SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O músico Leandro Lehart deixou a direção do Centro Cultural São Paulo nesta quinta-feira (3), menos de um ano após assumir o cargo. Em publicação nas suas redes sociais, ele escreveu que não estava feliz e que "as condições de trabalho" estavam muito difíceis.

"A falta de diálogo e de um norte claro e ousado foram importantes pra minha decisão", escreveu Lehart.

"Somos construtores de palcos, não somos artistas, essa é uma condição importante pra quem é gestor cultural. Desejo o melhor dos mundos pra este lugar, que aprendi a amar, e a todos que lutam pra mantê-lo vivo. Afinal são 40 anos. Nós humanos pequenos passamos, os deslumbres dos cargos, as retóricas e ambições confusas também passam, mas o CCSP fica", completou o sambista, líder do grupo Art Popular.

Em vídeo, ele disse que o CCSP precisa ser vigiado para que continue de pé.

O sambista foi convidado ao posto em maio do ano passado por Alê Youssef, secretário de Cultura que deixou a gestão Ricardo Nunes (MDB) em agosto, citando "incompatibilidade ideológica" como motivo, como revelou o Painel, da Folha de S.Paulo.

Os objetivos de Lehart, ao assumir o CCSP, eram os de promover o encontro de diferentes vertentes da arte, fazer do lugar uma referência em projetos inovadores e atrair a população para seus amplos espaços de concreto armado -obra dos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles inaugurada em 1982, como ele contou à Folha.

Lehart disse nas últimas semanas a pessoas próximas que não conseguia estabelecer diálogo com Aline Torres, que sucedeu Youssef no cargo, e que se sentia sem respaldo e desrespeitado na função.

No projeto original da prefeitura para as celebrações do centenário da Semana de 1922, o CCSP teria protagonismo, com o sambista à frente. Ele seria o responsável pelo que foi chamado de roda de samba antropofágica, por exemplo, encontros musicais inspirados pelos ideários do modernismo.

Em sua mensagem de despedida, Lehart fez um balanço de sua passagem. Entre outros feitos, ele citou 218 eventos realizados e 548 artistas contratados, além de recordes de inscrições em editais, workshops e festivais de dança, rodas de samba e de choro.

"Você no CCSP foi umas das minhas maiores vitórias como Secretário de Cultura. O que vc conseguiu fazer do ponto de vista concreto e simbólico, são marcos da cultura brasileira. A boa notícia é que seguiremos juntos do lado de fora", escreveu Youssef nos comentários.

A publicação foi apoiada por músicos como Belo, Ivo Meirelles e Helião (do grupo de rap RZO).