BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Secretário-geral da Câmara dos Deputados por 25 anos e braço direito na área legislativa de 12 presidentes da Casa, Mozart Vianna de Paiva morreu nesta segunda (7), aos 70 anos, em Brasília. A família não divulgou a causa da morte.

Mozart foi peça importante na estrutura de comando da Câmara, desde a época da Constituinte de 1988 até 2015, quando deixou a função. Ligado a políticos como Ulysses Guimarães (1916-1992), Aécio Neves (PSDB) e Michel Temer (MDB), tinha profundo conhecimento do regimento interno da Casa e era bastante querido pelo corpo técnico que chefiou de 1991 a 2015.

Além de demonstrar extremo zelo pela confiabilidade dos dados que administrava e pelo cumprimento das regras legislativas, tinha como característica atender de forma ágil, não importava a hora do dia e mesmo em fins de semana, às constantes demandas por informações das dezenas de jornalistas que fazem a cobertura diária da Câmara.

Prática que se manteve mesmo depois que ele deixou o cargo e passou a ser fonte de consulta de vários jornalistas que continuaram o procurando devido à sua experiência e conhecimento técnico.

"Era uma pessoa excepcional, um profissional exemplar, com uma longa ficha de trabalho prestado à Câmara. Um amigo, com um coração enorme. E tinha uma paciência de Jó para ouvir as pessoas, mesmo nos momentos mais atribulados", lembra Francisco da Silva Cardozo, conhecido na Câmara apenas como Chico, ex-colega de trabalho e um de seus amigos mais próximos.

Natural de Corinto, no interior de Minas Gerais, Mozart morou dos 10 aos 18 anos em um internato franciscano em Santos Dumont (MG), na Serra da Mantiqueira, antes de se mudar para Brasília.

"Saí do seminário porque precisei ajudar a família. Eu tinha vocação, queria ser padre, sim; não saí por falta de vocação. Deixei o seminário e vim enfrentar a luta", disse no depoimento que prestou ao projeto "História Oral da Constituinte 1987-1988".

Em Brasília, começou a trabalhar na Câmara em 1976 como assistente legislativo.

A partir da Constituinte seu trabalho ganhou projeção, o que o levou para o comando da Secretaria-Geral da Mesa, que é a responsável pela coordenação da área legislativa da Casa, em 1991.

Nos 25 anos em que comandou a secretaria-geral, Mozart passou a ser figura fácil ao lado dos presidentes da Câmara, nas sessões deliberativas. Ficava em pé, ao lado deles, soprando fora do microfone orientações sobre, à luz do regimento, qual deveria ser a decisão a ser tomada nas muitas vezes acaloradas sessões de votação da Câmara.

Mozart deixou a Câmara pela primeira vez em 2011 para assessorar Aécio Neves no Senado. Mas voltou novamente à função da chefia legislativa da Casa pouco depois, com Henrique Eduardo Alves (MDB-RN). Em 2015, na gestão de Eduardo Cunha (MDB-RJ), aposentou-se da Câmara.

Ele teve breve passagem pelo setor de relações institucionais da TV Globo em Brasília e, depois, como assessor da Presidência da República, na gestão Temer (2016-2018), sua última atividade profissional.

No seu depoimento à Câmara, foi-lhe pedida uma avaliação sobre seu trabalho.

"Não gosto de avaliar a mim mesmo. Sempre digo que quando é para avaliar o meu trabalho aqui é sobre o que eu fiz e o que eu fiz com outras pessoas, e não fiz só."

Mais adiante, acrescentou: "Eu amo a Câmara. Esta será sempre a minha Casa".

Mozart deixa mulher, Áurea, e quatro filhos, Marcelo Diego, Thiago e Danielle.

Atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) afirmou, nas redes sociais, que, em nome dos funcionários da Casa, lamentava a morte "do mais longínquo e respeitado secretário-geral da Mesa, notadamente um dos maiores conhecedores do regimento interno".

"Acabo de ser avisado do falecimento do meu amigo Mozart Vianna. Como Secretário-Geral da Câmara dos Deputados, dr. Mozart prestou relevantes serviços a mim, ao Congresso Nacional e ao Brasil", escreveu Michel Temer, também nas redes sociais.