BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - O vice-premiê e ministro das Finanças da Alemanha, Olaf Scholz, deve ser confirmado sucessor da primeira-ministra Angela Merkel nesta quarta-feira (24), após três partidos acertarem os detalhes de uma coalizão para governar a maior economia da Europa.

O SPD (Partido Social-Democrata) de Scholz, de centro-esquerda, deve anunciar às 15h do horário local (11h em Brasília) os detalhes de uma rodada final de negociação com parlamentares do Verdes e do FDP (Partido Democrático Liberal).

O acordo deve instalar o primeiro governo de coalizão triplo na Alemanha desde os anos 1950. O principal obstáculo nas negociações foram as discordâncias sobre como financiar a transição para uma economia verde, segundo pessoas envolvidas no acerto.

Segundo a agência de notícias Reuters, as partes envolvidas concordaram em se comprometer com a eliminação do uso de carvão na indústria até 2030 e com o fim da geração de energia a gás até 2040.

Embora os Verdes e o SPD sejam vistos como parceiros naturais dentro da centro-esquerda, o liberais têm histórico fiscal mais agressivo e seu programa está mais próximo do dos conservadores da CDU, partido de Angela Merkel.

Confirmada, a coalizão encerrará os 16 anos do governo de centro-direita liderado por Merkel. No que provavelmente deve ser sua última reunião de gabinete, a primeira-ministra se despediu de colegas nesta quarta e recebeu uma árvore de presente de Scholz, segundo pessoas presentes na reunião.

Scholz deve assumir a Alemanha no pior surto de Covid-19 a atingir o país desde o começo da crise. Além disso, comandará o país mais rico de uma Europa lutando contra as consequências do Brexit e a crise na fronteira com Belarus.

Durante o governo Merkel, o social-democrata acumulou trunfos que o levaram de terceiro na corrida eleitoral a líder do partido mais votado.

Scholz foi o responsável por montar o programa de ajuda contra a crise do coronavírus, que ele apresentou como "a bazuca necessária" para segurar empregos e apoiar empresas: um pacote de 750 bilhões de euros (R$ 4,7 trilhões), calçado em uma dívida de quase 400 bilhões de euros.

Também viu ser aprovada em julho deste ano, na reunião do G20 em Veneza, a proposta de imposto mínimo global, da qual ele era um dos principais articuladores.

Nessa função federal, também não escapou de acusações: é investigado sob suspeita de falhar na fiscalização da financeira Wirecard, que quebrou. Seus índices nas pesquisas eleitorais não se mexeram após o caso, o que levou os jornais a chamá-lo em seus títulos de "candidato Teflon".

Em vez disso, tiveram mais força seu slogan "Scholz resolve" e suas investidas explícitas para se mostrar como o herdeiro do estilo Merkel de governar. Numa delas, posou para uma capa de revista imitando o gesto de mãos em forma de losango que é marca registrada de sua chefe.

De personalidade controlada, antes de ser candidato ele já havia sido apelidado por jornalistas de "Scholz-o-mat", expressão que o identifica com algo tão previsível quanto uma máquina de lavar roupas.

Muitas vezes descrito como "sem carisma" ou "alguém que saiu de um congresso de contadores", transmite mais tranquilidade que tédio, porém, e está longe de ser um tecnocrata obtuso, sem outros interesses.

É apaixonado por literatura e um admirador do romancista austríaco Robert Musil (1880-1942) e dos irmãos alemães Henrich (1851-1950) e Thomas Mann (1875-1955). Costuma acompanhar todas as edições da exposição de arte contemporânea Documenta -que acontece a cada cinco anos na Alemanha- e é aficionado por cinema.