SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos principais líderes da greve de caminhoneiros de 2018, Wanderlei Alves, o Dedeco, diz que o Brasil tem que parar em protesto contra o aumento dos combustíveis divulgado nesta quinta (10) pela Petrobras —de 18,8% para a gasolina, 16,1% para o gás de cozinha e 24,9% para o diesel nas refinarias.

"Os caminhoneiros autônomos e os empresários de transporte têm que se unir e parar o país. Ninguém vai aguentar. As transportadoras que têm 500, mil caminhões, com milhares de funcionários para pagar, vão quebrar", afirma Dedeco.

Em Mato Grosso, onde parou o caminhão que está dirigindo para abastecer e seguir viagem até Presidente Prudente, em São Paulo, ele afirma que pagou R$ 6,8 o litro. "E agora vai para mais de R$ 8", protesta. As altas entram em vigor a partir de sexta-feira (11).

Dedeco afirma que a guerra da Rússia contra a Ucrânia está servindo como "desculpa para enriquecer ainda mais os donos da Petrobras".

"Eles já tiveram um lucro absurdo, doentio com os aumentos mais recentes, e estão ficando milionários às custas da tragédia de todos nós. Só quem está feliz hoje no país são os investidores da Petrobras", segue.

Dedeco afirma que caminhoneiros e transportadoras são os primeiros a sentir o baque, mas logo os preços são repassados e chegam "na gôndola dos supermercados, em todos os produtos", penalizando a população brasileira.

No início do ano passado, Dedeco anunciou ter perdido os três caminhões com os quais trabalhava após atrasar o pagamento de suas parcelas. O episódio fez com que ele abandonasse os 27 anos na estrada e abrisse uma hamburgueria em Curitiba, onde mora.

Atualmente, ele trabalha em uma empresa chamada Framento Transportes de Chapecó.

Filiado ao Podemos, o caminhoneiro chegou a se engajar na pré-campanha à Presidência de Sergio Moro (Podemos), mas rompeu com o ex-ministro e ex-juiz após desentendimento em um grupo de WhatsApp no mês passado.

Nomeado "Apoio ao Sergio Moro", o grupo tem entre seus membros figuras como o ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol (Podemos-PR) e o senador Álvaro Dias (Podemos-PR).

Como mostrou o Painel, Dedeco publicou uma mensagem em que reclamava que Moro participava das conversas, mas que parou de interagir após ter recebido cobranças por propostas direcionadas aos caminhoneiros.

"Estamos aqui igual a um bando de idiotas apostando nele, mas nem responder nossos questionamentos ele não responde", escreveu.

"Já me sinto desanimado com o Moro, percebo que ele não tem coragem nem quer falar sobre a categoria. Parece que somos um bando de leprosos, até hoje não vi ele falar nada em favor de nossa classe. Se não tem simpatia pelos caminhoneiros, não merece os votos de nossas famílias. Sobreviveremos seja qual for o presidente", completou.

Moro então se pronunciou e disse que está em uma correria que mal consegue responder a própria esposa. Ele também afirmou que tem simpatia pelos caminhoneiros e que está preparando as suas propostas para a categoria.

"Não vou fazer como Bolsonaro e Lula e prometer o que não é possível e o que eles não cumprem depois. Se falo que vou fazer X, eu faço, sou uma pessoa de palavra, e meu plano é melhorar a economia para todos, inclusive para caminhoneiros e suas famílias. Se quiser promessas vazias, fique aí com quem quiser", escreveu o ex-juiz.

"Pás [paz] e bem, Wanderlei, vou sair do grupo se é para ser ofendido por você", completou.

Dedeco disse ao Painel que foi então bloqueado por Moro no celular.

Em nota nesta quinta-feira, a Petrobras afirmou que o anúncio vem após 57 dias sem reajustes. Segundo a companhia, esse movimento "vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda".

"Apesar da disparada dos preços do petróleo e seus derivados em todo o mundo, nas últimas semanas, como decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, a Petrobras decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo", disse a estatal.

No caso da gasolina, o preço médio nas refinarias passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro.

Para o diesel, o valor subirá quase R$ 1 por litro, de R$ 3,61 para R$ 4,51.

A Petrobras também anunciou reajuste nos preços do GLP, o gás de cozinha. O preço médio de venda, para as distribuidoras, passará de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo.

Para o diesel, o aumento é ainda maior, de 24,9%. O valor subirá quase R$ 1 por litro, de R$ 3,61 para R$ 4,51.