SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A restauração das fachadas do Museu do Ipiranga foi concluída recentemente, encerrando mais uma etapa nas obras de ampliação, reforma e restauro do edifício-monumento, iniciadas em 2019.

Com a reinauguração prevista para setembro, quando será celebrado o bicentenário da Independência do Brasil, o museu monumento pode agora, enfim, "respirar".

Isso porque, pela primeira vez em sua história, o restauro de suas fachadas envolveu as etapas de limpeza e decapagem (em que se removeram todas as camadas de tinta aplicadas anteriormente), bem como a pintura feita com tinta mineral, compatível com a estrutura do museu, de argamassa de cal.

As obras de restauro das fachadas, que têm 7.600 metros quadrados, área equivalente a seis piscinas olímpicas, começaram em fevereiro de 2020 e envolveram 54 profissionais entre restauradores, pedreiros, pintores e estucadores (responsáveis pela aplicação da argamassa).

Antes de iniciar a restauração, foi feito o que os especialistas chamam de "mapeamento de patologias", com análises em laboratório das argamassas utilizadas na construção. "Depois, nós procuramos a cal certa, verificando a compatibilidade de cada material", explica a diretora de obras, Maria Aparecida Soukef Nasser.

Após esses estudos, as obras de restauro começaram com a etapa da lavagem, feita com uma máquina de pressão controlada, que lança água para remover as tintas anteriores.

"No meu entender, a lavagem e a decapagem são o maior ganho dessa restauração feita no Ipiranga", diz Marcelo Sancho, assessor em restauro da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp). "Pela primeira vez, chegou-se à argamassa pigmentada original, removendo todas as outras. Como essa camada original já teve muitas perdas, foi feita a recomposição geral da fachada com a argamassa de cal", explica.

Essa recomposição utilizou o traço de argamassa (a composição volumétrica do material) 3 para 1: três partes de areia e uma parte de cal hidratada. Este traço é comum na arquitetura eclética da época da construção do Museu do Ipiranga e, por isso, "esse é o material básico de toda a restauração", diz Sancho.

Depois da decapagem e da limpeza, começou a etapa da "demolição cuidadosa", em que são removidas todas as partes frágeis, podres ou que estavam se desprendendo. Tudo é removido, recuperado e aspirado antes de voltar ao local original.

Nesse momento também foi feita a abertura de todas as trincas nas fachadas, que são tratadas com injeção de resina e com grampeamentos, com uso de grampos de aço inox.

Só depois de todos esses processos que começou o que Sancho chama de "restauração efetiva", quando a argamassa é aplicada. "Se um ponto tem uma perda muito grande, começa-se o preenchimento com uma areia de granulometria um pouco mais grossa, até chegar em um reboco fino, a areia que dá esse aspecto que todos já podem apreciar, de acabamento da fachada."

Weneilson Santos do Carmo, encarregado da restauração, destaca a quantidade de ornamentos nas fachadas do Museu do Ipiranga, que têm mais superfícies ornamentadas do que lisas.

"O museu se diferencia pelos detalhes, são muitos. E é o que mais me chama a atenção. Estes elementos que estão ali para enfeitar", os ornatos, explica o restaurador, são delicados, de difícil restauro e exigem equipe qualificada. "Mas é um ofício que todos que aprenderam podem agora sentir orgulho ao olhar a fachada do Museu do Ipiranga e pensar que participaram desse trabalho."

A última etapa do restauro, a pintura, é apontada por Sancho como outro grande ganho desta restauração, pois foi feita "com a tinta apropriada, a tinta mineral, como a boa prática indica".

Tanto Sancho quanto Nasser afirmam que, em obras anteriores, foi aplicada a tinta acrílica, o que prejudicou as fachadas do museu por não ser compatível com a argamassa de cal que o compõe.

"A cal é um material que está sempre trocando com o ambiente e precisa respirar. Aplicando a tinta acrílica, quebra-se esse processo. A tinta mineral permite que a cal respire", diz o assessor de restauro.

Em outras palavras, a tinta acrílica "sufocava" o museu, enquanto a tinta mineral é absorvida pela argamassa de cal e lhe dá fôlego, evitando a retenção de umidade e problemas de condensação.

O tom da tinta foi escolhido a partir dos processos de limpeza e decapagem, que revelam as pigmentações usadas no passado. Os diferentes matizes foram indicando a coloração da argamassa pigmentada original.

Com uma cartela de cores e testes ampliados, feitos por uma equipe multidisciplinar de projetistas e restauradores, foi escolhido o tom mais próximo possível do original.