SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A guerra na Ucrânia entrou na quarta semana nesta quinta-feira (17) com anunciados progressos nas negociações com a Rússia, que seguem ao longo do dia de forma virtual, mas sem o cessar dos bombardeios em áreas civis das maiores cidades do país.

Em Kiev, a capital, uma pessoa morreu e três ficaram feridas após restos de um míssil russo abatido caírem em um prédio residencial, destruindo dois apartamentos, de acordo com os serviços de emergência. Cerca de 30 moradores foram retirados do local.

A situação, dizem as Forças Armadas da Ucrânia, poderia ter sido pior. Os militares alegam ter derrubado ao menos dez foguetes e aviões russos durante a noite e a madrugada no céu da capital, entre eles um avião russo de ataque ao solo Su-25 e um caça Su-35.

Também seguem as buscas em um teatro de Mariupol, cidade portuária de 400 mil habitantes sob intenso bombardeio russo, onde uma bomba teria atingido um teatro na véspera, segundo as autoridades locais — Moscou nega o ataque a civis.

De acordo com a ONG Human Rights Watch (HRW), o edifício abrigava pelo menos 500 pessoas, deslocados internos do conflito que procuravam abrigo. Imagens de satélite distribuídas pela empresa Maxar Technologies, dos Estados Unidos, coletadas ainda nesta semana, mostram a palavra "crianças" desenhada no pátio do local.

A HRW disse que, como a confirmação das informações de forma independente é difícil devido às condições locais, não é possível descartar a possibilidade de que ali também houvesse um alvo militar. Ainda assim, a pesquisadora sênior Belkis Wille disse que o episódio levanta "sérias preocupações" sobre qual era o alvo pretendido em uma cidade onde civis já estão sitiados há dias, e serviços de comunicação, energia, água e aquecimento foram quase completamente cortados.

O deputado ucraniano Dmitro Gurin, cujos pais estão em Mariupol, disse à rede britânica BBC que o prédio está destruído, mas que informações sugerem que o abrigo antiaéreo possa ter sido mantido intacto, de modo que aqueles que ali se refugiaram podem ter sobrevivido. O governo local não divulgou números de vítimas.

Embora persistam os bombardeios, o Ministério da Defesa do Reino Unido, em relatório da inteligência divulgado durante a madrugada, disse que a invasão militar russa está estagnada em todas as frentes. As forças russas fizeram progressos mínimos por terra, mar ou ar nos últimos dias e continuam a sofrer grandes perdas, alega o documento.

O governo russo informou que negociações com Kiev, outrora presenciais, na Belarus, seguem de forma virtual ao longo dia. As manifestações mais otimistas até aqui foram feitas na quarta, quando a chancelaria russa sinalizou que um acordo sobre a neutralidade da Otan, uma das demandas principais de Putin, estaria na esteira.

Menos otimistas, porém, têm sido as manifestações do lado ucraniano. Um assessor de Zelenski reforçou nesta quinta que a posição de defesa das fronteiras do país estabelecidas em 1991, quando a Ucrânia conquistou sua independência, após o fim da União Soviética, não foi alterada. "Nunca vamos desistir de nossos interesses nacionais", disse Oleksi Arestovish.

A declaração importa, em especial, porque as áreas da Crimeia, anexada pela Rússia há oito anos, e das autoproclamadas repúblicas separatistas do Donbass, recentemente reconhecidas por Moscou, faziam parte do território ucraniano na década de 1990 . Putin, no entanto, estabeleceu o reconhecimento da independência dessas regiões como uma das condições para encerrar a guerra.

Ainda na frente diplomática, o presidente Volodimir Zelenski deu seguimento a seus discursos a congressistas para angariar apoio para Kiev. Desta vez, falou por videochamada ao Bundestag, o Parlamento da Alemanha, e seguiu fórmula semelhante à adotada na véspera quando discursou para os legisladores americanos: evocando a história.

Falando sobre a queda do Muro de Berlim, em 1989, Zelenski pediu ao premiê alemão, Olaf Scholz, que derrube o "muro entre a paz e o conflito na Europa e pare a guerra na Ucrânia".

"Dê à Alemanha o papel de liderança que ela conquistou para que seus descendentes se orgulhem de você", acrescentou o líder ucraniano, que, na quarta (16), mandou recado semelhante para Joe Biden.

Zelenski disse, ainda, que a Alemanha agiu tarde demais para impedir que a guerra tivesse início. "Por que 'nunca mais' não se aplica? Qual é a responsabilidade histórica da Alemanha para com a Ucrânia hoje?", questionou o líder, referindo-se ao passado histórico que une os dois países —a Ucrânia foi ocupada pela Alemanha nazista e registrou, em seu território, episódios marcantes do Holocausto.