Hospitais municipais de SP têm maior ocupação de UTI desde julho
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
FÁBIO MUNHOZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os hospitais municipais da capital paulista registraram nesta semana o maior número de pacientes com Covid-19 internados em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde julho do ano passado, quando a cidade ainda passava pelo pico da primeira onda da doença.
Na última terça-feira (23), 604 pessoas ocupavam leitos de terapia intensiva mantidos pelo município, mesmo número registrado em 23 de julho. Desde então, a quantidade não havia voltado a bater na casa de 600. Apesar de o número ser o mesmo, as taxas de ocupações, que são as proporções entre internados e vagas disponíveis, são diferentes.
No dia 23 de julho, a taxa era de 58%. Já nesta terça, o índice era de 69%. Isso quer dizer que, na primeira medição, a cidade possuía mais leitos municipais disponíveis à população. Na época, o hospital de campanha do Anhembi ainda estava em funcionamento, com capacidade para atender até 870 pessoas --a gestão Bruno Covas (PSDB) ainda manteve um hospital de campanha no Pacaembu (zona oeste) no auge da pandemia em 2020.
Ainda na última terça, a soma de internados em UTI nos hospitais municipais e nas unidades privadas contratadas pela prefeitura era de 691 pessoas. Esse número é o mais alto desde o dia 3 de agosto.
Os dados dos boletins diários da Secretaria Municipal da Saúde mostram que, entre outubro e fevereiro, o total de leitos de UTI ocupados com pacientes de Covid quase dobrou, passando de 356 para 691. Na comparação com 23 de novembro, o aumento foi de 41%.
Da última semana para cá, o total de vagas preenchidas em terapia intensiva continua aumentando. No Hospital Municipal da Brasilândia (zona norte), houve uma elevação de 18,75% entre os dias 17 e 24, passando de 144 para 171 internações. No Hospital Municipal Guarapiranga (zona sul), a alta foi de 16,87%: de 83 para 97. Os dados são da plataforma SP Info Tracker.
Na opinião do epidemiologista André Ribas, professor da faculdade São Leopoldo Mandic, a alta no número de hospitalizações pode ter influência da maior incidência da nova cepa do coronavírus, identificada inicialmente em Manaus (AM). "Já é sabido que algumas mutações dessa linhagem favorecem a transmissão. Essa mutação favorece a adesão ao receptor e é a mesma que foi identificada nas linhagens que circulam na Inglaterra e na África do Sul."
O especialista diz, entretanto, que ainda não há estudos que comprovem que essa nova cepa provoque quadros mais graves da Covid-19.
Sobre as medidas que vêm sendo adotadas pelo governo do estado e por prefeituras da Grande São Paulo e do interior para aumentar a restrição na circulação de pessoas, Ribas diz que as ações são "necessárias, mas insuficientes".
Ele afirma que é necessário fazer um monitoramento, não somente de quem testou positivo para a Covid-19, mas também das pessoas que tiveram contato com esses pacientes.
"Quando o paciente se apresenta no serviço de saúde, cerca de 75% da sua capacidade de espalhar doença já foi, porque ele começou a transmitir antes mesmo de começar os sintomas. Não adianta isolar só o paciente, tem que isolar todo mundo que teve contato com ele. Isso tem sido feito em todos os países que tiveram sucesso [no controle da pandemia]", acrescenta.
Ribas sustenta que é necessário aumentar a velocidade de vacinação da população, bem como ampliar a oferta de imunizantes de diferentes laboratórios. "Nenhum produtor sozinho vai dar conta da demanda", diz.
Resposta Para dar conta da demanda de pacientes com Covid-19, a Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirma que, durante a pandemia, entregou oito novos hospitais: Brasilândia, Bela Vista, Parelheiros, Guarapiranga, Capela do Socorro, Santo Amaro, Sorocabana e Brigadeiro.
Além disso, a administração municipal cita a construção do anexo do Hospital Municipal do M' Boi Mirim e dos hospitais de campanha do Pacaembu e do Anhembi, que funcionaram durante a primeira onda da doença e foram desativados em junho e em setembro do ano passado, respectivamente.
A secretaria diz ainda que, desde o início da pandemia, "fortaleceu todos os seus equipamentos e ações com foco na prevenção, diagnóstico, atendimento, garantia de leitos e internações em função da Covid-19 em todos os 96 distritos administrativos da cidade, focando com especial atenção as áreas mais vulneráveis".