SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O escultor Gilmar Pinna, 64, é um homem hiperbólico. Com ele, nada é pouco. Suas obras de aço pesam toneladas e medem dezenas de metros de altura. O advogado que o representa é "um dos maiores do mundo". E a exposição que está em construção em sua oficina, em Guarulhos, na Grande São Paulo, está orçada em "cerca de dez Ferraris".

Pinna faz esculturas desde os dez anos. No início, participava de competições de obras de areia na Ilhabela, litoral paulista, onde nasceu. Mas sempre teve uma predileção por Jesus. Enquanto os colegas faziam peixes, sereias e barcos de areia, ele construía a imagem de Jesus Cristo.

"Ele é meu ídolo, é o cara que eu amo de paixão", diz Pinna, que afirma que seu livro de cabeceira, é claro, é a Bíblia. Mesmo assim, ele afirma que sua obra não é ligada à religião: "Eu só falo de um cara que veio à Terra falar de amor".

O escultor já usou os mais variados materiais para suas obras, como cobre, vidro e ferro, até se firmar no aço. Hoje, suas peças gigantescas costumam ser comparadas com outros símbolos ao redor do mundo.

Uma de suas obras, do apóstolo São Paulo, deve medir 56 metros -a obra ainda não está aberta ao público e a expectativa é que seja instalada na represa de Guarapiranga. A da Nossa Senhora, que será instalada em Aparecida, no interior de São Paulo, foi projetada em 50 metros, maior que o Cristo Redentor.

Porém, o artista rejeita a comparação. "Eu nem sabia o tamanho do Cristo. Parece bairrismo isso", diz ele. "O Cristo é a sétima maravilha do mundo, não tem porque falar dele. É algo completamente diferente."

Pinna afirma que suas obras precisam ser grandes. "Na praça pública tem que colocar grande. Senão, as pessoas vão passar de carro e não vão enxergar. Vou colocar anão de jardim na praça? Não dá, né?", diz. Ele afirma que a Nossa Senhora representa "a mulher que sofre."

A montagem da imagem religiosa estava barrada desde 2019 pela Justiça, após a Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) ingressar com uma ação questionando o uso de recursos públicos na obra e a suposta doação de áreas do município para a construção de monumentos religiosos.

Agora, o Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou a construção da estátua de Nossa Senhora, pondo fim ao impasse.

Atualmente, as peças que futuramente darão vida à imagem da padroeira do Brasil estão em um terreno público.

Devido ao tempo e ao vandalismo, elas necessitam de revitalização, segundo a prefeitura. Além disso, será necessário uma parceria com a iniciativa privada para a retomada do projeto.

Pinna diz que ficou triste com a situação, mas resolveu entrar no processo para defender a obra que foi doada por ele para a cidade de Aparecida. "Foi uma pancada, senti na pele. Eu podia ter pego a santa, desmontado e colocado no ferro-velho. Ao menos, pagaria parte do dinheiro que gastei, mas eu quis provar que não tem dinheiro público naquilo."

A estátua de Nossa Senhora foi doada pelo escultor, em comemoração aos 300 anos que a imagem foi encontrada, no rio Paraíba do Sul.

Em 2017, a gestão Geraldo Alckmin repassou R$ 379 mil ao município, via Secretaria do Turismo. Da verba, R$ 250 mil foram pagos a Pinna por cinco esculturas que representam milagres de Nossa Senhora Aparecida, instaladas em rotatórias da cidade. O restante foi usado para revitalização e reforma dos espaços.

Pinna diz que sua principal fonte de renda são as prefeituras, como Ilhabela e Praia Grande, que alugam suas obras para serem expostas em praças públicas ao longo do ano.

Ele, que costuma fazer doações, afirma que os negócios estão escassos. "A pandemia, somada à guerra na Ucrânia, tornou tudo muito caro. Não tenho dinheiro para doar mais nada neste momento, talvez mais para a frente."

No momento, ele afirma que está concentrado em terminar uma exposição na sua oficina em Guarulhos. "Estou construindo a história de Jesus. Eu vou evangelizando pela escultura", diz.

Sua rotina consiste em ficar dentro da oficina, trabalhando por horas a fio ao lado de funcionários, que ele traz do Norte e Nordeste do Brasil. Pinna não revela quanto recebem, mas afirma que é o bastante para bancarem suas famílias.

Ele rejeita a pecha de artista, diz que não é representado por nenhuma galeria e que não tem colegas da área. Mas admite que suas obras são polêmicas. "Trabalho em cima de Jesus Cristo. Não é mole mexer com a fera. É coroa de espinho mesmo."

Sobre críticas em relação a sua obra, ele diz que é algo normal e não está "nem aí".

"O que não entendo é o cara falar de arte se ele não entende", diz ele. "Se procura beleza, encontra-se. É só querer achar. Minha intenção é levar uma mensagem legal com meu trabalho, mas não dá para agradar todo mundo. Se eu alegrar algumas, já estou feliz."