Ignorado na zona sul, Carnaval bomba no centro do Rio
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 01 de março de 2022
BIANCA GUILHERME
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - De um lado, pé na areia, caipirinha, água de coco e cerveja. De outro, marchinhas de Carnaval, pegação, fantasias e muito glitter. Esse é o retrato do Rio de Janeiro neste feriado de primeiro de março, dia em que a cidade completa 457 anos.
Andando pelo calçadão de Copacabana era fácil encontrar casais que decidiram passar o feriado na capital, mas não com o objetivo de curtir a folia.
A cozinheira Vanessa Ferreira, 25, escolheu passar seu feriado e folga de uma forma mais calma. Ela e sua amiga Letícia Bueno, 24, nutricionista, tomaram café da manhã no Forte de Copacabana e estavam a caminho do Parque Lage.
Vanessa afirma que não sentiu o clima de Carnaval neste ano, data que para ela se assemelhou muito mais a um "feriadão". "Depois da Covid-19, mesmo com a vacina, eu ainda tenho medo de multidão. Prefiro passar como um feriado curtindo e aproveitando", disse.
Assim como ela, a técnica administrativa Cecília Milioni, 59, definiu que sua terça de Carnaval seria mais leve. Moradora de Copacabana, ela só tinha um plano: ficar sentada lendo um livro no calçadão e distante do tumulto.
"Não me sinto segura em ir a blocos. Ouvi muitas histórias de gente indo em festas particulares, entendo a necessidade das pessoas em se divertir, mas acho que isso pode gerar uma nova onda [do vírus]. Então, fico preocupada e prefiro ficar distante", afirmou.
Milioni disse que não viu blocos em Copacabana neste ano. "Esse Carnaval está muito diferente, isso aqui ficava cheio [avenida Atlântica], tinha bloco de manhã, tarde e noite", disse.
O casal mineiro Paola Barcelos, 34, personal, e João Barcelos, 30, analista financeiro, até estava fantasiado, mas não com o objetivo de encontrar algum bloco na zona sul.
"Nós fomos em samba, barzinhos, mas nada de blocos. Estamos fantasiados porque amamos essa época, só que para curtir a praia", afirmou a personal.
Já a coordenadora pedagógica Roberta Bitencourt, 55, de São Paulo, disse que ama Carnaval, mas não se sentia segura em ir a blocos.
No centro do Rio, por sua vez, o clima era totalmente diferente. Desde a noite de sexta-feira (25) diversos cortejos ocorreram, inclusive sob a observação de policiais militares e guardas municipais.
A historiadora Nathalia Laurindo, 23, afirmou que desde o início de 2022 está participando bloquinhos. Para a historiadora, estar na rua é "resistência".
"Estão querendo acabar com o Carnaval de rua. Esses eventos particulares só fazem que quem tem dinheiro lucre mais. Esse Carnaval de rua aqui é resistência", disse.
Para o psicólogo Manoel Ferreira, 37, o Carnaval deste ano está sendo transformador, por ocorrer mesmo com veto do governo.
"A maior diferença está sendo em não sabermos como e onde os blocos estão ou quando começa ou termina um. Tudo tem se tornado um só", afirmou.
Para a musicista Carolina Matias, 24, os foliões começaram de uma forma tímida, consciente e, quando viram que não estava tendo repressão, o número foi aumentando. "Não sabemos quando começa e para onde vai. Vamos seguindo o fluxo e isso é muito bom."
A reportagem conversou com um grupo de vendedores que decidiram não trabalhar nesta terça, pois se sentiam cansados e precisavam "extravasar".
Para a vendedora Luciana De Castro, 32, tem sido divertido e estranho ao mesmo tempo trabalhar no Carnaval. "É esquisito porque não estamos acostumados a trabalhar nessa época, ainda mais em uma terça de Carnaval. Mas, devido à pandemia, esse é um momento de readaptação e isso faz parte."
Em nota, a Fecomércio afirmou que o comércio abriria sem restrições nesta terça e quarta-feira (2), graças a um acordo com o Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro, acertado em 4 de fevereiro.