CONSELHEIRO LAFAIETE, MG (FOLHAPRESS) - O Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) oferecerá neste mês, em Belo Horizonte, cursos nas áreas de moda e beleza afro para imigrantes negras. A primeira turma é formada por 40 participantes, vindas de Haiti, Bolívia, Benin, República Democrática do Congo e Venezuela.

Segundo Janaína Santos, assessora de comunicação nacional do SJMR e uma das idealizadoras do projeto Todas Importam, a ideia surgiu após conversas com imigrantes haitianos que relataram a dificuldade enfrentada por refugiadas para se inserir no mercado de trabalho.

"Quando a gente fala da questão da migração forçada, a questão econômica das mulheres é um grande desafio. E, quando falamos da mulher negra, além da barreira linguística e cultural, essa mulher enfrenta o contexto desafiador do racismo", diz ela.

A escolha das temáticas dos cursos foi baseada nos interesses das mulheres assistidas pela instituição.

"Muitas dessas mulheres já trazem dentro da bagagem a questão de saber trançar cabelos, que tem toda uma questão de resistência. Então, a nossa ideia é de lapidar esses processos e apresentar outras técnicas e como esses penteados são utilizados no Brasil", diz a idealizadora.

O curso também deve abranger elementos como gestão financeira, precificação de produtos, estruturação de plano de negócios e noções de marketing digital. Para essas questões, o grupo contará com parcerias do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Entre as imigrantes, há mulheres que têm formação profissional em seus países de origem, mas não conseguem exercê-la no Brasil.

Esse é o caso da congolesa Gisele Mpia, 36, formada em enfermagem em seu país. Segundo ela, seu diploma não é reconhecido aqui.

Gisele diz que fugiu de seu país após sofrer violência sexual e ameaças de morte. Há seis anos, ao chegar no Brasil, não falava português. Segundo ela, a barreira linguística e o racismo foram agravantes para que ela demorasse a conseguir um emprego.

"O racismo é muito forte. As pessoas não falam diretamente, mas só pelo olhar, pelo jeito de falar, você sente que não está no seu lugar", diz ela.

Após trabalhar em um salão de beleza e considerar que não recebia o que era justo, hoje trabalha fazendo tranças em sua casa ou a domicílio e vendendo produtos de moda afro. Ela espera que o curso do projeto Todas Importam seja uma forma de aprender mais e investir em seu próprio negócio.

A venezuelana Leonela Rivas, 24, veio para o Brasil há quase dois anos. Com um filho pequeno, ela ainda não conseguiu um emprego. A jovem soube do curso por meio de uma amiga e espera que essa seja uma oportunidade de inserção no mercado de trabalho.

"Gosto muito de fazer trança e essas coisas de penteado já fazia lá na Venezuela. Então, quero aprender um pouquinho mais, porque eu sei fazer o básico", diz ela.

Andrise Montina, 35, veio do Haiti em 2016 em busca de emprego. Após chegar ao país, começou a frequentar um curso de português, mas teve que abandoná-lo, ao ser empregada. Aprendeu muito da língua observando as pessoas no cotidiano.

Ela já trabalhou com serviços de limpeza e como caixa em um restaurante, empregos que permitiram que trouxesse a filha do Haiti. Hoje vendedora em uma loja de departamentos, ela sonha abrir um salão de cabeleireira. Com conhecimentos básicos sobre confecção de tranças, quer aprender mais, certificar o seu trabalho e criar uma rede de contatos com pessoas que também se interessam pela área.

Além da iniciativa em Belo Horizonte, o SJMR está em fase de captação de recurso e planejamento de ações do projeto Todas Importam em Porto Alegre e Salvador. A expectativa é que os novos cursos sejam realizados ainda neste primeiro semestre.