Mesmo antes do fim da obrigatoriedade, parte dos paulistanos já abandona a máscara
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terça-feira, 08 de março de 2022
ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governador João Doria (PSDB) deve acabar com o uso obrigatório de máscara na rua nesta quarta-feira (9) em todo o estado de São Paulo. Porém, mesmo antes de a medida ser anunciada, alguns paulistanos já dispensam o equipamento de segurança na capital.
A reportagem esteve nesta terça-feira (8) em três pontos movimentados da cidade. O roteiro teve início de manhã no parque Ibirapuera, depois percorreu a rua 25 de Março e terminou na avenida Paulista.
Com os termômetros da cidade registrando até 31ºC, as pessoas costumam reclamar que a máscara causa desconforto e ainda mais calor. Também alegam que o uso durante a prática de esportes é incômodo.
No parque da zona oeste, frequentadores aproveitam para fazer exercícios durante a manhã nos dias de semana. A maioria chega com a máscara no rosto, mas logo que a atividade física começa, a proteção é dispensada e levada ao queixo ou pendurada no braço.
A autônoma Franciele Soares, 31, aproveitou a manhã de calor com a família no parque. Ela e sua família não usavam proteção facial.
"Já não vejo ninguém usando também", disse Soares. Segundo ela, independente das medidas anunciadas pelo governador, a família deve manter o uso em lugares fechados. "Em lugares fechados, eu coloco, mas abertos eu já não uso há um bom. É chato [usar]. Já deu disso, tem que liberar mesmo."
Na rua 25 de Março, a maioria dos clientes mantinha a máscara. Porém, muitos ambulantes ignoram o uso. Ivanilde Chagas, 52, diz que, no calor, o item esquenta ainda mais. "É desconfortável demais e eu não sei se a máscara serve para proteger alguma coisa." Ela, que deixou de usar há cerca de seis meses em lugares abertos, só usa quando é exigido.
É o caso também do vendedor João Victor Lopes, 19, sem máscara na rua. Além do calor, ele relata que é difícil falar com os clientes com a proteção. "Sufoca muito", afirmou. "Se olhar na rua, ninguém mais usa máscara. Só no início da pandemia que todo mundo usava. Hoje, é só dentro de estabelecimento ou no ônibus", avalia ele.
A avenida Paulista foi o local em que a reportagem esteve presente e notou o maior número de pessoas com máscaras. Alguns usavam ela incorretamente ou no queixo, mas, mesmo assim, a maioria fazia o uso da proteção facial.
A expectativa é que a máscara só poderá ser tirada em via urbana e ambientes a céu aberto --como área externa de bares e restaurantes, além de parques e praças, por exemplo.
Há impasses ainda em discussão, como a liberação do acessório em áreas abertas de escolas, estações de metrô e terminais rodoviários, onde há aglomerações de pessoas.
A redução da obrigatoriedade de máscara, cujo plano havia sido antecipado pela coluna da Mônica Bergamo, deve acontecer após quedas nas médias móveis de óbitos por Covid-19, desde o final de fevereiro, além do alto índice de população imunizada.
Nesta terça, foram registradas 189 mortes e 12.404 novos casos do vírus. O estado tem 98,86% da população vacinada com pelo menos uma dose e 89,19% com o esquema vacinal completo.
Das 101.165.728 doses aplicadas em São Paulo até esta terça, 21.050.828 são adicionais. As demais são 41,5 milhões para primeira dose, 37,3 milhões para segunda dose e 1,2 milhão para dose única.
Desde maio de 2020 que o uso de máscara em todo o estado de São Paulo tem sido obrigatório como forma de combate e prevenção ao novo coronavírus. Pelo decreto, quem for flagrado sem o acessório poderia sofrer advertência a prisão de até um ano, além do pagamento de multa.
O valor da infração para o cidadão em situação irregular era de R$ 552,71 e, para estabelecimentos comerciais, R$ 5.294,38 para cada frequentador sem a proteção.
No caso de o estabelecimento não apresentar placa, em local visível, com informação sobre a obrigatoriedade também há multa de R$ 1.380,50. A fiscalização da medida é de competência das prefeituras.
Conforme mostrou o jornal Folha de S.Paulo, próximo ao fim da obrigatoriedade, o total de multas por falta de máscara despencou em São Paulo. Os meses de janeiro e fevereiro somaram cerca de 200 autuações a pessoas e estabelecimentos, chegando a 10.742 multas aplicadas ao todo, segundo o governo estadual.
Isso significa que a média mensal fica abaixo da registrada no período entre 1º de julho de 2020, quando começou a regra, e 31 de dezembro do ano passado, que ficava em aproximadamente 585 por mês.
Médico e professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, André Ricardo Ribas Freitas analisa que o controle da pandemia está em estágio avançado e, por isso, não vê como um problema a desobrigação da máscara em lugares abertos.
"Temos uma população vacinada ampla, a linha da variante atual tem causado formas clínicas mais brandas e menos letais", diz que considera ainda que a dispersão de gotículas é maior em ambientes abertos. "Ao liberar você não está proibindo aqueles que querem manter de usar as máscaras."
Freitas, porém, afirma que ainda não é a hora de liberar o uso em lugares fechados, principalmente no transporte público e shoppings. "A dispersão das gotículas é bem menor. Temos que tomar medidas de uma forma controlada", diz.
Ele indica o uso da máscara em lugares abertos para quem estiver incomodado e, principalmente, para portadores de doenças crônicas e quem não pôde se vacinar devido a restrições médicas.
São Paulo não será o pioneiro na desobrigação do uso de máscaras. Outros cinco estados e o Distrito Federal já mudaram as regras.
No Rio de Janeiro, o governo deixou a cargo das prefeituras a decisão até do uso em locais privados. O prefeito Eduardo Paes (PSD) retirou nesta segunda a obrigatoriedade em espaços fechados. O governo de Minas Gerais também deixou a decisão para as prefeituras --Belo Horizonte já retirou a obrigatoriedade para espaços públicos, e também passou a valer nesta terça-feira (8) para Boa Vista.
No Distrito Federal, a autorização para lugares abertos passou a valer nesta segunda (7). Outros estados que permitem andar sem a proteção nas ruas são Mato Grosso do Sul e Maranhão. No Rio Grande do Sul, em caráter liminar, a Justiça suspendeu neste sábado (5) um decreto do governo que desobrigava o uso de máscaras contra Covid-19 para crianças menores de 12 anos.