BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta sexta-feira (6) que está com "o botão amarelo" acionado e que não vai aderir a qualquer mobilização para romper com "a independência e harmonia entre os Poderes".

A declaração foi feita durante pronunciamento em que Lira anunciou que levará ao plenário da Câmara a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, uma bandeira do presidente Jair Bolsonaro.

Embora não tenha citado os ataques de Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Lira disse que está atento. "Repito, não contem comigo com qualquer movimento que rompa ou macule a independência e a harmonia entre os Poderes, ainda mais como chefe do Poder que mais representa a vontade do povo brasileiro."

"O botão amarelo continua apertado. Segue com a pressão do meu dedo. Estou atento, 24 horas atento. Todo tempo é tempo", disse o presidente da Câmara. "Mas tenho certeza de que continuarei pelo caminho da institucionalidade, da harmonia entre os Poderes e da defesa da democracia."

É Lira quem tem o poder, como presidente da Câmara, de mandar abrir de forma monocrática um processo de impeachment contra o presidente da República. Hoje, são mais de cem pedidos em análise.

Em março deste ano, Lira fez a primeira menção, mesmo que indireta e sem especificar, à ameaça de impeachment contra o presidente da República, em um momento de crise aguda da pandemia da Covid-19.

"Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar", disse em 24 de março. "Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável."

Ao criticar o atual modelo eleitoral do Brasil --as urnas eletrônicas--, Bolsonaro tem recorrido a uma série de mentiras sobre fraudes. O presidente tem dito que, sem voto auditável, não haverá eleição presidencial em 2022, em arroubos golpistas.

As falas têm também mirado ministros do STF e do TSE. Os alvos de Bolsonaro são Luís Roberto Barroso, presidente da corte eleitoral, e Alexandre de Moraes.

A PEC do voto impresso foi rejeitada nesta quinta-feira (5) na comissão especial responsável por emitir parecer de mérito sobre o tema. Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, Lira mandou recado ao TSE de que a proposta será derrotada pelos deputados.

A interlocutores, nos bastidores, Lira disse que cobrou de Bolsonaro respeito ao resultado do plenário e espera que ele encerre as ameaças com o voto impresso. O presidente teria dito que respeitará a decisão dos deputados.

O texto deve ser votado na próxima terça-feira (10) no plenário, segundo aliados do presidente da Câmara. A tendência, segundo caciques do centrão, é que a matéria seja derrotada.

Pessoas próximas de Lira dizem que a estratégia dele é enterrar o assunto com a rejeição do tema pela maioria dos deputados. Assim, avaliam parlamentares, Bolsonaro, que defende a PEC, ficaria com o discurso esvaziado, pois não haveria mais proposta a ser discutida.

Nas últimas semanas, Bolsonaro provocou uma crise institucional ao afirmar que as eleições de 2022 podem não ocorrer caso não seja adotada uma modalidade de voto confiável --na visão dele, o impresso.

Além disso, disse cogitar não participar das eleições do ano que vem se mantido o sistema atual de urnas eletrônicas.

A bandeira levantada pelo chefe do Executivo é rechaçada pelo TSE e por diversos líderes partidários. De acordo com críticos, o discurso bolsonarista de que as urnas não seriam seguras pode abrir brecha para que Bolsonaro conteste o resultado das eleições, caso não seja reeleito.

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