BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O MEC (Ministério da Educação) demitiu nesta quarta-feira (30) um advogado próximo dos pastores que negociavam liberações em nome da pasta mas que fora empregado pelo ex-ministro Milton Ribeiro desde abril de 2021.

A exoneração de Luciano de Freitas Musse foi assinada por Victor Godoy Veiga, nomeado como ministro interino também nesta quarta.

Musse integrava a comitiva dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura e esteve em ao menos três encontros oficiais com o agora ex-ministro Ribeiro antes de passar a integrar a equipe do MEC. O advogado tinha um cargo de gerente de projetos ligado à secretaria-executiva do MEC, ocupada até ontem por Godoy Veiga.

Apesar de questionamentos da reportagem, o MEC não informou qual era a função de Musse na pasta. O salário dele em fevereiro foi de R$ 10.382,76.

Milton Ribeiro deixou o cargo nesta segunda-feira (28) sob acusações de privilegiar pastores suspeitos de negociar liberações de verbas da pasta em troca de vantagem indevida. A queda do ministro ocorreu uma semana após o jornal Folha de S.Paulo revelar áudio em que o próprio Ribeiro fala em priorizar os amigos do pastor Gilmar e que isso seria um pedido de Bolsonaro.

Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm, ao menos desde janeiro de 2021, negociado com prefeituras a liberação de recursos federais para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia. Essa atuação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Muitas negociações ocorriam em um hotel de Brasília, usado como espécie de QG dos pastores. Luciano Freitas Musse era visto com frequência no local, assim como em um restaurante da capital federal também palco de negociações e pedidos de propina, segundo relatos ouvidos pela reportagem.

Um assessor que trabalha para vários municípios da região norte relatou sob anonimato que, na viagem que o ministro fez a Centro Novo (MA), achou que Luciano Freitas Musse ainda trabalhava para os pastores, e não para o MEC.

O MEC já havia demitido Odimar Barreto dos Santos, pessoa de confiança e pastor na mesma igreja comandada por Milton Ribeiro em Santos (SP). A exoneração de Odimar, que também circulava no hotel e fortalecia o elo entre ministro e os pastores, ocorreu em 19 de março, mesmo dia em que vieram à tona as primeiras informações sobre a relação dos pastores e Milton Ribeiro.

Victor Godoy Veiga permanece como interino no comando do MEC mas há expectativa de que ele permaneça no cargo definitivamente. Ele também se encontrou com os pastores no ministério em ao menos três ocasiões.

Os recursos negociados são geridos pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). O órgão ligado ao MEC é controlado por políticos do centrão.