Nicarágua corta relações com Taiwan, que agora é reconhecida só por 14 Estados
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quinta-feira, 09 de dezembro de 2021
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Taiwan perdeu nesta quinta-feira (9) um dos poucos países que reconheciam a ilha como um país. Em meio ao aumento das tensões com os Estados Unidos, a Nicarágua anunciou que deixa o seleto grupo de 15 Estados que têm relações diplomáticas plenas com Taiwan e vai passar a reconhecer o Partido Comunista da China como o governo legítimo do país asiático.
Agora, só mantêm relações diplomáticas plenas com o governo em Taiwan a Suazilândia, na África; Ilhas Marshall, Nauru, Palau e Tuvalu, na Oceania; Belize, Guatemala, Haiti, Honduras, Paraguai, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas, nas Américas; e o Vaticano.
"A República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China, e Taiwan é parte inalienável do território chinês", disse o Ministério das Relações Exteriores da Nicarágua em comunicado. "O governo da República da Nicarágua hoje rompe relações diplomáticas com Taiwan e cessa qualquer contato ou relacionamento oficial", afirmou o regime comandado pelo ditador Daniel Ortega.
O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan lamentou a decisão e disse que o país "sempre foi um amigo leal e confiável da Nicarágua" e que a ilha tem direito de manter relações diplomáticas com outros países.
A questão é complexa e remonta à ascensão do Partido Comunista, que governa a China continental desde 1949, quando fundou a República Popular da China, após vencer a guerra civil contra o Kuomintang (Partido Nacionalista Chinês). Derrotados, os nacionalistas fugiram para Taiwan e a questão até hoje nunca foi de fato resolvida: oficialmente, o governo taiwanês ainda se refere a si mesmo como República da China e como o detentor legítimo do comando do país asiático.
Mas a maior parte do mundo vê de outra forma. Desde 1971 a ONU reconhece a República Popular da China como a representante legítima do país, o que desencadeou uma série de legitimações pelo mundo dentro da doutrina diplomática conhecida como "uma só China", que diz que só há um governo legítimo na China e que ou os países mantêm relações com o Partido Comunista ou mantêm com o governo de Taiwan.
O Brasil, por exemplo, tem relações oficiais com a República Popular da China, comandada pelo Partido Comunista Chinês, desde 1974. Mesmo os Estados Unidos, principais adversários da China no cenário global, mantêm desde 1979 relações oficiais, ainda que tensas, apenas com o Partido Comunista Chinês.
Apesar do reconhecimento geral da República Popular da China como a representante legítima do país, há escritórios de Taiwan espalhados por todo o mundo, como no Brasil, que atuam como embaixadas e consulados não oficiais e representam os interesses do governo.
Taiwan vinha reclamando que o Partido Comunista Chinês pressiona os poucos países que reconhecem o governo da ilha para mudar esse entendimento, como o Paraguai, que recebeu ofertas de vacinas contra a Covid-19 produzidas pela China.
A presidente eleita em Honduras, Xiomara Castro, de esquerda, também chegou a falar em romper com Taiwan e reconhecer apenas o governo comunista.
Pequim e Taipé estão em um dos momentos mais tensos da história recente, com o regime liderado por Xi Jinping repetindo que pretende anexar a ilha, que hoje tem na prática um governo independente. Os Estados Unidos se colocam ao lado dos taiwaneses, e o assessor de segurança nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan, disse na última terça (7) que o país "vai tomar todas as medidas possíveis, tanto dissuasivas como diplomáticas" para assegurar que essa invasão nunca ocorra.
A postura do governo americano também está por trás da mudança de estratégia da Nicarágua. Isto porque o governo Biden tem avançado sobre a ditadura de Ortega, reeleito para o quarto mandato em um pleito com a maior parte dos adversários presos. Nesta quinta, a subsecretária de Estado dos EUA, Emily Mendrala, afirmou que o país vai usar "todas as ferramentas" para promover a democracia no país da América Central, inclusive "sanções a quem participa de ações antidemocráticas do regime" de Ortega.

