SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dramaturgo Yunior García, 39, um dos líderes dos protestos em Cuba, desembarcou com a esposa no aeroporto de Barajas, em Madri, na tarde desta quarta-feira (17). A notícia sobre o paradeiro do ativista, procurado por amigos desde a manhã de terça (16), vem dois dias após atos na ilha caribenha serem frustrados pela repressão do regime.

O cubano viajou para a capital espanhola com um visto de turismo, e, de acordo com fontes ouvidas pelo jornal El País, a decisão de deixar a ilha se deve à pressão policial contra o artista nas últimas semanas. Um porta-voz do regime liderado por Miguel Díaz-Canel confirmou que García está na Espanha.

Líder do movimento Archipiélago, que organizou a convocação para uma marcha pacífica contra o regime cubano nesta segunda (15), o ativista planejava fazer um ato sozinho na véspera -ele iria caminhar com uma rosa branca pelas ruas, como forma de demonstrar que os atos eram pacíficos. Mas sua casa na capital Havana foi cercada por agentes e apoiadores do regime, que o impediram de sair.

Os atos de segunda também fracassaram após o regime prender manifestantes e sitiar suas casas, além de fechar o cerco à imprensa profissional. Colegas de García disseram nas redes sociais que não conseguiam falar com ele desde a manhã de terça. O ativista não respondeu a pedidos de comentários feitos pela agência de notícias Reuters.

O regime cubano acusa García de responder a ordens dos Estados Unidos, que há seis décadas impõem um bloqueio econômico à ilha. Em resposta às acusações, o artista afirma que seu único salário, de 4.000 pesos cubanos (R$ 916), vem do próprio Estado, por meio do Conselho Nacional de Artes Cênicas, instituição cultural do país.

Nascido na cidade de Holguín, no leste da ilha, García é conhecido por seu trabalho no teatro e no cinema. Depois de novembro de 2020, quando centenas de artistas se manifestaram na ilha por mais liberdade de expressão, ele se converteu em um representante da nova geração crítica ao regime, que une artistas, jornalistas e acadêmicos.

Mais recentemente, em 11 de julho, quando atos massivos ocuparam as ruas de diferentes províncias do país, o artista também se somou às mobilizações e chegou a ser preso, mas foi liberado um dia depois.

Também nesta quarta, fontes diplomáticas informaram que o regime cubano irá devolver as credenciais de trabalho de mais dois correspondentes da agência espanhola de notícias Efe. No domingo, os seis membros da sucursal do veículo na ilha tiveram suas credenciais retiradas, e, horas depois, duas delas foram devolvidas.

O jornalista independente Abraham Jiménez Enoa, colunista do jornal americano The Washington Post, teve a casa sitiada por policiais no domingo, que afirmaram se tratar de uma prisão domiciliar. Mais cedo nesta quarta, Enoa relatou nas redes sociais que os agentes haviam saído das redondezas e que ele, portanto, poderia sair às ruas.

A ONG local Cubalex reuniu 48 casos em que cubanos denunciam prisões, sitiamento de casas, corte de internet e desaparecimento de ativistas que participariam das manifestações de segunda.