SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O juiz Jorge Luiz Martins Alves, da 4ª Vara Cível de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, determinou que o município recolha e incinere uma montanha de roupas e sapatos usados doados às vítimas da tempestade que deixou 233 mortos e quatro desaparecidos na cidade.

As doações foram abandonadas na praça Miguel Couto, no bairro Alto da Serra, e apodreceram. Além das roupas e sapatos, ficaram no local uma tenda e banheiros químicos.

A decisão judicial foi publicada no sábado (19) e a Prefeitura de Petrópolis informou que já recolheu as peças e determinou a reforma da praça, com o objetivo de revitalizar a área. O prazo judicial para a retirada das roupas e sapatos era de cinco horas. A incineração, segundo o juiz, deve ocorrer até o dia 24.

Segundo a Justiça, havia o risco de disseminação de doenças infecciosas caso as peças de vestuário deixadas na praça fossem utilizadas pelas vítimas da tragédia. Em visitas ao local, o juiz constatou a presença de ratos, gatos e baratas no meio de milhares de peças amontoadas no local. As roupas e sapatos também estavam úmidos e com urina de animais.

A Prefeitura de Petrópolis responsabiliza o Governo do Estado pelo abandono das peças na praça. Em nota, a prefeitura informou que o polo de atendimento existente na região foi transferido para o colégio estadual Princesa Isabel, no Quitandinha, e a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social deixou na praça as roupas usadas, uma tenda e banheiros químicos. A tenda foi retirada por funcionários estaduais após determinação da Justiça.

"A prefeitura ressalta que só realiza a doação de roupas novas, em perfeitas condições, fruto de doações da Receita Federal", prossegue a nota. "Esclarece, ainda, que a central de doações administrada pela gestão municipal é o galpão da Tec Auto, em Itaipava, com logística, normas de condicionamento, separação e segurança dos donativos, conforme divulgado diversas vezes".

Segundo informações da administração municipal, a decisão de só aceitar peças novas para as vítimas é baseada na experiência de outras tragédias. Por não aceitar roupas usadas, a prefeitura não possui espaço para receber, organizar e distribuir esse tipo de doação.

Em audiência especial realizada dia 14, no Fórum de Petrópolis, para discutir o destino das peças estragadas, o secretário estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Matheus Quintal, afirmou que a praça Miguel Couto nunca foi utilizada como ponto de coleta e que o Estado não recebeu ou gerenciou doações no local.

Neste domingo (21) voltou a chover forte em Petrópolis e há mortos e desaparecidos. Vídeos feitos por moradores mostram ruas completamente alagadas e enxurradas de água enlameada descendo de morros e arrastando objetos. Segundo a Defesa Civil houve deslizamentos em locais que já haviam sido afetados e estavam interditados.