No Guarujá, praias lotadas têm disputa de caixas de som
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domingo, 23 de janeiro de 2022
KLAUS RICHMOND
GUARUJÁ, SP (FOLHAPRESS) - Chamou atenção entre mais de uma centena de guarda-sóis espalhados por um dos movimentados trechos da praia da Enseada, em Guarujá, no litoral sul paulista, um raro registro de um grande grupo de pessoas sem a presença de uma caixa de som potente ligada.
Diferente de quase todos ao redor, a analista financeira Isabelle Medeiros, 27, tinha o item de 20 watts de potência pendurado --quase esquecido-- em uma das hastes do guarda-sol alugado.
"Não queremos ligar, mas imagino que vamos ter que fazer porque é tanto barulho [de outras caixas] que fica insuportável. Digo que é a farofa da música", disse Isabelle à Folha. "Fica pior mais tarde, principalmente depois que bebem", completa
Acompanhada de amigos e familiares, todos vindos de São Paulo, o grupo de oito pessoas foi só um dos que lotou no sábado (22) a praia mais movimentada do município carregando um cooler com bebidas e, principalmente, aparelhada de som debaixo de calor escaldante.
A poucos metros deles, por exemplo, era possível ouvir a voz do cantor Gusttavo Lima misturado à da dupla sertaneja Milionário e José Rico.
"Meu bem como é maravilhoso sonhar com você", cantava alto a empresária Daniella Chelinho, 40, apontando para o marido Amarildo Mariano Veronez, 53.
A declaração de amor, na verdade, é a reprodução de um trecho da música "Sonhei com você", uma das mais populares de autoria dos cantores.
O grupo de 14 pessoas chegou na última sexta (21) de Cuiabá para passar cinco dias na praia. Os estilos são variados entre rasqueado, pagode e sertanejo. "Só não pode ter funk", diz ela aos risos.
As caixas vão desde modelos mais compactos a outros robustos, amplificadas por mais de 550 watts de potência e acompanhadas de carrinho para transporte.
Na lista de artistas preferidos do músico Michael Ferreira, 28, estão Jorge e Matheus, Marília Mendonça e Gusttavo Lima. Ele diz nunca ter ouvido reclamações de vizinhos de guarda-sóis. "Na sexta, nos pediram até para ficar, estavam gostando muito do som", diz Ferreira, de Campinas.
Situação completamente oposta viveu o comerciante Hueslel Rodrigues, 23, de Guarulhos, que recorda ter recebido de uma pessoa um pedido para baixar o som enquanto ouvia Wesley Safadão.
Em todo o período na praia, a Folha não registrou fiscalização ou ouviu relato de ação por parte do município.
Ambulantes foram figuras constantes oferecendo caixas de som que iam de R$ 70 a R$ 150, com três tamanhos diferentes. Nos melhores dias, vendem seis delas. Outros também ofertam roupas.
Segundo o inciso quarto do artigo 100-A do Código de Posturas Municipal "é proibido o uso de equipamentos sonoros, caixas de som e instrumentos de percussão na faixa arenosa, jardins e calçadões". A infração pode resultar em orientações ou até mesmo multas.
Em nota, o município diz que, desde o início da operação verão do governo estadual, o maior número de ocorrências refere-se ao som abusivo em praias como Guaiúba, Tombo, Astúrias, Pernambuco e Enseada, com maiores incidências e onde foram apreendidos dois equipamentos.
De 18 de dezembro a 1º de janeiro, a fiscalização apontou 4.577 irregularidades, sendo 1.690 por esse motivo. Ao receber a denúncia, a fiscalização orienta o responsável a recolher o som. Só há apreensão em caso de reincidência.

