RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - Jorge Alberto Moreth, apontado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) como um dos principais integrantes do Escritório do Crime, foi condenado a nove anos de prisão por organização criminosa na madrugada desta sexta-feira (19).

Conhecido como Beto Bomba, o miliciano foi presidente da Associação dos Moradores do Rio das Pedras —comunidade na zona oeste do Rio tida como o berço das milícias no Rio. Ele é um dos 13 denunciados à Justiça na primeira fase da Operação Intocáveis, que revelou detalhes da atuação da quadrilha, considerada até então imune às investigações por conta de seu vínculo com policiais civis e militares.

Moreth foi julgado pelo juiz Gustavo Kalil, do 4º Tribunal de Juri do Rio de Janeiro. Além dele, também foi condenado Laerte Silva de Lima, que pegou pena de 7 anos e meio de prisão.

O Escritório do Crime é o nome de um grupo de assassinos de aluguel comandado pelo ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, que tinha como principal reduto o Rio das Pedras.

O ex-agente do Bope (Batalhão de Operações Especiais) ficou um ano foragido até ser morto em uma operação das polícias do Rio de Janeiro e da Bahia no interior baiano. Ele foi um dos focos de investigação do MP-RJ sobre o esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), já que o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) empregou a mãe e a ex-mulher do criminoso.

Responsável, segundo a polícia, por mais de uma dezena de assassinatos encomendados, o grupo chegou a ser investigado no âmbito das apurações da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes —a suspeita de ligação com o crime foi descartada.

Antes de Beto Bomba, outros seis milicianos já tinham sido condenados por conta de ações derivadas da Operação Intocáveis: entre eles estão o major da PM do Rio Ronald Paulo Alves Pereira e o ex-PM Maurício Silva Costa, o Maurição —ambos são apontados como chefes da milícia do Rio das Pedras, ao lado de Adriano.

Beto Bomba ganhou notoriedade após a PGR (Procuradoria-Geral da República) usar o áudio de uma ligação telefônica entre ele e o vereador do Rio Marcello Siciliano (PP), que também foi investigado como possível mandante da morte de Marielle, para embasar a investigação sobre a obstrução à apuração das autoridades fluminenses.

Na conversa, Siciliano —cuja base eleitoral está em áreas comandadas por milicianos na zona oeste da capital— sonda Beto Bomba sobre quem teria de fato encomendado a morte de Marielle. O integrante do Escritório do Crime afirma então que o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) e ex-deputado estadual Domingos Brazão (MDB) pagou R$ 500 mil para que outro membro da quadrilha cometesse o crime. Brazão nega qualquer participação no caso.

Segundo o MP-RJ e a Polícia Civil do Rio, essa hipótese não é corroborada pela investigação, que já dura mais de três anos.

Contudo, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou Brazão e outras quatro pessoas por obstrução da Justiça nas investigações do Caso Marielle.