BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-juiz Sergio Moro rebateu nesta terça-feira (15) declarações do governador João Doria (PSDB) sobre os impactos do caso Arthur do Val em sua candidatura presidencial e falou em um pacto de não agressão entre os candidatos da chamada terceira via.

Ele não detalhou como seria esse acordo, mas disse que a intenção é unir forças contra os "reais adversários" na corrida pelo Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em entrevista divulgada na noite de segunda (14), Doria, pré-candidato do PSDB à Presidência, afirmou que a repercussão dos áudios sexistas de Arthur do Val sobre mulheres ucranianas "fragilizou" a candidatura de Moro. O deputado, que tinha sua candidatura ao Governo de São Paulo apoiada pelo ex-juiz, desistiu da campanha e saiu do Podemos depois do escândalo.

Nesta terça, Moro rebateu a afirmação de Doria. "Não creio. Esse episódio foi lamentável, eu manifestei de pronto meu repúdio àquelas declarações inaceitáveis, o deputado se afastou tanto da construção da candidatura dele como também do próprio MBL e do Podemos. Não vejo como isso possa sinceramente afetar nada", disse.

Em relação às negociações na terceira via, o ex-juiz disse que "existe algo que é bastante claro que temos pelo menos um pacto para saber que os reais adversários são os extremos e não as demais candidaturas de centro".

Questionado, Moro não quis dar detalhes sobre esse acordo, dizendo, inclusive, que ele ainda estaria em montagem. "Esse pacto está sendo construído, não está definido, não tenho como te responder", afirmou.

A declaração foi dada em entrevista à imprensa após dois compromissos em Brasília, um com o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras e outro com representantes do Fórum Nacional de Filantropia.

Ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, Moro também se mostrou favorável ao projeto que libera a mineração em terras indígenas, desde que haja autorização expressa das populações tradicionais.

"Tem que respeitar principalmente a autonomia do povo indígena afetado. Tem que haver a concordância", afirmou.

Ele defendeu que sejam nomeadas mais mulheres para chefiar ministérios do governo federal, mas não se comprometeu em indicar um patamar mínimo de ministras em sua gestão, caso vença as eleições deste ano.

Além disso, o pré-candidato a presidente pelo Podemos voltou a afirmar que o Judiciário tem dado decisões que ajudam no retrocesso da agenda de combate à corrupção, que é uma de suas principais plataformas de campanha.

Em relação às negociações para firmar coligação com outros partidos, o ex-ministro disse acreditar que as articulações vão começar a evoluir em abril, após o fim da janela partidária.

"Como está nesse período de transferência [de deputados entre as legendas], o foco dos partidos tem sido formar as bancadas nos estados, mas existem discussões sendo realizadas em termos de alianças", disse.

Ele afirmou que ainda está otimista em relação à possibilidade de se unir com políticos que também se lançaram como pré-candidatos neste ano.

"Há uma conversa no sentido de ter uma candidatura única entre vários partidos. Não sabemos se isso vai evoluir, mas há uma expectativa de que sim, se possa ter a construção de uma candidatura única de centro contra os extremos políticos", disse.