SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Pré-candidato ao Governo de São Paulo pelo PT, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad está modulando seu discurso de campanha da esfera nacional para a estadual.

Um dos incentivadores da chapa Lula-Alckmin, já em vias de consolidação, Haddad informou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, concluída essa costura, pretende se dedicar à pré-campanha para a disputa do governo estadual, afastando-se do debate nacional.

A interlocutores o ex-prefeito tem afirmado, em tom de brincadeira, que vai acionar o "software estadual". Sua disposição é visitar as 15 macrorregiões de São Paulo e elaborar projetos para cada uma delas.

O desafio é encontrar o equilíbrio em um discurso que ainda está muito nacionalizado. Haddad foi ministro da Educação no governo Lula e candidato à Presidência em 2018, ficando em segundo lugar na disputa contra o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), com mais de 47 milhões de votos.

Em evento que oficializou o apoio do PC do B à candidatura de Haddad ao Palácio dos Bandeirantes na semana passada, em São Paulo, o ex-prefeito tratou basicamente de temas nacionais.

Ele criticou o governo Bolsonaro, falou da possibilidade de fazer alianças com partidos e comentou até sobre a guerra na Ucrânia.

A avaliação de petistas é que a disputa no estado irá refletir o cenário nacional e, por isso, não daria para fugir desses temas --mas que isso não dará a tônica do discurso da campanha em São Paulo.

Segundo um membro do PT, Haddad virou uma figura nacional e tudo o que faz e fala tem repercussão para além do estado de São Paulo.

"Tem que ter a abordagem nacional porque estaremos numa campanha muito colada na do presidente Lula, buscando discutir, inclusive, o papel paulista no cenário brasileiro", diz Luiz Marinho, presidente estadual do PT em São Paulo.

"Mas ele é candidato ao Governo de São Paulo, então a maior parte do tempo que tem que se referir aos temas do estado", completa.

De acordo com relatos, Haddad está estudando as realidades regionais para incorporá-las em seu programa e começa, nesta semana, uma série de viagens pelo interior.

Entre esta quarta-feira (9) e sábado (12), Haddad visitará municípios das regiões da Alta Paulista e do Vale do Paranapanema, onde se reunirá com líderes locais. A ideia das viagens é buscar justamente subsídios para seu programa de governo.

"São Paulo passa por um processo de esvaziamento econômico. Nós vamos recuperar e resgatar a força paulista no cenário nacional", continua Marinho.

Entre petistas, a avaliação é a de que o vice-governador de SP, Rodrigo Garcia (PSDB), escolhido pelo governador João Doria para a sucessão no estado, deverá apostar seu discurso na manutenção da realidade do estado e que, portanto, Haddad deverá apresentar um contraponto.

Em um eventual segundo turno com o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), candidato de Bolsonaro, membros do PT avaliam que o ex-prefeito deverá demonstrar mais conhecimento sobre a realidade do estado --uma vez que o ministro é nascido no Rio de Janeiro.

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em dezembro, em um cenário sem Geraldo Alckmin na disputa, Haddad lidera com 28%, seguido de França (19%) e Boulos (11%). No cruzamento de dados, 30% dos eleitores do ex-governador optam por Haddad, 19% por França e 13%, por Rodrigo Garcia (PSDB).

Alckmin, que deverá compor a chapa presidencial com Lula (PT), já se comprometeu a contribuir ativamente na campanha de Haddad.

A expectativa é que, com o apoio do ex-governador, o petista tenha boa acolhida no interior do estado, um dos pontos fracos do PT. O ex-tucano poderia ainda abrir portas dos eleitores do centrão.

Segundo petistas, num cenário em que Guilherme Boulos (PSOL) desista de sua candidatura, Haddad poderá investir mais nessa faixa, já que, com a falta de um adversário competitivo à esquerda, não corre risco de perder parte de seu eleitorado original.

Uma reunião da executiva estadual do partido desta semana sacramentou a escolha do ex-deputado Luiz Turco para a coordenação de agenda de Haddad e Luiz Marinho para a coordenação-geral da campanha.

O próprio Haddad convidou o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), para coordenar o programa de seu governo --e ainda não teve uma resposta. Mas Lula pediu ajuda a Edinho, que dificilmente recusará um apelo do ex-presidente da República.

Até o final do mês é esperada a definição de todos os membros que participarão ativamente da coordenação da campanha do petista ao Palácio dos Bandeirantes.