CONSELHEIRO LAFAIETE, MG (FOLHAPRESS) - Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, mesmo faltando cerca de dez dias para o fim do mês, Minas Gerais já registrou o mês de setembro com maior número de incêndios florestais desde 2011.

Até essa segunda-feira (20), foram detectados por satélites 4.723 focos no estado. Em 2011, foram contabilizados 5.930 focos durante todo o mês. A média mensal para setembro em Minas é de 3.301 focos.

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, foram registradas, até a última quarta (15), 2.099 ocorrências atendidas pela instituição no estado.

No comparativo dos dados dos bombeiros de janeiro a agosto, houve um aumento de 35% de registros em relação ao ano passado, em todo o estado. Na região metropolitana de Belo Horizonte, esse crescimento foi de 75%.

Na segunda, um incêndio atingiu o parque estadual do Itacolomi, em Ouro Preto, a cerca de 100 km de Belo Horizonte. Segundo o Corpo de Bombeiros, a equipe atuou no local durante todo o dia para controlar as chamas. Os focos foram debelados por volta das 22h e a área segue sendo monitorada por brigadistas.

De acordo com o professor Fillipe Tamiozzo, coordenador do laboratório de incêndios florestais e conservação da natureza do departamento de engenharia florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), alguns fatores que contribuem para os incêndios florestais nessa época do ano são a baixa umidade relativa do ar, a redução das chuvas e as altas temperaturas.

"Durante a estação seca, diminui muito a quantidade de umidade disponível para os organismos vivos, entre eles as formações vegetais. A umidade menor no seu interior facilita que ocorra o processo de combustão. Quando o combustível está úmido é necessária uma energia para secar e depois para dar início ao processo de combustão. Quando esse combustível está seco, como nessa época do ano, não precisa dessa quantidade de energia tão grande, então é mais fácil ter essas ocorrências", explica o professor.

Segundo ele, a estação seca em Minas Gerais é mais severa nos meses de agosto e setembro, mas pode se prolongar até a segunda quinzena de outubro, dependendo do ano.

No Brasil, segundo Tamiozzo, a grande maioria dos incêndios é provocada pelos seres humanos, seja com objetivo de limpeza de terreno, ou mesmo para causar danos intencionalmente.

"Todas as queimas para limpeza têm que ser autorizadas pelo órgão ambiental, em Minas Gerais o IEF [Instituto Estadual de Florestas]. Mas quando o órgão aprova, o requisitante tem que levar em consideração a época que vai colocar fogo. Essa época atual, por exemplo, não é adequada. Muitas pessoas fazem na clandestinidade, não têm técnicas seguras para utilização do fogo, fazem fora da época correta e essa queima se transforma num incêndio."

Outra força que ajuda auxilia nos combates aos incêndios florestais no estado são as brigadas, muitas vezes ligadas a empresas privadas ou grupos de voluntários.

Na cidade de Ouro Branco, na região central do estado, a brigada comunitária Carcará atuou no combate às chamas que atingiram a serra de Ouro Branco em dois períodos nesse mês, primeiro entre os dias 7 e 12 e, novamente, em uma ação que durou da última sexta (17) até segunda.

Segundo Bruna D'Ângela, presidente da brigada, existem diversos fatores que dificultam o trabalho dos brigadistas. "Os combates são muito cansativos, porque é um local com muita pedra, de difícil locomoção, muito calor, que aumenta com o calor das chamas. Outra dificuldade é o vento, que pode fazer o fogo ir para o lado do brigadista, o que é muito perigoso."

A brigada trabalha em parceria com o IEF e conta com equipamentos doados e ajuda de voluntários. "Os chicotes e abafadores nós mesmos que fabricamos, com resto de câmara de ar de pneu de caminhão e mangueiras de borracha. Nós temos também uma bomba costal, e pegamos emprestado um soprador, que é muito eficiente e agiliza muito o combate", diz ela.