Indústria inicia 2021 em ritmo mais lento, diz IBGE (2)
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 05 de março de 2021
NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A indústria brasileira entrou 2021 em ritmo lento, com crescimento menos disseminado e menos acentuado do que no fim de 2020. Em janeiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção industrial no país cresceu 0,4% em relação a dezembro.
Foi o nono mês consecutivo de alta após o período mais duro da pandemia, disse o instituto. Mas pela primeira vez nessa sequência, a maior parte das atividades pesquisadas registrou queda em relação ao mês anterior.
Observamos a manutenção do comportamento positivo do setor industrial, mas com desaceleração no seu ritmo no mês de janeiro", disse o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo.
Para especialistas, a desaceleração reflete a ausência de estímulos fiscais e tende a se manter no primeiro trimestre, diante do aumento dos casos de contaminação de Covid-19. A recomposição de estoques após a parada no início da pandemia, que ajudou a indústria em 2020, também deixará de contribuir.
"O forte recrudescimento de casos e o semi-colapso dos sistemas de saúde estaduais por conta da aceleração nas hospitalizações freará a demanda, criando condições mais precárias para uma melhora contínua do setor", disse o economista Alejandro Ortiz Cruce, da Guide Investimentos.
Ele cita que a produção de bens de consumo duráveis permanece sofrendo, enquanto os não duráveis segmento que inclui alimentação, por exemplo têm sentido menos os efeitos da crise. Entre as quatro grandes categorias econômicas pesquisadas pelo IBGE, duas recuaram em janeiro: os bens de consumo duráveis (-0,7%) e os intermediários (-1,3%).
Os bens intermediários são aqueles produtos que abastecem a produção final (como, por exemplo, metalurgia e derivados de petróleo) e tiveram a queda mais acentuada desde abril de 2020, o pior mês da pandemia para a indústria.
Já os bens de consumo duráveis interromperam oito meses de taxas positivas consecutivas, período em que acumulou avanço de 552,2%, informou o IBGE. Foram fortemente impactados pela queda na produção de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-10,6%), segmento que foi bastante favorecido pelo auxílio emergencial e pela adoção de home office em 2020.
Por outro lado, os bens de capital, que são um indicativo de investimento, registraram avanço de 4,5% em janeiro, no nono mês seguido de alta. Nesse período, o setor tem crescimento acumulado de 148,4%
Macedo, do IBGE, destacou que 14 dos 26 ramos pesquisados ficaram no campo negativo, "um comportamento que não foi observado nos meses anteriores dessa sequência de nove meses de crescimento".
O maior recuo foi da metalurgia, com queda de 13%. Com o desempenho, o setor interrompeu uma sequência de seis meses de crescimento, que acumularam 59% de alta no período. Houve queda também na produção de derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,4%), outros equipamentos de transporte (-16,0%), e máquinas e equipamentos (-2,3%), por exemplo.
A influência positiva mais relevante veio da atividade de produtos alimentícios, que avançou 3,1%. O setor foi um dos únicos a não sofrer grandes perdas no início da pandemia e vinha recuando no fim de 2020, com queda acumulada de 11% no último trimestre.
Outras contribuições positivas vieram de indústrias extrativas (1,5%), de produtos diversos (14,9%), de celulose, papel e produtos de papel (4,4%), de veículos automotores, reboques e carrocerias (1,0%) e de móveis (3,6%).
Na comparação com janeiro de 2020, a indústria teve alta de 2%, com influências positivas, principalmente, de máquinas e equipamentos (17,7%), produtos de metal (12,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (4,8%) e produtos de minerais não-metálicos (11,5%).
A perda de ritmo da economia já era percebida no fim de 2020, como resultado principalmente da redução do pagamento do auxílio emergencial. Embora o PIB tenha fechado o ano com queda menor do que a esperada (4,1%), as expectativas para 2021 pioraram com o avanço da Covid-19 pelo país e o atraso na campanha de vacinação.
Cruceno, da Guide, reforça que a piora do mercado de trabalho deve manter a atividade econômica pressionada e que o avanço da vacinação é "ponto central" na recuperação.
"Reiteramos a mensagem que temos recorrentemente enfatizado: a vacinação será a principal ferramenta de política econômica para a crise, pois, como está ficando cada vez mais claro, o ano de 2021 será de retração fiscal e monetária", conclui.