BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Dois líderes da principal federação empresarial da Nicarágua foram detidos nesta quinta-feira (21), a pouco mais de duas semanas das eleições presidenciais --que devem garantir o quarto mandato para o ditador Daniel Ortega, 75, no poder desde 2007. Nos últimos quatro meses, 39 líderes políticos foram presos no país.

Os detidos desta quinta são Michael Healy e Álvaro Vargas, presidente e vice-presidente do Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep), maior entidade empresarial do país, que reúne quase 30 associações. Segundo a polícia, eles são investigados por crime de lavagem de dinheiro, bens e ativos.

Em nota, a corporação afirmou que os dois responderão por "realizar atos que comprometem a independência, a soberania e a autodeterminação; incitar a ingerência estrangeira nos assuntos internos; solicitar intervenções militares e se organizar com financiamento de potências estrangeiras para realizar atos de terrorismo".

Como resposta, a Cosep escreveu em sua conta no Twitter que as prisões "violam os direitos individuais estabelecidos na Constituição e os direitos humanos reconhecidos pelos tratados internacionais assinados pela Nicarágua". A entidade termina o texto pedindo "paz e estabilidade".

Ainda de acordo com a instituição empresarial, Healy foi preso pouco depois de deixar o Ministério Público, onde teria sido convocado para um depoimento que não ocorreu e seria remarcado.

Ao sair do local, jornalistas perguntaram ao empresário se temia ser preso, ao que ele respondeu com uma negativa. Ao entrar em seu veículo, Healy foi seguido por policiais armados em duas motocicletas e detido posteriormente.

Em julho, o ex-presidente da Cosep, José Aguerri, também foi preso pelas forças policiais da ditadura. O Ministério Público o acusa de "conspiração para minar a soberania do país".

Com Healy e Vargas, são 39 as pessoas levadas à cadeia nos últimos quatro meses, incluindo sete candidatos à Presidência, líderes políticos e sociais, empresários e jornalistas. Em agosto, o diretor do jornal nicaraguense La Prensa, Juan Lorenzo Holmann, foi detido por suposta lavagem de dinheiro.

O mesmo se deu com Cristiana Chamorro, vice-presidente da Prensa e pré-candidata à Presidência.

As prisões desta quarta ocorrem um dia depois de o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) exigir a "libertação imediata" dos opositores detidos. O grupo discutiu a situação política da Nicarágua em uma sessão em Washington.

No encontro, foi aprovada uma resolução expressando "graves preocupações" em torno das eleições presidenciais do próximo dia 7. No documento, a organização repudia o que chama de "detenções arbitrárias" de dirigentes políticos, defensores de direitos humanos, empresários, jornalistas e líderes camponeses e estudantis.

Por fim, os membros da OEA destacam que as últimas ações da ditadura, que incluem a inabilitação de partidos contrários ao regime, eliminam as opções para candidaturas de oposição. O documento foi aprovado por 26 membros, enquanto 7 se abstiveram --a organização não divulgou os votos por Estado. Representantes da Nicarágua não compareceram.

Outras entidades da comunidade internacional vêm condenando violações de direitos humanos na Nicarágua.

A Anistia Internacional considerou que o regime de Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, "não apenas não dá ouvidos à comunidade internacional, mas também a desafia com novas violações".

O Departamento de Estado americano recentemente chamou as detenções de "campanha contínua de terror" e disse que os EUA vão usar todas as ferramentas diplomáticas e econômicas disponíveis para promover eleições justas.

Indagado em agosto, durante entrevista a uma emissora mexicana, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aconselhou Ortega a "não abrir mão" da democracia. A fala se deu em meio à pressão internacional para que Lula e seu partido aumentem as críticas contra as ditaduras da Nicarágua e da Venezuela.

"Se eu pudesse dar um conselho ao Daniel Ortega, daria a ele e a qualquer outro presidente. Não abra mão da democracia. Não deixe de defender a liberdade de imprensa, de comunicação, de expressão, porque isso é o que favorece a democracia", disse.