SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ministério Público do estado de São Paulo designou o promotor do júri Fernando Bolque para acompanhar as investigações da morte de Ilana Kalil, mulher do médico Renato Kalil.

Ela foi encontrada morta em casa na segunda (14). O caso foi registrado como suicídio, e os detalhes estão sendo preservados.

Aos 40 anos, Ilana era nutricionista de formação e instrumentadora cirúrgica. Depois que o marido foi denunciado por violência obstétrica pela influenciadora digital Shantal Verdellho, Ilana chegou a defendê-lo nas redes sociais.

De acordo com integrantes do MPE, é comum a designação de um promotor para acompanhar casos sensíveis como este.

O Ministério Público de São Paulo e os hospitais paulistanos Rede D'Or São Luiz e Albert Einstein estão investigando as denúncias contra o obstetra. Um processo tramita sob sigilo no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

Considerado referência na obstetrícia brasileira e famoso por fazer partos de celebridades, Kalil nega as acusações, que vieram à tona em dezembro do ano passado.

Na ocasião, áudios e vídeos circularam na internet com frases desrespeitosas atribuídas ao médico e pronunciadas durante o parto da filha da influenciadora Shantal Verdelho, primeira mulher a acusar Kalil.

A denúncia foi feita após áudios privados da influenciadora sobre o médico terem se tornado públicos.

"Ele [Kalil] me xinga o trabalho de parto inteiro. Ele fala 'p*rra, faz força, filha da mãe, viadinha, ela não faz força direito'. [...] Tem vídeo dele me rasgando com a mão, era só para eu ficar arrebentada e falar 'ah, você tinha razão, eu deveria ter feito a episiotomia'."

A episiotomia é um procedimento cirúrgico feito no períneo para facilitar o parto, pois aumenta a abertura vaginal para a saída do bebê.

Em outra mensagem, a influenciadora diz: "Ele chamou meu marido e falou: 'Olha aqui, toda arrebentada. Vou ter que dar um monte de pontos na perereca dela'. Ele falava de um jeito como 'olha aí, onde você faz sexo, tá tudo f*dido'".

Trechos do vídeo do parto feitos por Mateus Verdelho, em que o médico aparece proferindo xingamentos a ela, foram divulgados posteriormente. À polícia Verdelho explicou por que não reagiu aos xingamentos de Kalil na hora do parto da filha.

Shantal também afirma que Kalil receitou a ela o medicamento Misoprostol para induzir o parto. Ele é contraindicado para pacientes que já tenham feito cesárea, caso da influenciadora.

A defesa do médico tem afirmado que que o parto de Shantal ocorreu sem qualquer intercorrência e que as condutas do profissional sempre foram pautadas "pelas boas práticas", seguindo integralmente protocolos técnicos vigentes.

No registro em áudio, a influencer conta que, ao assistir ao registro do parto, feito pelo marido, Matheus Verdelho, viu que o médico a xingava sistematicamente. "É muito palavrão e xingamento o tempo inteiro", diz ela.

O vazamento e a repercussão do caso levaram outras mulheres a se pronunciarem sobre episódios inadequados, machistas ou de assédio moral que teriam sido protagonizados por Kalil.