SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ausência de avanços nas negociações entre Rússia e Ucrânia e sinais mais fortes de que a inflação pode causar ainda mais estragos na economia global levaram mercados financeiros do Ocidente a oscilar em uma região negativa nesta quinta-feira (10).

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores brasileira, recuou 0,21%, aos 113.663 pontos. Com a baixa nesta quinta, o mercado acionário doméstico perdeu parte do avanço de 2,5% da véspera, atribuído a uma onda global de otimismo gerada por aparentes progressos nos diálogos para o fim da guerra.

Nesta quinta, porém, o primeiro encontro dos chanceleres Serguei Lavrov (Rússia) e Dmitro Kuleba (Ucrânia) terminou sem acordo.

Indicando preocupação de investidores com as aplicações financeiras mais arriscadas, o dólar fechou com ligeira alta de 0,11%, a R$ 5,0170. Na máxima do dia, a moeda chegou a subir mais de 1%, a R$ 5,0760.

Bolsas europeias também tiveram um dia negativo. Londres, Paris e Frankfurt, as mais importantes da região, perderam 1,27%, 2,83% e 2,93%, respectivamente.

Nos Estados Unidos, o principal indicador do mercado de ações, o S&P 500, recuou 0,43%. O índice Dow Jones, que reúne as companhias americanas de maior valor, perdeu 0,34%. A queda mais acentuada estava concentrada nas empresas de tecnologia de maior potencial de crescimento listadas na Nasdaq, que caiu 0,95%.

Além da ausência de notícias positivas sobre a guerra na Ucrânia, dados do governo americano divulgados nesta quinta demonstraram que a inflação anual no país renovou a maior alta em 40 anos, subindo 7,9%.

Sem uma trégua na guerra e a consequente manutenção da escalada na valorização do petróleo, os próximos relatórios sobre a inflação podem apresentar avanços ainda maiores no custo de vida do consumidor americano.

Um contexto inflacionário agravado pelo conflito na Europa tende a pressionar ainda mais o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a aumentar a taxa de juros do país a partir da próxima reunião do seu comitê de política monetária, marcada para os próximos dias 15 e 16 de março.

A depender do tamanho e da velocidade do crescimento da taxa –hoje praticamente zerada–, mercados de ações em todo o mundo tendem a perder capital para os títulos do Tesouro americano, considerados a aplicação mais segura do mercado mundial.

No centro da pressão inflacionária está o petróleo, cujo preço do barril do tipo Brent recuava 1,85% no início da noite desta quinta, a US$ 109,08 (R$ 550,93), após ter avançado a US$ 118 pela manhã.

"Os investidores estão oscilando entre esperança e medo ligados a um possível cessar-fogo ou algum tipo de resultado positivo [na Ucrânia]", disse Mike Mussio, presidente da FBB Capital Partners, ao The Wall Street Journal.

Na quarta-feira (9), expectativas sobre o aumento da oferta de petróleo ajudaram a derrubar o preço da commodity. Na ocasião, os Emirados Árabes Unidos sinalizaram apoio a um aumento da produção.

O embaixador do país em Washington, Yousuf Al Otaiba, afirmou que é a favor de um aumento na produção. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, também disse que os Emirados Árabes estavam dando suporte ao acréscimo.

Horas depois, o ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suhail al-Mazrouei, disse no Twitter que o país acredita "no valor que a Opep+ traz para o mercado de petróleo", em referência ao cartel formado pelos países produtores do qual os Emirados Árabes Unidos fazem parte.

Desde o avanço das tropas russas em território ucraniano, em 24 de fevereiro, a cotação do petróleo já subiu 12,59%.

A pressão sobre o preço foi ampliada pela decisão do presidente Joe Biden de determinar o banimento das importações da matéria-prima produzida na Rússia, que é um dos maiores exportadores globais.

Na última terça-feira (8), quando ocorreu a confirmação do embargo americano, o barril do Brent fechou valendo US$ 127,98, aproximando-se do recorde de US$ 147,50 de julho de 2008.

Não é só a guerra que vem acelerando o preço do petróleo. Desde o final do ano passado, a Opep e seus aliados se recusam a atender os pedidos do Ocidente por um aumento mais rápido na oferta da matéria-prima.

A necessidade de crescimento da produção já se apresentava como algo urgente devido ao crescimento da demanda após a reabertura econômica possibilitada pelo avanço da vacinação contra a Covid-19. Somente neste ano, a alta acumulada é de 40,25%, mais da metade desse avanço (24,51%) já tinha acontecido antes do início da guerra.

PETROBRAS SOBE COM ANÚNCIO DE MEGA-AUMENTO NOS COMBUSTÍVEIS

Ações da Petrobras subiram nesta quinta após a companhia ter anunciado mais cedo reajustes nos preços da gasolina e do óleo diesel nas refinarias. As altas entram em vigor na sexta-feira (11).

Os papéis preferenciais (que não dão direito a voto, mas têm preferência no recebimento de dividendos) saltaram 3,50%. As ações ordinárias (com direito a voto) avançaram 2,80%.

Pressionada pelo avanço das cotações do petróleo com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a empresa controlada pelo governo federal elevará a gasolina em 18,8% para as distribuidoras. Para o diesel, o aumento é ainda maior, de 24,9%. O valor subirá quase R$ 1 por litro, de R$ 3,61 para R$ 4,51. O gás de cozinha terá reajuste de 16,1%.

A disparada do preço do petróleo no mercado internacional reforçou o temor de investidores sobre o debate político quanto à paridade internacional de preços da Petrobras.

Na última segunda-feira (7), as ações da companhia afundaram mais de 7% após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter criticado o sistema que equipara o valor dos combustíveis no Brasil à flutuação da cotação da matéria-prima e do dólar.

O tombo na Bolsa levou a Petrobras a perder R$ 34,7 bilhões em valor de mercado em um único dia.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que o novo preço a ser praticado pela Petrobras ainda tem cerca de 10% de defasagem na gasolina e que isso não deverá ser corrigido no curto prazo.

Ainda no setor de commodities, a Vale subiu 3,30%, sinalizando recuperação parcial dos tombos recentes provocados por expectativas negativas quanto a intervenções da China para esfriar os preços do mercado de commodities metálicas.

A Embraer afundou 14,93%, liderando as baixas na Bolsa. A queda ocorreu um dia depois de a companhia ter informado lucro líquido de R$ 11,1 milhões no quarto trimestre, revertendo prejuízo de R$ 7,7 milhões sofrido um ano antes.