SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "É uma barbaridade o Brasil perder o protagonismo mundial no campo da economia verde". "A tragédia de Petrópolis tem ligação direta com eventos climáticos." "É inconcebível que o Brasil esteja atrás do Chile e não ofereça a melhor educação pública da América Latina." "Nossa meta é educação forte, indústria forte, país forte." "É um absurdo as pessoas nas ruas vivendo ao relento, não é normal uma cidade de moradores de rua sendo formada ao lado do parque Trianon, na cidade mais rica do país." "O Brasil parou de pensar, de ousar, e se habitou à mediocridade."

As declarações acima não pertencem a um político em ano eleitoral, mas sim a Josué Gomes, novo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que reúne 130 sindicatos do setor industrial, representativos de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Ele assumiu no lugar de Paulo Skaf, que permaneceu 17 anos no cargo.

A despeito de todo o discurso engajado, o filho do ex-vice-presidente José Alencar, que esteve ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos seus dois mandatos (entre os anos de 2003 e 2010), diz que não vai adotar na Fiesp qualquer direcionamento político, e que teve o cuidado de se desfiliar do seu partido, o PMDB, no final do ano passado, antes de assumir o seu mandato, que se encerra em dezembro de 2025.

Nesta quinta (17), Josué, como é conhecido e prefere ser chamado, recebeu jornalistas para expor pela primeira vez as prioridades do seu mandato frente à federação. Questionado pela reportagem se tem simpatia pela candidatura de Lula, o empresário, dono da indústria têxtil Coteminas, esquivou-se da resposta.

"Eu não contribuo em nada dando minha opinião pessoal sobre quem eu prefiro [como candidato à Presidência da República], isso não tem nenhum impacto na minha condição como presidente da Fiesp", diz ele, que já foi apontado nos bastidores como possível vice-presidente de Lula ou até mesmo como o virtual ministro da Economia do petista.

"Alguns acham que, por ter sido candidato ao Senado por Minas Gerais [em 2014, quando perdeu a disputa para o ex-governador Antonio Anastasia, do PSDB], que eu sou político", disse. Segundo ele, a votação que obteve – ficou em segundo na disputa, com 40,2%, contra 56,7% de Anastasia – se deveu à força do nome do pai, José Alencar. "Dizem até que a minha voz é parecida", conta o empresário, que considerou a experiência "maravilhosa". "Papai falava que o melhor da política eram as campanhas, o contato com a população é espetacular".

O empresário é categórico sobre suas ambições políticas: "Não sou candidato nem à reeleição na Fiesp, nem a um cargo público nesses próximos quatro anos", afirmou, defendendo, inclusive, um mandato menor do que quatro anos para a presidência da entidade. "Eu não tenho posição política, minha posição política é a indústria", numa clara mudança de rumos dentro da Fiesp, uma vez que Skaf procurou se aproximar do governo de Jair Bolsonaro.

Segundo ele, a prioridade da Fiesp sob a nova gestão é o apoio à educação, uma "emergência nacional". Outras metas são ajudar as 40 mil pequenas e médias indústrias paulistas a aumentarem a sua produtividade e chegarem ao grau de digitalização, apoiá-las na inovação, e aumentar as exportações de produtos de maior valor agregado, com foco na descarbonização.

A entidade pretende buscar sistemas de financiamento para permitir que as empresas possam aumentar o seu ganho de produtividade, entre 20% e 30%, e com isso bancar o investimento.

"Essas linhas já existem, estão disponíveis. O empresário, coitado, está sem tempo de buscá-las. Está vendendo o almoço, para comprar a janta", afirma.

Para Josué, a expressão "política industrial" já foi muito criticada como sinônimo de protecionismo, mas os empresários não querem isso. "Não é fechamento de mercado ou subsídio. Mas sim um direcionamento do estado para as políticas que fazem sentido, com um estado planejador", diz.

Ele dá como exemplo o setor automobilístico que, há 10 anos, produzia 3,8 milhões de veículos. Agora, a projeção da indústria para 2035 é 4,2 milhões de unidades. "Serão 25 anos sem crescer. Como aceitar isso?", questiona, lembrando o alto peso da carga tributária sobre o automóvel. "Se em vez de oferecer incentivo, o governo tivesse baixado a carga tributária para todo o setor automobilístico, talvez a Ford ainda estivesse aí".

Josué Gomes diz que já está discutindo a questão da reforma tributária com o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas acredita que a mudança não sai nos próximos meses.

Isso porque não existe consenso de propostas nem mesmo entre os empresários. "A gente não pode diminuir a carga tributária da indústria, aumentando a de outro segmento", diz. "O caminho é reduzir a alíquota, para promover um aumento da arrecadação. Temos que convencer a Faria Lima de que isso é possível", diz, referindo-se ao centro do mercado financeiro do país.

De acordo com o executivo, a economista Vanessa Rahal Canado foi contratada como consultora para ajudar a estruturar um consenso de reforma tributária entre os empresários.

"Me parece que a melhor opção [de reforma de tributária] é a adoção do IVA [Imposto sobre Valor Agregado], que todo mundo usa. O que eu não sei se vai funcionar é um IVA com uma única alíquota, que aumente muito a carga tributária do agronegócio, da construção, para diminuir a da indústria. O estado tem que calibrar a alíquota para baixo. Isso vai provocar o aumento da atividade econômica e da arrecadação."

Segundo ele, Paulo Guedes está defendendo o rebaixamento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). "É o melhor caminho? Não necessariamente. Mas eu aprovo. Se houver rebaixe do IPI, o imposto deveria ser eliminado logo".

A reforma tributária é o foco do maior diálogo com o governo federal, mas Josué também defende a reforma administrativa que, segundo ele, não saiu até agora porque "o governo não quer".

Acerca da instabilidade econômica em ano eleitoral, uma vez que empresários falam abertamente sobre ter "um plano Lula e outro Bolsonaro" para 2023, dependendo de quem ganhe as eleições, Josué diz que os temores não fazem sentido.

"O empresário não tem que ter medo de quem vai ganhar a eleição. É preciso confiar na capacidade de escolha do povo brasileiro. O país não vai acabar, vai continuar", diz ele. "As instituições no Brasil são fortes, mesmo que estejam sob ataque".

Sobre o governo de Jair Bolsonaro, diz que ele será lembrado pelos livros de história como um governo que produziu múltiplos ataques às instituições - às urnas, à vacina, à imprensa. "Mas, se ele eventualmente se eleger, torço para que ele faça diferente".