SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O começo do sábado (26) de Lollapalooza Brasil foi de calor forte, atrações brasileiras bem diferentes entre si e, mais uma vez, manifestações políticas contra Jair Bolsonaro e a favor de Lula.

O clima de acirramento no festival chegou até o Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. Mais cedo, o PL, partido do presidente, acionou a entidade contra a organização do festival por suposta propaganda eleitoral irregular em benefício de Lula --a cantora Pabllo foi uma das que tinha se manifestado a favor do candidato do PT no primeiro dia do evento.

A cantora Jup do Bairro foi uma das que ecoou a polarização em seu show. Vestida com um longo vestido preto, ela entrou no palco Onix às 14h45 carregando um buquê de rosas brancas e exibindo um penteado excêntrico que remetia a uma coroa e onde se lia o nome dela.

A artista, que trabalhava ao lado da cantora Linn da Quebrada -a Lina, agora no BBB-, levou ao Lolla o som das guitarras rasgadas e bateria acelerada de seu heavy metal rapper, além das batidas eletrônicas de funk e trap de canções como o hit "All I Need is Love", do disco "Corpo sem Juízo", lançado há dois anos.

Conhecida por letras críticas e questionadoras, que carregam temas como amor, racismo, depressão e transfobia, Jup cantou ao lado do rapper Mulambo, que aproveitou o momento para apresentar pela primeira vez sua música "Ninguém Liga", com lançamento previsto para 5 de abril.

Na metade do show, depois de chorar de emoção, a artista trocou de roupa e surgiu vestindo uma camiseta com o rosto de Miley Cyrus, a headliner do festival neste sábado (26). A frase estampada dizia "Hannah Montana do Bairro", uma referência à personagem Hannah Montana, que a cantora americana interpretou de 2006 a 2011 na série homônima da Disney.

Na onda política de suas músicas, o público puxou um coro celebrando o ex-presidente Lula, do PT. Ao ouvir, Jup fez um "L" com a mão. No fim do show, a cantora ainda disse que "muita coisa vai mudar neste ano" --provavelmente uma referência à possível eleição do petista.

Pouco antes, no palco Onix, a carioca Clarice Falcão também fez referências a políticos. Na parte final de seu show, puxou um coro para Lula e dedicou "Banho de Piscina" ao "nosso futuro ex-presidente" Jair Bolsonaro (PL) --a cantora começa a música dizendo "eu quero ver você numa piscina de óleo fervendo".

Clarice fez um show de stand-up comedy cheio de sintetizadores e letras engraçadinhas. Ela abriu a apresentação com "Dia D", com o público a acompanhando no refrão que repete "hoje eu vou dar".

A carioca também cantou músicas de "Tem Conserto", seu disco mais recente, de 2019, e mais antigas, como "Monomania", primeira música sua a fazer sucesso. Ainda arrancou risadas do público ao arrematar um comentário sobre uma dor de barriga de nervoso que teve antes de entrar no palco com uma música inédita que falava sobre se apaixonar por alguém num banheiro químico.

Quem abriu caminhos para o show de Clarice foram os batuques de candomblé misturados com batidas de funk de MC Tha, que subiu ao palco pouco depois das 13h para fazer um show com letras fortes sob o sol escaldante que cobria o palco Adidas no começo da tarde.

A cantora, que despontou com o funk suave "Bonde da Pantera" em 2017, incluiu no repertório faixas de "Rito de Passá", seu primeiro disco, lançado em 2019.

Vestida toda de vermelho e com óculos espelhados num estilo conhecido como juliet, que ela também usa na capa de seu álbum, Tha saudou orixás e a Cidade Tiradentes, bairro da zona leste de São Paulo onde cresceu.

Ela também cantou uma versão de "Jorge da Capadócia", de Jorge Ben Jor, para homenagear Ogum e São Jorge. Terminou o show com a faixa-título de seu álbum, dizendo, emocionada, que é "uma massa feita de muitas pessoas", incluindo seu público.

Ao mesmo tempo em que Tha cantava, o som indie da banda Terno Rei agitava o público do palco Budweiser. Os paulistanos tocaram canções melódicas como "Dia Lindo", "Yoko", "Solidão de Volta" -do disco "Violeta", de 2019- e "Esperando Você" e "Sorte Ainda". A última é do álbum "Gêmeos", lançado há poucas semanas.

O grupo despontou há algum tempo como um dos nomes de destaque da cena indie nacional e mescla referências que vão do rock à nova MPB.

Mais tarde, às 14h46, o clima ali era mais calmo. Silva --agora bem maior do que era na época do último festival, quando sua apresentação foi cancelada em cima da hora por causa da chuva-- cantou suas brasilidades, convidou Criolo para o palco em "Sopro" e fez covers de Marisa Monte e Caetano Veloso em um Lollapalooza ainda ensolarado, prestes a receber suas atrações mais bombadas do dia.

Desde o começo da tarde, já era possível notar uma grande diferença entre os públicos deste dia e do anterior. O dia mais pop do festival contou com um público bem mais jovem e descolado.