SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mesmo após a máscara deixar de ser obrigatória em espaços abertos em São Paulo, há ainda quem use a proteção facial pelas ruas da capital. Medo da pandemia de Covid-19 e receio do surgimento de uma nova variante do coronavírus estão entre os motivos citados para não abandonar o equipamento.

Além disso, quem possui comorbidade diz se sentir mais seguro com a proteção --médicos também recomendam o uso contínuo para essa parcela da população.

O equipamento deixou de ser obrigatório em áreas externas do estado nesta quarta-feira (9), após anúncio do governador João Doria (PSDB). O decreto com as novas regras foi publicado no mesmo dia em edição extra do Diário Oficial.

O uso ainda é exigido em ambientes fechados --a liberação total no estado poderá ocorrer até o final deste mês, segundo o governador. Nas escolas, a utilização não é mais exigida em ambientes abertos como quadras esportivas e pátio. Nas salas de aula, porém, ainda é item obrigatório.

A medida é válida para os 645 municípios do estado, independentemente do nível de imunização em crianças e adolescentes em cada cidade.

A vendedora Marislane Ribeiro, 34, que caminhava perto da saída da estação São Bento do metrô, no centro da capital, afirmou já ter tomado as três doses de vacina contra a Covid-19. Porém, ainda tem medo de abandonar o item.

"Acho que o vírus pode ter mais uma variante", disse ela. "Além disso, estou fazendo um tratamento contra um tumor, então é ainda mais importante eu me resguardar."

Nas proximidades de onde a vendedora passava, pessoas com a proteção facial se mesclavam com as que já aposentaram a proteção ao ar livre. No vale do Anhangabaú, alguns poucos skatistas desafiavam manobras sob o sol escaldante desta quinta-feira (10).

Entre eles, estava o assistente administrativo Thiago Rosa, 40. "Aqui, vou continuar de máscara porque o pessoal vem, cumprimenta e nunca se sabe o que pode acontecer."

Em lugares vazios, no entanto, ele disse não ver problema em abandonar a máscara. "Não tem tanta gente por aqui e acho tranquilo não usar. Mas, onde tem um certo tumulto, acho necessário."

No parque Augusta, também no centro da cidade, frequentadores tomavam sol sem máscara. O aposentado José Acassio, 69, aproveitou a manhã para fazer exercício e era um dos poucos de máscara. "Ainda me sinto inseguro", diz ele. "Acho que é preciso esperar um tempo para a gente voltar à normalidade. Vou continuar usando até a situação se acalmar."

Acassio, que disse ter tido Covid-19, contou que, no prédio onde vive, dois moradores morreram em decorrência do vírus. "Isso me causou muito receio. Preciso continuar me cuidando, porque a proteção é uma prevenção muito boa."

A pesquisadora Meire Waki, 47, afirmou que também pretende continuar usando a máscara. "Prefiro esperar um pouco mais para ver o que vai acontecer", disse ela. A ida de Waki ao parque, nesta quinta-feira, foi o primeiro passeio dela desde o início da pandemia. "Hoje, é meu aniversário e resolvi arejar um pouco."

No entorno do Hospital São Paulo, da Unifesp, na zona sul, a máscara aparecia no rosto da maior parte das pessoas, entre eles os ambulantes que vendem pipoca.

Antes do anúncio de João Doria, a reportagem esteve no parque Ibirapuera, na zona sul, e na rua 25 de Março, no centro, onde havia pessoas com e sem máscara.

No parque, a advogada Bety da Silva, 52, disse que não abandonaria o item de proteção tão cedo e criticou a decisão do governador. "Isso se chama irresponsabilidade social. Muitas pessoas não se vacinaram e tem outras variantes, por isso sou contra o fim do uso em locais públicos", afirmou. "Vou continuar usando e sigo orientando as pessoas a usarem."

Especialistas ouvidos pela reportagem concordaram que o atual momento é ideal para flexibilização da proteção, mas pedem um pouco de calma e orientações sobre locais onde ainda seria importante o uso do item.

Além disso, chamaram a atenção para os idosos e lembram os cuidados que pessoas com sintomas gripais devem continuar a ter, como, além do uso de máscara, evitar contato com outras pessoas.

Em nota, a Associação Médica Brasileira recomendou cautela para a liberação do uso de máscaras, apesar do período de queda da média nacional de casos e de óbitos por Covid-19 e de a circulação do vírus ser menor.

Na avaliação da entidade, é importante que as decisões sejam tomadas com segurança e "que cada estado ou município avalie os seus indicadores epidemiológicos e a sua cobertura vacinal".

O uso obrigatório de máscaras em São Paulo foi instituído em maio de 2020 como forma de combate e prevenção ao coronavírus, sob pena de multa e inclusive prisão. De julho de 2020, quando se encerrou o período de adaptação à norma, a fevereiro deste ano, a Vigilância Sanitária Estadual registrou 10.742 infrações.

Quem descumprir a nova regra, publicada no Diário Oficial na tarde da última quarta-feira (9), ainda poderá ser autuado --a multa prevista é de R$ 552,71.

De acordo com Vacinômetro do governo, até a noite desta quinta-feira, 89,5% de toda a população do estado acima de cinco anos estava com o esquema vacinal completo.