SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na última quarta (16), o filme "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola", de Danilo Gentilli, acusado pelo secretário especial da Cultura, Mario Frias, de promover a pedofilia, teve sua classificação indicativa alterada de 14 para 18 anos. A polêmica se voltou para uma cena na qual o personagem interpretado por Fábio Porchat pede para que crianças o masturbem.

E, enquanto o governo decide se pode mesmo, ou não, censurar a obra, pedindo que ela seja removida do streaming, outros trabalhos, inclusive televisivos, tiveram suas classificações alteradas durante a gestão Bolsonaro.

Porém, Frias, que estrelou novelas da Globo antes de ingressar na política e agora se insurge contra o filme de Gentilli, também realizou um trabalho no cinema cujo retrato das tradições cristãs talvez não lhe agrade mais hoje.

Lançado em 2004, o curta "Mater Dei" retrata um rapaz que abandona toda a sua vida profissional e amorosa em Roraima para ficar com a avó, prestes a morrer, no Rio de Janeiro. Mas quando Antônio, o protagonista --vivido por Jaime Berenguer--, chega lá, a idosa começa a melhorar já que pode conversar e rezar a Ave-Maria em latim com o neto.

Nisso, o que seria uma estada de poucos dias se estende por semanas. No meio-tempo, o protagonista se encontra com o personagem vivido por Frias, um surfista que quer convencê-lo a ficar no Rio, voltar para uma antiga namorada que o traíra (vivida por Nívea Stelmann, então mulher de Frias) e largar a "indiazinha", "caboclinha muito da gostosa", como enfatiza o personagem.

Pressionado pelo patrão e louco para retornar para sua amada no estado da região Norte, Antônio decide, numa noite, ajoelhar, rezar o credo e depois sufocar a avó com um travesseiro e, assim, se livrar da responsabilidade.

A sequência final, em especial, é toda acompanhada pela oração, estilizada no som, e contrasta o catolicismo exacerbado dos personagens com o fim trágico --mas, da perspectiva de Antônio, feliz. O trabalho está disponível em uma cópia em baixa resolução no YouTube.

Durante a gestão de Frias, ao lado do ex-PM e secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciuncula, o que se viu foi um foco maior em projetos e argumentos religiosos --como o parecer que evocou Deus para ser contrário a um festival de jazz na Bahia--, bem como uma pública admiração de ambos pelo escritor G. K. Chesterton. Morto em 1936, o apologista do catolicismo era uma recomendação constante do guru Olavo de Carvalho.