RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Uma mulher de Ribeirão Preto, no interior paulista, está há seis meses com um pedaço de pano dentro do corpo depois de fazer uma cesárea na rede estadual de saúde.

A dona de casa de 34 anos acusa a equipe da Mater (Centro de Referência da Saúde da Mulher de Ribeirão Preto), maternidade gerida pelo estado, de ter deixado o tecido em seu intestino após parto feito em setembro.

Com febre e fortes dores abdominais, a mulher começou a eliminar parte do pano na noite do último dia 11. Ao procurar a emergência da instituição, uma médica teria tentado remover o material manualmente, mas foi preciso encaminhar a paciente para exames e procedimentos sob anestesia no Hospital das Clínicas.

A paciente registrou boletim de ocorrência no dia 15. Seu marido disse que está em busca de um advogado que aceite acionar judicialmente a maternidade.

O delegado responsável pela denúncia civil, Ricardo Turra, não pôde comentar a situação, mas a Central de Polícia Judiciária Integrada afirmou que a investigação se houve erro da equipe de saúde está em andamento.

A Mater, por meio de nota da Secretaria de Estado da Saúde, disse que abriu sindicância "para apurar todos os detalhes da assistência prestada à paciente" e que "tomará as providências cabíveis se constatada qualquer falha assistencial."

A instituição acrescentou que "a paciente foi prontamente acolhida por equipe multidisciplinar" e continua "recebendo cuidados."

O laudo do HC entregue à família confirma que a paciente foi admitida no departamento de ginecologia e obstetrícia do hospital por "suspeita de corpo estranho se exteriorizando pelo ânus."

A tomografia feita na região do abdômen e da pelve indicou "sinais de extenso processo inflamatório" no reto com suspeita de perfuração e sugestão de "dilatação tubária." O exame proctológico e a anuscopia foram feitas sob anestesia e a paciente foi liberada em seguida por estar em bom estado clínico.

"Eles extraíram, mas ficou um pedaço dentro dela. Os médicos não tiraram o pano todo. Parece que grudou na parede intestinal dela, furou, mas o próprio organismo tampou", contou o marido da paciente.

O casal tem cinco filhas; uma de 12 anos, uma de 9, uma de 5, uma de 3 e a bebê de 6 meses que nasceu em 30 de setembro na Mater. "Não foi a primeira cesárea dela. E antes ela não sentia dor. Começou dia 19 de janeiro e a dor de verdade veio agora no dia 11 [de março]", afirmou o marido.

No pós-parto da caçula, a equipe da Mater não teria solicitado nenhum exame, segundo ele, e apenas receitou o uso de dipirona, medicamento para dor.

Quando uma ponta do tecido foi expelida em março e ficou presa para fora do corpo da mulher é que o casal procurou a maternidade novamente, mas a médica não conseguiu remover o objeto. Eles chegaram às 13h ao hospital; a transferência para o HC aconteceu à noite.

O HC confirmou a alta da paciente, mas declarou que devido ao "sigilo dos dados médicos de seus pacientes" não pode comentar "casos específicos, mesmo se judicializados". Afirmou ainda que "as informações pertinentes" serão prestadas "às autoridades competentes, quando assim demandado".

Em nota, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) disse "que, até o momento, não foi notificado oficialmente sobre o caso", mas que uma denúncia pode ser feita pessoalmente na sede do conselho (rua Frei Caneca, 1.282, Consolação) ou nas delegacias regionais e ainda pelo correio, desde que não seja anônima.

Ainda segundo o Cremesp, ao abrir a sindicância ou processo ético-profissional, o órgão elabora uma rigorosa investigação e, se constatado o erro médico, o profissional poderá responder por infração médica. Também pode sofrer diversas sanções, que vão desde "advertência, censura confidencial, censura pública, suspensão do exercício profissional parcial até cassação do exercício profissional".

A investigação analisa prontuários, solicitações de pareceres de câmaras técnicas de especialidades médicas, manifestação dos envolvidos e análise de documentos relativos à queixa apresentada.