'Halloween Kills' não passa de dinheiro fácil para os produtores
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quarta-feira, 13 de outubro de 2021
IEDA MARCONDES
FOLHAPRESS - Com "Halloween", de 2018, David Gordon Green soube honrar as principais características do clássico criado por John Carpenter 40 anos antes e, ao mesmo tempo, abordar um elemento novo e revigorante o retrato de três gerações de mulheres lidando com a violência e o trauma provocados pelo psicopata mascarado Michael Myers.
Naquela época, Green e seus corroteiristas tomaram a decisão acertada de ignorar as diversas sequências e retomar a história diretamente da obra original, trazendo Laurie Strode de volta à vida.
O sucesso foi tamanho mais de US$ 250 milhões na bilheteria mundial, com uma estreia mais lucrativa que todos os filmes da franquia, inclusive a do primeiro que a releitura não apenas ganhou mais uma sequência, como foi transformada em saga.
Assim, "Halloween Kills: O Terror Continua", a segunda produção da nova trilogia, sofre com a inconclusão de uma história que só poderá alcançar o seu verdadeiro ápice em "Halloween Ends", previsto para o ano de 2023.
Com estreia na 78ª edição do Festival de Veneza em que a atriz Jamie Lee Curtis foi homenageada pelo conjunto de sua carreira com o Leão de Ouro honorário, "Halloween Kills" desvia o foco de Laurie Strode, a icônica "final girl" interpretada por Curtis, para tratar de personagens secundários ou mesmo terciários.
Depois de 20 minutos de recapitulações desnecessárias do histórico de Michael Myers, desde o assassinato de sua própria irmã até a fuga do hospital psiquiátrico, é que finalmente reencontramos Laurie.
Junto da filha Karen, papel de Judy Greer, e da neta Allyson, vivida por Andi Matichak, Laurie segue para o hospital na caçamba de uma picape, enquanto tenta estancar o sangue da facada que levou na barriga. Ao ver o caminhão de bombeiros no sentido oposto, em direção à casa incendiada em que ela aprisionou Michael, Laurie grita em vão, é claro "deixe queimar".
Ela passa o resto do tempo em recuperação, conversando com quem entra e sai do quarto. É frustrante ver a personagem numa posição tão passiva, após a caracterização mais durona do primeiro filme.
Desta vez, são os cidadãos de Haddonfield que decidem enfrentar Michael Myers. Assim, retornam alguns personagens que só mesmo os fãs mais fervorosos podem se lembrar, como Tommy Doyle, vivido por Anthony Michael Hall, o menino de quem Laurie era babá em 1978; Lindsey Wallace, papel de Kyle Richards, cuja babá, Annie, foi uma das vítimas fatais de Michael; o antigo xerife Brackett, papel de Charles Cyphers, pai de Annie e segurança no hospital da cidade; e Marion Chambers, vivida por Nancy Stephens, colega do doutor Loomis, psiquiatra de Michael.
Na busca por Myers, Tommy é acompanhado por Allyson, seu namorado Cameron, papel de Dylan Arnold, e o pai do namorado, Lonnie, vivido por Robert Longstreet. Parece enrolado? Porque é. São tantos personagens mal concebidos que a maioria nem sequer desperta qualquer sentimento quando, finalmente, se depara com a morte encarnada.
A necessidade de que todos tenham algum tipo de conexão com o original, por menor que seja, faz com que "Halloween Kills" perca muito tempo com flashbacks expositivos e apresentações desajeitadas.
Entre diálogos sofríveis e frases de efeito repetidas à exaustão, há uma tentativa bizarra de fazer referência à cultura do cancelamento, quando uma turba raivosa persegue um homem inocente como confundir um monstro mascarado de quase dois metros de altura com um baixinho e gordinho?
No final das contas, não é possível dizer do que "Halloween Kills" se trata, além de grana fácil para os produtores. É um conjunto de meias ideias que não tornam a sequência mais assustadora, mas acabam enfraquecendo a força do sucesso de 2018.
HALLOWEEN KILLS: O TERROR CONTINUA
Avaliação Ruim
Quando Estreia nesta quinta (14)
Onde Nos cinemas
Classificação 16 anos
Elenco Jamie Lee Curtis, Judy Greer e Anthony Michael Hall
Produção EUA/Reino Unido, 2021
Direção David Gordon Green