduais prefeitos de cinco cidades de interior.

Na maior parte dos casos, a indefinição acerca de uma possível renúncia colocou em compasso de espera tanto aliados dos prefeitos quanto os adversários, que evitam definir suas chapas antes de ter clareza sobre o cenário eleitoral.

A definição mais aguardada é a do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), cuja candidatura ao Governo de Minas Gerais teria potencial de mexer no xadrez da eleição nacional.

Isso porque o prefeito é um dos poucos nomes competitivos da oposição em Minas Gerais que conseguiria aglutinar o apoio de partidos de centro e de esquerda e ainda teria com o provável apoio do ex-presidente Lula (PT).

De acordo com aliados, ele está decidido a renunciar ao cargo no final de março e caminha para os últimos dias de mandato na capital mineira. Até a eleição, terá como principal desafio se fazer conhecido e atrair o eleitorado do interior do estado.

Reeleito no primeiro turno em 2020 com a segunda maior votação proporcional entre as capitais brasileiras, Kalil deve enfrentar o governador Romeu Zema (Novo), que tentará a reeleição e tem flertado com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em Maceió, a indefinição sobre uma possível renúncia do prefeito João Henrique Caldas, conhecido como JHC, deixa todo o cenário eleitoral de Alagoas em aberto. Com popularidade alta, ele é visto como um forte candidato à sucessão do governador Renan Filho (MDB), de quem é adversário.

JHC tem um acordo com o vice-prefeito Ronaldo Lessa (PDT) e o senador Rodrigo Cunha (PSDB) para manter o tripé da oposição unido contra o grupo de Renan Filho. No momento, o mais provável é que Cunha seja o candidato ao governo. Em meio de mandato, ele tem como suplente a mãe do prefeito JHC.

Ainda assim, aliados dizem que JHC, que tem 34 anos, vive o dilema entre concorrer em uma eleição onde entraria na condição de favorito ou se manter na prefeitura de Maceió, onde tem sua primeira experiência no Poder Executivo.

Maceió vive um momento delicado com o desastre ambiental causado pela exploração de salgema pela Braskem, que causou afundamentos que atingem mais de 14 mil famílias. Em contrapartida, a prefeitura está prestes a fechar um acordo que deve render uma indenização bilionária para a prefeitura.

JHC é o único dos 11 prefeitos que cogitam concorrer a governos estaduais em 2022 que está cumprindo o primeiro mandato. Desta forma, teria que herdar o desgaste de deixar o cargo com apenas um ano e três meses na função.

O histórico de prefeitos que renunciam em primeiro mandato não ajuda, mesmo em caso de vitórias nas urnas. Em São Paulo, as renúncias dos então prefeitos tucanos José Serra em 2004 e João Doria em 2018 geraram desgaste para ambos na capital.

Em Pernambuco, nada menos que três prefeitos de cidades médias do interior, todos eles bem avaliados, articulam para concorrer ao governo do estado no campo da oposição e tentar enfrentar o domínio do PSB, que há 16 anos governa o estado.

O prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União Brasil), sairá do cargo no dia 30 de março para ser candidato a governador. Ele é filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), ex-líder do governo Bolsonaro, e tem apoio do Podemos.

"Vou ser candidato porque estou indignado com a situação em que Pernambuco se encontra. Sabemos do potencial e das oportunidades que podem ser criadas e isso foi engolido por incompetência. O estado está virando campeão em ser pior em tudo", afirmou Coelho.

De estilo reservado, a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), ainda não confirmou publicamente se disputará o governo. Interlocutores da tucana dizem que ela deve anunciar a entrada na disputa em março baseada em pesquisas para consumo interno que a colocam como melhor posicionada da oposição.

Filha do ex-governador João Lyra Neto, Raquel está no segundo mandato e é a primeira mulher prefeita de Caruaru, maior município do interior. A candidatura eventual dela serviria como palanque de João Doria (PSDB) à Presidência.

Também cogita concorrer nas eleições deste ano Anderson Ferreira (PL), prefeito de Jaboatão dos Guararapes, cidade da região metropolitana do Recife.

Ligado ao segmento evangélico, Anderson foi reeleito com facilidade em 2020, ainda no primeiro turno. Ele já confirmou à imprensa que deixará o cargo até o início de abril, mas está em dúvida se disputa o governo do estado, servindo como palanque para Bolsonaro, ou o Senado, em uma chapa com Raquel Lyra.

Se ainda há dúvidas em capitais como Maceió e Belo Horizonte, ao menos dois prefeitos da capital já cravaram que vão concorrer em 2022.

Em Campo Grande, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), bateu o martelo e deve deixar o cargo até o fim do prazo de desincompatibilização. Membro de família tradicional na política sul-mato-grossense e irmão do senador Nelsinho Trad (PSD), ele já tem o apoio de Patriota e PSB.

Mas o pleito promete um páreo duro no estado. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) apoiará o secretário de Infraestrutura, Eduardo Riedel (PSDB), enquanto devem se lançar os ex-governadores André Pucinelli (MDB) e Zeca do PT e a deputada federal Rose Modesto, de saída do PSDB para a União Brasil.

Quem também já se definiu para a disputa do governo foi o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (União Brasil). Ele vai renunciar em março e deverá receber os apoios de PSD e Podemos, PSDB e PP em Santa Catarina.

O estado é tido como um dos redutos bolsonaristas no país, mas Loureiro diz que não pretende ter vínculos com candidatos à Presidência da República na disputa local.

"Não vou ser candidato de um candidato a presidente. Essa experiência acabou acontecendo na eleição passada, quando o governador [Carlos Moisés] foi eleito pelo PSL e poucos meses depois tomou posição contrária a Bolsonaro. Vou ser candidato dos catarinenses", afirma Loureiro.

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT) está no grupo dos indecisos. Com a gestão bem avaliada e bem posicionado nas pesquisas, ele só deixará a prefeitura caso seja o candidato de consenso do grupo do governador Belivaldo Chagas (PSD).

"Não é fácil. É uma decisão que requer muita responsabilidade e um apoio muito grande do conjunto de partidos do nosso grupo", afirma Nogueira, que cumpre seu quarto mandato na capital sergipana.

Além de Nogueira, o deputado federal Fábio Mitidieri (PSD) é o outro principal pré-candidato ao governo do grupo liderado pelo governador.

Outro indeciso é o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), que pode deixar o cargo para concorrer ao governo de Mato Grosso.

"Ainda não tomei decisão, mas há uma forte tendência para aceitar essa convocação de várias forças políticas e da sociedade", afirma.

Pinheiro foi alvo de operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso em outubro de 2021 e é acusado de participar de supostas irregularidades em contratações de servidores temporários da saúde do município.

Na época, ele chegou a ser afastado temporariamente do cargo, ao qual retornou no mês seguinte. O prefeito nega as acusações e se diz vítima de uma perseguição. Ainda diz acreditar que não sofrerá desgaste por isso em eventual campanha eleitoral.

Caso decida pela candidatura, Pinheiro terá uma parada dura: vai enfrentar o governador Mauro Mendes (União Brasil), que tentará a reeleição.

Prefeitos de cidades do interior também articulam pré-candidaturas. Em São Paulo, o prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth (PSD), foi lançado para a disputa pelo presidente nacional do partido, Gilberto Kassab.

Em Goiás, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, se articula para ser o candidato de oposição ao governador Ronaldo Caiado (União Brasil). Para isso, desfiliou-se do MDB, partido que vai indicar o vice de Caiado, e negocia uma possível filiação ao PL, Podemos ou Patriota.