SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A editora Record, uma das maiores do país, decidiu não renovar o contrato com o escritor e guru bolsonarista Olavo de Carvalho. Segundo comunicado oficial, os contratos dos dois livros que Carvalho tem com com o Grupo Editorial Record venceram em setembro de 2020 e em janeiro deste ano.

"A pluralidade e o incentivo ao debate de ideias são compromissos que norteiam e seguirão norteando as decisões editoriais da Record", diz a nota.

A casa publicou do autor "O Mínimo que Você Precisa Saber para não ser um Idiota", em 2013, uma reunião de artigos organizados por Felipe Moura Brasil, e o "Imbecil Coletivo", reedição de 2018 de uma publicação dos anos 1990. Ambos atingiram cifras de best-sellers.

A decisão indica uma primeira grande mudança do grupo editorial desde que Rodrigo Lacerda assumiu o cargo de editor-executivo, em janeiro, substituindo Carlos Andreazza.

Ao jornal O Globo, Lacerda disse que "o posicionamento do Olavo hoje é de uma convivência péssima com as vozes discordantes, para dizer o mínimo", apontando que a editora zela pela pluralidade de vozes e espera que seus autores façam o mesmo.

Andreazza estava na casa desde 2012 e foi o responsável por dar um verniz pop a Olavo de Carvalho e por rechear o catálogo de não ficção de títulos ligados à direita. Fundada nos anos 1940, a editora Record passou a se expandir com diversos selos editoriais a partir da década de 1990, ao adquirir importantes editoras, como a José Olympio e a Bertrand Brasil, e editoras que tradicionalmente publicavam o pensamento da esquerda, como Paz e Terra e a Civilização Brasileira.

Nos anos 2000, a editora passou a dar voz aos insatisfeitos com o governo petista, publicando títulos como "O País dos Petralhas", de Reinaldo Azevedo, e "Lula É Minha Anta", de Diogo Mainardi. Mas foi com Andreazza que o pensamento da nova direita brasileira conseguiu espaço num dos maiores grupos editoriais do país. Sob sua direção foram publicados livros como "Esquerda Caviar", de Rodrigo Constantino, e "Década Perdida", de Marco Antonio Villa.

"O mercado editorial brasileiro ficou cerca de 50 anos formado por uma hegemonia de esquerda, marxista, gramsciana, que não abria espaço ao contraditório", disse Andreazza em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em 2015 sobre o crescimento de publicações de conservadores no Brasil.