DUBAI, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (FOLHAPRESS) - A diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, desenhou o tamanho da surpresa com o cenário negativo para a economia mundial na recuperação após o pico da pandemia de Covid.

"Esperávamos que a economia crescesse e que a inflação baixasse. Conseguimos o exato contrário", afirmou ela durante o World Government Summit, encontro anual realizado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. "Não sabíamos que as cadeias produtivas estavam tão frágeis."

A expectativa por um ciclo mais longo de juros baixos acabou abandonada quando o FMI se deu conta do tamanho do problema inflacionário.

"Nossas políticas não estão escritas em pedra. Elas refletem as condições que vemos", afirmou Georgieva, acrescentando que, em retrospectiva, a reação poderia ter sido diferente no ano passado.

Ainda assim, a economista elogiou as ações de bancos centrais de todo o mundo no início da pandemia. "Previmos no começo de 2020 que a economia mundial cairia 10%, o que significa depressão", disse. "E isso não ocorreu, porque os bancos centrais deram suporte."

Para 2022, a previsão do fundo, anunciada antes de estourar a guerra na Ucrânia, era que a economia mundial crescesse 4,4% neste ano, o que representa uma desaceleração em relação ao ano passado.

O foco do FMI agora é fornecer dinheiro barato em empréstimos de longo prazo para países de baixa renda e alto endividamento, sobretudo os que dependem sobremaneira da importação de alimentos, como Egito e Líbano.

"Eu vivi a inflação alta na Bulgária [seu país natal]. A poupança da minha mãe evaporou-se em 48 horas. Conheço a dor que está sendo sentida em países onde a comida está se tornando escassa", afirmou, dizendo-se comprometida com uma solução que dilua a tensão após o conflito militar. "Sei o quanto uma guerra fria reduz o potencial do mundo."

Ela lembrou que o FMI destinou US$ 650 bilhões no ano passado aos chamados special drawing rights, reserva artificial de moeda criada e mantida pelo órgão para ser usada em socorro de seus integrantes. O fundo agora está pedindo contribuições adicionais de seus membros por conta do cenário da guerra. O efeito contaminante do conflito, disse ela, "espalha-se para longe e rapidamente."

Georgieva mencionou também aí a Bulgária, antigo satélite soviético. "Meu país natal é dependente de gás da Rússia. A inflação está subindo, as pessoas estão ansiosas, e há temor de que a guerra se espalhe."

Ao ser entrevistada no palco, Georgieva passou por uma situação comum a outros palestrantes do evento: foi cobrada por um jornalista norte-americano para punir a Rússia de acordo com a capacidade do órgão que representa. No caso dela, o autor da indagação assertiva foi Richard Quest, da CNN. Ela esquivou-se, dizendo que isso depende de uma decisão dos membros do fundo.

O jornalista Roberto Dias viajou a convite da Agência de Notícias dos Emirados Árabes Unidos