SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A lista de compras de Marlene Porto, 62, se manteve cheia nos últimos meses. Com uma casa recém-construída em Torres (RS), a aposentada aproveitou boa parte das suas economias para equipar o novo lar. Comprou desde tintas e maçanetas até eletroportáteis e eletrodomésticos –quase tudo online.

"Eu acho muito mais confortável comprar tudo do meu celular", diz Marlene. "Mesmo porque, em boa parte dos casos, a loja física não tem o produto, precisa encomendar no site da empresa. E se você pergunta detalhes para o vendedor, ele também não sabe, vai consultar o manual pela internet. Tudo isso eu posso fazer de casa", afirma a aposentada, que também está bem mais confiante em realizar trocas pela internet.

"Comprei uma torradeira que não gostei e pedi o dinheiro de volta. Também tive problemas com um cooktop, que sempre chegava com a embalagem avariada. Tive que pedir a troca do produto por três vezes e fui atendida".

O exemplo de Marlene Porto ilustra o poder de compra do público com mais de 50 anos na internet. Segundo dados exclusivos da pesquisa Webshoppers, da consultoria NielsenIQ|ebit em parceria com a Bexs Pay, para a reportagem, a faixa daqueles com mais de 50 anos foi a única que cresceu entre os consumidores do comércio eletrônico no ano passado.

Quem tem 50 anos ou mais respondeu por 33,9% dos pedidos online em 2021: foi a primeira vez que essa faixa etária ultrapassou a dos adultos de 35 a 49 anos (33,2%), historicamente o maior público que compra pela internet, segundo a pesquisa da NielsenIQ|ebit, realizada desde 2001.

Segundo o diretor de ecommerce da NielsenIQ|Ebit, Marcelo Osanai, entre os motivos que justificam a maior presença desse público está a tentativa de se proteger da contaminação pelo novo coronavírus, acompanhada de uma desconfiança menor do comércio eletrônico.

"Este consumidor mais maduro está cada vez mais aberto a usar a tecnologia, e os sites também estão mais intuitivos, o que facilita a navegação", diz.

As categorias em que os consumidores mais velhos mais se destacam são construção e ferramentas (51% das compras do segmento foram feitas por quem tem mais de 50 anos), saúde (43%) e eletrodomésticos (42%).

O comércio eletrônico como um todo movimentou R$ 182,7 bilhões no ano passado, um crescimento de 27% sobre os R$ 143,6 bilhões de 2020, segundo a pesquisa. No ano passado, a NielsenIQ|ebit havia informado que as vendas de 2020 somaram R$ 87,4 bilhões, mas a consultoria revisou os dados para incluir o Mercado Livre, a maior varejista da web brasileira.

Apesar de expressiva, a alta de 27% nas vendas online no ano passado representa uma desaceleração em relação ao ano anterior, quando o crescimento havia sido de 41%. Uma reacomodação do comércio eletrônico, após a reabertura das lojas físicas, e uma redução do poder de compra da população explicam a desaceleração, segundo Osanai.

"Para 2022, esperamos um crescimento entre 10% e 20% do comércio eletrônico", diz Osanai. "Além do amadurecimento do canal, existe a inflação que limita o poder de compra."

Em 2021, 12,9 milhões de brasileiros compraram pela primeira vez na internet, elevando o total de consumidores online no país para 87,7 milhões. O meio mais usado para as compras na internet foram celulares, que responderam por 59% dos pedidos e por 52% do faturamento (R$ 95,4 bilhões), uma alta de 32% sobre 2020.

A busca do consumidor pelas pechinchas da internet passa pelo frete grátis: segundo a pesquisa da NielsenIQ|ebit, o número de pedidos sem custo de envio aumentou em 10 pontos percentuais em 2021, chegando a 47% do total.

Do total de 400 milhões de pedidos em 2021, o tíquete-médio geral das vendas ficou em R$ 441, uma alta de 4% sobre 2020, sem descontar a inflação.

A categoria de alimentos e bebidas foi a que mais se destacou em número de pedidos: alta de 107% sobre o ano anterior. "Produtos alimentícios e bebidas têm um valor menor, e por isso a contribuição geral para o faturamento do ecommerce é reduzida, só 2%", diz Osanai.

Por outro lado, as categorias que mais pesam no faturamento de R$ 182,7 bilhões do ano passado são eletrodomésticos (21%), telefonia (20%), casa e decoração (11%) e informática (10%).

No recorte por gênero, o levantamento apontou que os homens responderam por 53,5% do valor das compras, enquanto as mulheres fizeram 57,4% dos pedidos. O tíquete-médio deles é 35% maior que a média de gasto delas: R$ 555 contra R$ 359.

"As mulheres geram mais pedidos, mas com produtos de menor valor e numa maior diversidade de categorias", afirma Osanai. "Elas compram de artigos para bebês a produtos para casa, enquanto os homens adquirem mais eletrônicos e informática, produtos de maior valor agregado", diz.

Na divisão por faixa de renda, os que ganham entre 4 e 10 salários mínimos responderam por 33,2% das vendas totais (alta de 1,7 ponto porcentual sobre 31,5% do ano passado). A participação das demais faixas de renda no bolo total caiu: a fatia dos consumidores que ganham até 4 salários mínimos recuou de 51,9%, para 50,9%, enquanto a participação dos que ganham acima de 10 salários mínimos passou de 16,6%, para 15,9%.