Mulheres do MBL criticam Arthur do Val e sofrem ataques machistas
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terça-feira, 08 de março de 2022
ARTUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mulheres do MBL (Movimento Brasil Livre) criticam as frases sexistas do deputado estadual Arthur do Val (Podemos), o Mamãe Falei, condenam o que chamam de linchamento virtual e atuam para diminuir o estrago ao grupo. Ao mesmo tempo, porém, viraram alvo de ataques machistas.
O movimento se preparava para neste ano ganhar espaço entre a direita moderada e agora se viu envolvido na crise gerada pelos áudios sexistas de Arthur, que, em viagem à Ucrânia, disse que as mulheres daquele país "são fáceis, porque são pobres".
O MBL Mulher reúne cerca de 200 integrantes do grupo, que tentará nestas eleições trazer maior representatividade feminina em posições de destaque.
Entre as participantes do grupo, houve muita cobrança externa para se pronunciarem sobre o tema. Em alguns casos, isso se reverteu em ataques machistas e de cunho sexual.
Uma das porta-vozes do MBL Mulher e aposta do movimento como pré-candidata a deputada estadual em São Paulo, Amanda Vettorazzo diz que o grupo não "passará pano" para Arthur, mas defende a atuação dele antes do episódio.
"Ele errou e errou feio", diz Amanda. "Principalmente quando fala que são pobres e fáceis."
A pré-candidata gravou um vídeo que foi publicado em seu perfil ressaltando que o deputado nunca foi machista em sua convivência dentro do movimento. À Folha ela afirmou que não há machismo dentro do MBL.
"Nunca sofri, zero machismo, zero assédio. A política é um ambiente ruim para mulher, mas dentro do MBL me sinto em um ambiente seguro", diz.
Questionada sobre a falta de mulheres em posição de destaque no MBL, Amanda disse que isso não acontece exclusivamente no movimento e que a presença feminina é menor na direita devido às pautas que defendem, entre outros motivos.
Amanda ainda criticou o uso do caso para atacar as mulheres. A Folha de S.Paulo teve acesso a algumas das mensagens com ataques de cunho sexual a Amanda.
"É uma hipocrisia. Se eles dizem que o Arthur foi machista e estão defendendo as mulheres, eles vêm no perfil de uma mulher, que não falou nada, com mensagem de baixo, baixo, baixo calão. A gente vê que na verdade estão se apropriando de uma narrativa para destruir o Arthur", disse.
Outra integrante do MBL Mulher e vice na chapa de Arthur à Prefeitura de São Paulo em 2020, Adeilaide Oliveira publicou vídeo nesta segunda-feira (7) com teor similar ao de Amanda.
"Antes de qualquer coisa, quero repudiar veementemente o que foi dito nos áudios. Foi um comportamento absurdo, execrável, que envergonha até quem ouve quanto mais quem fala.
"Foram falas sexistas e machistas que humilham e ofendem todas as mulheres", disse, acrescentando que esse tipo de comportamento tem que ser eliminado da sociedade.
Adelaide afirmou, porém, que sempre teve tratamento respeitoso por parte de Arthur.
"O Arthur é jovem, tem idade dos meus filhos, mas errou feio, teve um comportamento infantil e reprovável. Eu espero que o que ele está passando neste momento, e as consequências que virão, que isso possa promover nele a mudança que ele precisa".
Adelaide também citou linchamento virtual. "Condenar o erro, ok. Destruir uma pessoa, não. As pessoas não são descartáveis".
Os posicionamentos de Adelaide e Amanda foram compartilhados pelo MBL Mulher. As falas, porém, não são corroboradas por todas -houve quem apenas criticasse o cancelamento do deputado, mas com condenação às falas.
Em geral, porém, os membros do movimento que têm se manifestado têm seguido o roteiro de primeiro criticar os áudios e, depois, apontar hipocrisia ou superdimensionamento do caso.
Entre os líderes masculinos, o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), por exemplo, foi um dos que postaram vídeos condenando as falas, mas dizendo que o deputado está sendo crucificado.
"O que o Arthur disse nos áudios é repugnante, inaceitável, injustificável. Dito isso, a crucificação que está sendo feita com o Arthur é completamente desproporcional à realidade política que a gente vive no nosso país", disse Kim Kataguiri, em publicação.
"Por que eu estou dizendo isso? Porque o senador que foi pego com dinheiro na bunda continua sendo senador"
Rubinho Nunes (Podemos), vereador paulistano que o MBL quer emplacar no lugar de Arthur como candidato ao governo, não quis falar com a reportagem sobre o assunto.
Já Renan Santos, que viajou com Arthur, postou um longo vídeo com trechos da viagem. No movimento, há um esforço grande para ressaltar que, apesar dos áudios, a incursão dos dois pelo território em guerra trouxe benefícios aos ucranianos, por meio de doações.