BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), anunciou nesta sexta-feira (25), data em que completa 63 anos, sua renúncia à prefeitura da capital para disputar o Governo de Minas Gerais nas eleições deste ano.

O comunicado foi feito durante a manhã, na prefeitura, depois de reunião de despedida com secretários municipais. Kalil terá como seu principal rival na briga pelo Palácio Tiradentes o governador Romeu Zema (Novo), que busca a reeleição.

O prazo para desincompatibilização de chefes do Poder Executivo que vão disputar as eleições de outubro termina no próximo sábado (2). No lugar de Kalil na prefeitura assume o vice, Fuad Noman (PSD). A posse deverá ocorrer na segunda-feira (28), na Câmara Municipal.

O prefeito deixa o cargo e vai se concentrar no fechamento de sua chapa para a briga pelo Palácio Tiradentes, negociação que tem relação direta com a disputa presidencial.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu o prefeito de Belo Horizonte como seu candidato em Minas, garantindo palanque como candidato ao Palácio do Planalto no estado, o segundo maior colégio eleitoral do país.

A aliança, no entanto, ainda não foi completamente fechada. O PT quer ficar com a vaga para disputa pelo Senado, com o deputado Reginaldo Lopes. O PSD de Kalil, no entanto, também quer a posição na chapa, com o senador Alexandre Silveira (PSD), na busca de sua reeleição.

O impasse prossegue e teve sua mais recente rodada de negociações em jantar na casa do ex-presidente em São Paulo na última segunda-feira (21).

Participaram do encontro, além de Lula e Kalil, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, um dos principais aliados articulador político do ex-presidente em Minas Gerais.

Correligionários dos participantes do encontro disseram não ter ocorrido um acerto e que as conversas continuam. O senador Alexandre Silveira não falou com a reportagem. Reginaldo Lopes não atendeu ligações.

Segundo o presidente do PT em Minas, deputado estadual Cristiano Silveira, Reginaldo só desiste da disputa se houver um pedido pessoal de Lula. "Estamos muito tranquilos para construir um consenso", disse o parlamentar.

FUTEBOL E POLÍTICA

Alexandre Kalil é ex-cartola. Foi presidente do Atlético-MG de 2008 a 2014. Em 2016 se candidatou a prefeito de Belo Horizonte pelo PHS.

Na propaganda política apresentava vídeos em que visitava postos de saúde perguntando para atendentes se faltavam remédios. Dizia ainda que não prometia nada, em contraponto a políticos que prometem tudo, em um estilo "sincerão".

Foi eleito em segundo turno batendo o deputado estadual João Leite (PSDB) à época apoiado pelo ex-cacique político de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), ex-governador do estado, hoje deputado federal.

Depois de migrar para o PSD, Kalil disputou a reeleição em 2020 e venceu em primeiro turno.

O prefeito entrega o mandato com uma de suas principais obras encaminhadas, mas não concluída, a construção do sistema de contenção de enchentes na Avenida Vilarinho, em Venda Nova.

Por outro lado, colocou em funcionamento pleno o Hospital Metropolitano Doutor Célio de Castro, no Barreiro.

A unidade tem capacidade para realizar 1.500 internações por mês, sendo 600 para cirurgias. Pode realizar ainda 8.000 exames de imagem por mês e 75 mil exames laboratoriais.

Últimos dias Kalil deixa a prefeitura em momento de extremo atrito com a câmara dos vereadores. A relação com a Casa foi tranquila no primeiro mandato. "Conseguimos aprovar todos os projetos", disse o líder de governo, Leo Burguês.

O quadro foi mudando aos poucos no segundo mandato e, há aproximadamente duas semanas, chegou ao fundo do poço, por conta de impasse em projeto de lei enviado à Casa pelo governo reduzindo o preço da passagem na capital em R$ 0,20, de R$ 4,50 para R$ 4,30.

O texto foi devolvido para a prefeitura. Kalil atribuiu o ato à proximidade do período eleitoral, e disse que a presidente da Casa, Neli Aquino (Pode), tinha interesses ligados ao governador Zema, e queria ser vice na chapa do governador. A vereadora negou o interesse no cargo.

Caberá agora ao vice-prefeito Fuad Noman azeitar as relações com a câmara. "Estou contando as horas para a saída do Kalil", afirmou um dos principais rivais do prefeito na Casa, Gabriel Azevedo (sem-partido), que chama Kalil de "mandão".

Pela frente Sondagens internas do PT mostram que o aliado Kalil é conhecido e bem avaliado em Belo Horizonte e na Região Metropolitana, um contingente de aproximadamente 4,5 milhões de habitantes.

No interior, no entanto, onde vivem cerca de 16,5 milhões de pessoas, o conhecimento sobre quem é Kalil cai. O prefeito chegou a viajar algumas vezes para o interior para encontros com lideranças.

Já o seu principal rival, Romeu Zema, mantém ao longo do mandato uma extensa agenda de visitas ao interior como governador do estado, com publicação de vídeos e fotos nas redes sociais.

Em entrevista à Folha no final do ano passado, o prefeito de Belo Horizonte afirmou que para governador o estado não era necessário "pedigree".

"Qualquer um que propuser uma esperança e mostrar que sabe fazer está cacifado para ser governador do Estado", disse.