SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A previsão maior de participantes e as exigências da segurança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fizeram os organizadores da "motociata" marcada para este sábado (12) em São Paulo mudarem o plano do evento.

Ela agora terminará junto ao obelisco do Ibirapuera, uma área aberta, e não mais na avenida Paulista, que é considerada muito estreita, como originalmente previsto. O início será às 10h no cruzamento das avenidas Braz Leme e Santos Dumont, no bairro de Santana, na zona norte da cidade.

"Teremos uma concentração já na madrugada, de gente que quer ficar mais perto do presidente", disse Jackson Vilar, um dos organizadores do evento, que foi batizado de "Acelera Para Cristo" e terá um ato religioso no seu final.

Há quase 400 mil interessados cadastrados, afirma Vilar, comerciante na região do Capão Redondo. "Tem gente vindo de vários estados e do interior de São Paulo, centenas de clubes de motos", afirma.

Mesmo que só uma fração compareça, a expectativa é de que seja um evento maior do que "motociatas" similares que ocorreram no último mês em Brasília e no Rio.

Na quinta (10), os organizadores tiveram uma reunião com a Polícia Militar para acertar detalhes do trajeto e as condições de segurança. Antes, já haviam conversado também com representantes do Exército na cidade.

O itinerário exato não está sendo divulgado por questões de segurança, mas a previsão é de que totalize cerca de 120 km, passando por diferentes pontos da cidade e de cidades do entorno, e termine no início da tarde junto ao obelisco, onde haverá um carro de som.

"Chegando lá faremos uma oração e um agradecimento a Deus, e teremos algumas falas. O presidente Bolsonaro ainda não nos informou se vai querer subir no caminhão, mas será muito bem-vindo se assim decidir", declarou Vilar.

Saindo de Santana, a "motociata" deve seguir pela marginal Tietê e continuar até o quilômetro 62 da Rodovia dos Bandeirantes. No retorno, passará pela marginal Pinheiros, seguindo até a ponte Engenheiro Ary Torres e, dali, seguirá pelas avenidas dos Bandeirantes e Rubem Berta, encerrando próximo ao parque Ibirapuera.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que haverá um efetivo de mais 6.300 policiais a postos. O policiamento será reforçado em toda a capital, na região metropolitana e na rodovia dos Bandeirantes. Também os pontos de concentração e dispersão terão patrulhamento ampliado.

Para tanto, a polícia diz que contará com diferentes batalhões, com cerca de 2.100 viaturas, cinco aeronaves e dez drones. A operação também contará com apoio de CET, Guarda Civil Metropolitana e concessionária AutoBAn.

Na reunião com a PM, foram estabelecidas algumas regras: as motos deverão estar todas emplacadas e não poderão trafegar a mais de 40 km/h. Será proibido empinar o veículo, e todos deverão usar capacete e máscaras.

"Estamos no meio de uma pandemia, e não queremos que ninguém fale mal do nosso evento por falta de máscara", diz Vilar. Ele afirmou, porém, que os organizadores não têm como forçar Bolsonaro a usar a proteção facial, e que essa decisão compete a ele.

No evento do Rio de Janeiro, no mês passado, o presidente discursou sem máscara de cima de um caminhão, tendo a seu lado o general da ativa e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o que gerou uma crise com o Exército.

O Ministério Público de São Paulo diz que acompanhará a forma como o evento vai respeitar os protocolos sanitários do estado contra a Covid-19, e não descarta entrar com alguma ação contra os organizadores.

Autoridades estaduais passaram a semana se preparando para um cenário de travamento do trânsito na cidade de São Paulo durante todo o período da manhã e boa parte da tarde. A preocupação é ainda maior com possíveis prejuízos econômicos, uma vez que é Dia dos Namorados, terceira data mais importante do ano para o comércio.

Em tese, Bolsonaro e os participantes que não usarem máscara também poderão ser autuados pelo governo do estado, como já fez o Maranhão, em evento recente. A possibilidade de que isso aconteça, segundo a Folha apurou junto a aliados do governador João Doria (PSDB), é muito alta.

O evento vinha sendo pensado há cerca de um mês com proporções bem mais modestas, organizado por um grupo de comerciantes, com Vilar à frente, e de igrejas evangélicas do estado.

Mas o ato cresceu muito desde que Bolsonaro confirmou participação, o que inclusive começou a incomodar alguns representantes de associações de motociclistas, que dizem que o evento foi "sequestrado" por líderes religiosos sem relação com o universo motoqueiro.

Em parte, a ideia é compensar o cancelamento presencial do maior evento evangélico do país, a Marcha Para Jesus, por causa da pandemia. A marcha costuma ocorrer em junho.

O presidente tem no meio evangélico uma base de seguidores fiel, embora a última pesquisa Datafolha tenha apontado um empate técnico com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no apoio dado por este segmento.

Mais recentemente, Bolsonaro passou a receber também o apoio de muitos motociclistas, que se organizam no Brasil em clubes de aficionados pelas duas rodas. Grande parte deles associa o presidente, que é motociclista amador, à defesa da liberdade.

Bolsonaro também promoveu a redução do valor do seguro obrigatório e acenou com a isenção de pedágio em estradas federais para os motociclistas.

Após a "motociata" deste sábado, outras devem acontecer pelo Brasil nos próximos meses. A ideia de apoiadores de Bolsonaro é transformar as imagens do presidente, cercado por uma multidão sobre duas rodas, no equivalente de 2022 das enormes concentrações em aeroportos pelo país de sua vitoriosa campanha de 2018.