SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A polícia da Nicarágua fez uma busca nesta quarta-feira (2) na casa da opositora Cristiana Chamorro, depois que a Justiça ordenou sua prisão por uma acusação de lavagem de dinheiro apresentada pelo governo de Daniel Ortega. Segundo a imprensa local, cinco horas já se passaram desde o início da operação, mas ainda não há informações sobre a situação da política.

Segundo Arelia Barba, assessora da opositora, os agentes entraram violentamente na residência da opositora, no sudeste de Manágua, onde ela se preparava para dar uma entrevista coletiva após a denúncia apresentada pelo Ministério Público.

Uma pessoa próxima à família da candidata disse à agência de notícias Reuters que Chamorro estava dentro de casa e podia ser presa a qualquer momento.

Amigos e parentes tentaram ir ao local, mas um forte cerco policial e da tropa de choque impediu a entrada deles no local, segundo informações da imprensa local. Imagens em redes sociais e de emissoras de TV locais mostraram a polícia cercando e entrando na casa da opositora. É possível ver também agentes retirando jornalistas que chegavam para fazer a cobertura do caso.

Vice-presidente de um dos maiores jornais do país centro-americano, La Prensa, Chamorro é acusada de gestão abusiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, bens e ativos. A ordem de prisão foi emitida por um juiz de Manágua, após pedido do Ministério Público.

A filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) começou a ser investigada depois que o Ministério do Interior surpreendentemente a acusou por supostas irregularidades na administração da fundação que leva o nome de sua mãe (FVBCH) --a organização se dedica à defesa da liberdade de expressão.

Em 1990, sua mãe Daniel Ortega nas urnas, quando ele tentou a reeleição após o primeiro mandato (1985-1990).

Após dez dias de interrogatórios, o Ministério Público acusou a opositora nesta terça-feira (1º). As medidas solicitadas contra Chamorro incluem "retenção migratória, [...] proibição de comunicação com pessoas vinculadas aos fatos sob investigação, além de inabilitação para cargos públicos, por não estar no pleno gozo de seus direitos civis e políticos por encontrar-se em um processo criminal", afirma um comunicado.

"O que o Ministério Público faz é bárbaro, privá-la de seus direitos civis e políticos, quando apenas apresentam a denúncia", disse a historiadora e ex-guerrilheira Dora María Téllez. Segundo ela, "tecnicamente Chamorro ainda não está inabilitada, mas tem a espada de Dâmocles e a decisão de Ortega de inibi-la".

A secretaria-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) rejeitou nesta quarta que a candidatura política de Chamorro seja desqualificada para as eleições de novembro. "A Nicarágua caminha para as piores eleições possíveis, e este novo ataque à democracia verificado ontem torna ainda mais impossível ter eleições livres, justas e transparentes no país", afirmou o gabinete de Luis Almagro, em comunicado.

"Ações como essa minam toda a credibilidade política do governo e dos organizadores do processo eleitoral", acrescentou.

Em sua defesa, Chamorro afirmou nesta terça ser inocente. "Aqui não foram capazes de provar nenhuma acusação, portanto, podemos disputar cargos eleitorais", afirmou. A candidata considera as acusações uma farsa para retirá-la da disputa eleitoral.

A opositora, que não é filiada a nenhum partido, tem 21% de intenções de voto, atrás apenas de Ortega (30%), segundo uma pesquisa do Instituto Cid Gallup divulgada na semana passada.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, publicou em rede social que o veto à participação de Chamorro mostra que Ortega tem medo de eleições livres. "Os nicaraguenses merecem uma democracia real."

As medidas do Ministério Público afetam outras três pessoas, entre elas a correspondente da rede hispânica Univisión María Lili Delgado, ex-funcionária da fundação, e os jornalistas María Arróliga e Guillermo Medrano, que trabalharam na instituição até seu fechamento recente.

A FVBCH encerrou as operações neste ano depois que uma lei aprovada pelo Congresso de maioria governista intensificou os controles sobre as contribuições que as ONGs recebiam do exterior e para que se declarem agentes estrangeiros. O governo considera as contribuições um risco de interferência na política interna.