RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Em um cenário de inflação persistente e juros altos, a retomada do mercado de trabalho deve perder fôlego em 2022, dizem analistas.

A expectativa é que a taxa de desemprego continue perto de 11% ao longo deste ano devido à projeção de baixo desempenho da economia brasileira.

Pressão inflacionária e juros elevados dificultam a retomada do PIB (Produto Interno Bruto) e, consequentemente, a geração de empregos. Incertezas da corrida eleitoral também são consideradas ameaças para o mercado de trabalho em 2022.

"Com a inflação persistente e os juros altos, o PIB tende a ficar próximo de 0% neste ano. O mercado de trabalho deve ter um comportamento semelhante, deve andar de lado", avalia o pesquisador Bruno Ottoni, da consultoria IDados.

No quarto trimestre de 2021, a taxa de desemprego foi estimada em 11,1%, apontam dados divulgados nesta quinta-feira (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado significa recuo em relação ao terceiro trimestre do ano passado (12,6%) e a igual intervalo de 2020 (14,2%). Já o número de desempregados caiu para 12 milhões entre outubro e dezembro.

Por ora, a IDados projeta taxa de desocupação de 11,1% no trimestre até dezembro de 2022, mas esse número deve ser levemente revisado para baixo, segundo Ottoni. A LCA Consultores, por sua vez, estima 11%.

"Em 2022, a evolução do mercado de trabalho vai depender muito mais do cenário econômico do que do sanitário. A questão é que o cenário econômico doméstico está deteriorado", analisa o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

"A gente vê riscos de todos os lados. Temos inflação ainda alta e juros elevados. Isso vai fazer com que o mercado de trabalho cresça de forma mais lenta", completa.

O professor de economia Sergio Firpo, do Insper, vai na mesma linha. Segundo ele, a persistência da inflação, os juros mais altos e as incertezas eleitorais desafiam a geração de empregos e a melhora da renda do trabalho no Brasil neste ano.

"O horizonte está atribulado. Juros mais altos dificultam a expansão do emprego. Há uma série de fatores que deve inibir o setor produtivo", comenta.

Ao olhar para o longo prazo, Firpo sublinha que o país precisa buscar avanços na formação dos jovens para o mercado de trabalho, já que essa área foi atingida em cheio pela pandemia.

"É necessário reduzir esse gap [atraso]", diz.

Conforme Imaizumi, ainda é cedo para projetar eventuais impactos no Brasil da guerra entre Rússia e Ucrânia. No momento, o maior risco para a economia nacional é inflacionário, diz ele. O petróleo, que influencia os preços de combustíveis no Brasil, disparou com a tensão entre os dois países.