SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com 90,04% da apuração oficial concluída no Peru, a candidata direitista Keiko Fujimori, 46, tem 50,35% dos votos contra 49,64% do esquerdista Pedro Castillo, 51. A diferença, que equivale a pouco mais de 114 mil votos, reflete a polarização da cena política peruana enquanto o país escolhe a quinta pessoa a ocupar a Presidência desde 2018.

Os primeiros relatórios da Onpe, órgão eleitoral responsável pela contagem oficial dos votos, contêm os votos das áreas urbanas. O percentual restante, que leva mais tempo para ser analisado, vem das áreas rurais do Peru e dos cidadãos que votam no exterior -redutos que, segundo as pesquisas de intenção de voto, tendem a favorecer Castillo.

Eleitores de Keiko chegaram a cantar vitória quando a Onpe divulgou os primeiros relatórios. Com 42% dos votos apurados, a filha do autocrata Alberto Fujimori, que liderou o país entre 1990 e 2000, saiu na frente com quase seis pontos de vantagem.

Os números provocaram explosões de júbilo em bairros ricos de Lima, onde as pessoas iam às janelas aos gritos de "Viva o Peru!" e "Keiko venceu!". O eleitorado mais conservador teme que o país "caia no comunismo" se Castillo for eleito presidente.

A candidata, no entanto, reagiu com moderação e pediu prudência a seus eleitores devido à pequena margem de diferença. "Aqui não há vencedor nem perdedor. O que se deve buscar é a unidade de todos os peruanos", disse Keiko.

Horas antes, a pesquisa de boca de urna do Instituto Ipsos também dava vitória à direitista --50,3% dos votos contra 49,7% de Castillo. Mais tarde, porém, uma contagem rápida feita pelo mesmo instituto revelou um resultado inverso, com 50,2% para o professor de escolas rurais e 49,8% para a ex-congressista.

Em nota, o partido de Castillo, Peru Libre, definiu como "enganoso" o segundo levantamento do Ipsos, apesar de os números apontarem ligeira vantagem de seu candidato. No comunicado, a legenda pede a revisão das atas de votação sob escrutínio de observadores de ambos os partidos envolvidos na disputa presidencial.

Keiko Fujimori pode acabar sendo a primeira presidente do Peru, objetivo pelo qual trabalha há 15 anos, desde que assumiu a tarefa de reconstruir quase das cinzas o movimento político de direita fundado por seu pai em 1990.

Mas perder nas urnas não significaria apenas sua terceira derrota nas urnas -ela já foi candidata em 2011 e em 2016, perdendo ambas as vezes no segundo turno. Ela também teria que ir a julgamento sob risco de acabar na prisão.

Keiko é investigada pelo caso das contribuições ilegais da empreiteira brasileira Odebrecht, um escândalo que afetou também quatro ex-presidentes peruanos, e já passou 16 meses em prisão preventiva por isso.

Casada e com duas filhas, se vencer, abrirá um precedente ao ser a primeira mulher nas Américas a chegar ao poder seguindo os passos de seu pai, cujo mandato foi marcado por uma série de denúncias de violações de direitos humanos.

Do outro lado está Castillo, que, se obter sucesso, será o primeiro presidente peruano sem vínculos com as elites políticas, econômicas e culturais. Sindicalista e professor do ensino médio, ele ficou conhecido nacionalmente ao liderar greves de docentes, a mais famosa delas em 2017. Ele defende maiores salários aos empregados do setor da educação. Tem um discurso anticorrupção e propõe dissolver o Tribunal Constitucional e a Constituição de 1993 -segundo ele, os responsáveis por permitir práticas irregulares.

O vencedor do pleito deve assumir a Presidência do Peru em 28 de julho. O mandatário ou mandatária precisará assumir as rédeas de um país em crise que já teve quatro líderes diferentes desde 2018.

Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK, renunciou naquele ano acusando a oposição de criar um "clima ingovernável". Seu sucessor, Martín Vizcarra, foi afastado em novembro de 2020 após enfrentar dois processos de impeachment, sob a acusação de recebimento de propina, o que o enquadraria na categoria de "incapacidade moral", impedindo sua continuidade no cargo.

Na sequência, assumiu, por apenas seis dias, o congressista Manuel Merino de Lama, que renunciou depois dos episódios de violência que vieram na esteira da crise institucional. O atual líder do país, Francisco Sagasti, assumiu o governo interinamente, e deve permanecer no cargo até a transição para Keiko ou Castillo.

O Peru também tem a maior taxa de mortalidade do mundo por causa da pandemia de coronavírus, com mais de 185 mil mortes em uma população de 33 milhões de habitantes. No ano passado, a crise da saúde obrigou a economia a ficar semiparalisada por mais de 100 dias, o que levou a uma recessão e uma queda do PIB de 11,12%.