SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As intervenções do Banco Central no câmbio nos últimos dias levaram o dólar à sua maior queda frente ao real em duas semanas, fechando nesta sexta-feira (15) com recuo de 1,08%, a R$ 5,4540.

O resultado ocorre em uma semana marcada por ofertas de contratos de swap cambial tradicional, o que levou a divisa americana a acumular baixa semanal de 1,12%. Agora, a alta de outubro é de 0,09%. Neste ano, porém, o dólar ainda sobe 5,10%.

Ainda nesta sexta, ao se referir às pressões externas geradas pela iminente elevação nos juros nos Estados Unidos e Europa em resposta a um processo de inflação global, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que haverá intervenção no câmbio quando houver risco de que a flutuação do dólar afete a inflação.

Assim, além de captar a sinalização de que a autoridade monetária irá corrigir excessos na taxa de câmbio, investidores também se animaram a voltar ao mercado de riscos após um dia de redução do temor de uma crise imobiliária na China e resultados empresariais melhores do que o esperado nos Estados Unidos.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, subiu 1,29%, a 114.647 pontos, maior fechamento desde 15 de setembro. O ganho acumulado da semana foi de 1,6%.

Embora Campos Neto tenha colocado foco nos choques externos ao tratar da atuação do BC no câmbio, analistas consideram que a política monetária aplicada neste momento tem como principal função compensar momentaneamente a percepção de investidores sobre o risco fiscal do país e o cenário político conturbado, que são os principais motivos para a fuga de dólares do país e o consequente desequilíbrio no câmbio. O efeito, porém, deve ser passageiro.

Para Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual digital, a alta do dólar registrada nas últimas semanas não é compatível com os fundamentos econômicos do país, sobretudo em um cenário em que o Banco Central já havia sinalizado para uma expressiva alta na taxa de juros básicos.

Desde março, quando iniciou o ciclo de aperto, o BC já subiu a Selic em 4,25 pontos, ao patamar atual de 6,25% ao ano. Desta forma, mesmo com a perspectiva de elevação dos juros básicos nos Estados Unidos, por exemplo, o investidor já está sendo compensado pelo risco ao manter seus investimentos no Brasil, segundo o analista.

"O primeiro ponto [dos fundamentos econômicos que deveriam atrair dólares para o país] é que tivemos nas últimas semanas um diferencial de alta nos juros importante e, quando isso ocorre, geralmente, há apreciação do real, mas desta vez isso não aconteceu", diz Frasson.

"O segundo ponto é que houve alta das commodities e isso deveria aumentar a oferta de dólar, mas isso não está acontecendo porque o exportador não está trazendo para dentro do país os dólares das suas vendas ao exterior", afirma.

"Não dá para colocar na conta do Banco Central essa desvalorização do câmbio, mas sim nas dificuldades do governo em avançar nas reformas e com a política fiscal", diz o analista do BTG.

A afirmação de que a pressão sobre o câmbio reflete mais riscos internos do que externos pode ser medida pela taxa de retorno do dólar à vista frente a outras moedas de países emergentes.

Em uma cesta com 24 divisas, o real está na 19º posição, figurando entre as moedas com o pior retorno em outubro deste ano, segundo dados da Bloomberg. O real só está à frente do peso argentino, do dólar taiwanês, da rupia indiana, do peso chileno e da lira turca.

Além de refletir riscos, o câmbio também retrata frustração do mercado em relação a reformas esperadas na gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que não avançaram, segundo Zeller Bernardino, especialista em câmbio da Valor Investimentos.

"Os investidores foram se desgastando por não verem resultados e, mesmo as ações tomadas pelo governo, acabaram gerando medidas frustrantes", diz Bernardino.

Entre as principais decepções do mercado, o analista cita a reforma tributária. "Esperava-se uma mudança no sistema de tributação, que o deixasse mais simples e melhorasse o ambiente de negócios, mas o que foi apresentado foi apenas uma proposta de reforma do Imposto de Renda", diz.

EXTERIOR POSITIVO LEVA BOLSA A RETOMAR OS 114 MIL PONTOS

O cenário externo trouxe ânimo aos investimentos no Brasil, principalmente após as altas nas Bolsas dos Estados Unidos, que refletiram o ânimo do mercado com lucros trimestrais dos bancos Goldman Sachs, Citi, Morgan Stanley e Bank of America.

Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq fecharam com altas de 1,09%, 0,75% e 0,50%.

Em outra frente, o banco central chinês afirmou que os riscos para o sistema financeiro decorrentes dos problemas da incorporadora Evergrande não devem se espalhar, tirando momentaneamente do radar o temor de crise nos setores imobiliário e financeiro.

Além disso, ações do varejo doméstico foram em bloco para cima após o GPA anunciar a venda de lojas Extra Hiper para o Assaí, numa revisão de estratégias das empresas controladas pelo francês Casino.

As maiores altas do pregão foram registradas por Pão de Açúcar (11,85%), Americanas (9,18%), BTG (4,92%) e Bradesco (5,24%).

No setor de commodities, a Vale subiu 1,87%. Já as ações da Petrobras fecharam em queda de 0,27%, apesar da alta do petróleo nesta sexta. O barril do Brent subiu 1,02%, a US$ 84,86 (R$ 462,57).