SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dezenas de jornalistas –atuando em veículos como Washington Post, New Yorker e New York Times– publicaram nesta quarta-feira (9) uma carta aberta criticando a cobertura da imprensa americana em Israel e na Palestina. “Temos uma obrigação –que é sagrada– de contar a história da maneira correta. Toda vez em que falhamos em relatar a verdade, falhamos com nosso público, com nossa missão e com o povo palestino”, diz a carta, que foi assinada por dezenas de profissionais.

Uma das críticas mais duras no manifesto é a de que a imprensa não contextualiza de maneira satisfatória as notícias que conta naquela região do mundo. Não deixa claro, diz o texto, o fato de que Israel ocupa militarmente a Cisjordânia desde 1967. Organizações de direitos humanos acusam o país de crimes contra a humanidade, apartheid e supremacia étnica, conceitos que raramente aparecem na mídia.

A carta também critica, nesse sentido, os termos que jornalistas usam na cobertura de eventos em Israel e na Palestina, como no ciclo de violência recente em Jerusalém e na faixa de Gaza. A imprensa repetiu a narrativa israelense de que a crise no bairro palestino de Sheikh Jarrah era uma disputa imobiliária, diz o texto –quando na realidade era uma expulsão forçada de moradores, violando leis internacionais. Outra palavra condenada pelos signatários é “conflito”, porque não evidencia a disparidade de forças entre os atores. Não foi um conflito, dizem, quando as forças israelenses atacaram manifestantes na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. Foi um ataque.

A publicação da carta faz parte de um contexto mais amplo de revisão das atitudes públicas em relação a Israel e à Palestina. Palestinos têm recorrido às redes sociais para criticar a maneira com que a imprensa conta suas histórias. Políticos de renome e celebridades em todo o mundo têm se posicionado, em uma mudança brusca de atitude.

Em um tuíte, uma repórter da Associated Press reforça a excepcionalidade do texto desta semana. “Eu nunca vi uma carta como essa antes”, diz. Em especial, porque os signatários estão cientes do custo pessoal e profissional de colocar seus nomes no manifesto.