BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Economia, Paulo Guedes , deve se encontrar mês que vem com representantes do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) , grupo que reúne cerca de 80 grandes empresas responsáveis por 47% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.

A data prevista é 6 de outubro. Na pauta, o posicionamento “Empresários pelo clima”, divulgado oficialmente nesta segunda-feira (27), em que a instituição cobra do governo Jair Bolsonaro protagonismo do Brasil na área ambiental.

“Vamos defender com o ministro que a retomada tem que ser verde”, diz a presidente do CEBDS, Marina Grossi, ressaltando que a questão climática é fundamental para os negócios.

“A desigualdade social, os riscos de uma nova pandemia e o uso indevido das florestas, via desmatamento ilegal, podem ser combatidos com o fortalecimento do Brasil como protagonista na agenda ambiental”, afirma a executiva, durante entrevista à imprensa para anunciar o posicionamento.

Um estudo do CEBDS com 61 companhias, que representam 90% do capital negociado em Bolsa no Brasil, apontou que a adoção de ações sustentáveis tem potencial para gerar uma receita de US$ 123,7 bilhões.

De acordo com Marina, o desmatamento responde por 48% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. “Desse total, 98% são de desmatamento ilegal”, afirma. “Resolvida essa questão, o país atingiria 80% do compromisso feito no Acordo de Paris”, diz ela, referindo-se ao acordo global firmado em 2015 com o objetivo de reduzir o aquecimento global.

A carta “Empresários pelo Clima” foi assinada até agora por 107 grandes empresas sediadas no país e por dez entidades empresariais. Dessas 107, 55 são companhias associadas ao CEBDS, que lidera a iniciativa. “As adesões ainda estão ocorrendo”, diz Marina.

Entre os signatários, estão empresas como Alcoa, B3, Carrefour, Embraer, Bradesco, Grupo Ultra, Shell, BRF, JBS, Klabin, Natura, Renner, Nestlé, Amazon, JSL, Korin, Marfrig, Mastercard, Vivo, Votorantim, Movida, Suzano, os escritórios de advocacia Tozzini Freire e Mattos Filho, além de entidades como Abimaq (máquinas e equipamentos), Abal (alumínio), Abag (agronegócio) e Amcham Brasil (Câmara Americana).

Além de Guedes, a CEBDS quer apresentar o documento para os ministros Joaquim Álvaro Pereira Leite (Meio Ambiente), Carlos Alberto Franco França (Relações Exteriores) e Tereza Cristina (Agricultura).

“Já tivemos uma sinalização positiva do Itamaraty [sede do Ministério das Relações Exteriores] e da ministra Tereza Cristina”, diz Marina.

A carta será apresentada antes da COP26, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), que acontece em novembro em Glasgow, na Escócia. O evento deve entrar para a história como a conferência climática mais importante desde a realizada na França em 2012, quando se estabeleceu as bases para a assinatura do Acordo de Paris –que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global.

No mês passado, a carta já foi apresentada a Alok Sharma, presidente da COP26.

“O documento indica que o setor privado dá um respaldo para que o Brasil avance nestes temas, que se tornaram de imensa importância na agenda das empresas”, diz Marina referindo-se à adoção de critérios ESG, relacionados à governança ambiental, social e corporativa nas companhias.

A executiva explica que o acesso ao capital e a reputação empresarial são determinantes para que cada vez mais companhias adotem estes critérios. Investidores estrangeiros estão muito atentos ao tema e buscam negócios sustentáveis. “É uma virada de chave para as empresas: não basta falar, é preciso agir”, diz Marina.

No documento, os empresários afirmam que “objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima”. Caso o país não mantenha sua centralidade nesse diálogo, dizem, pode arcar com um “enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade”.

Para os signatários, o Brasil “tem vantagens comparativas extraordinárias” para alcançar uma economia de emissões líquidas de carbono neutras. Para isso, é preciso “desenvolver um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme com ações eficazes para a preservação do meio ambiente e o cumprimento das metas de combate ao desmatamento ilegal”.

“O setor empresarial brasileiro está engajado na recuperação do país dos efeitos da Covid-19, promovendo uma retomada verde (green recovery) fundada em bases de economia circular, de baixo carbono e de inclusão. Os CEOs signatários deste documento têm assumido posições e trabalhado por esse avanço em todo o país”, diz o texto.

A carta cita estudo recente, apoiado pelo CEBDS, que indica ser possível reduzir as emissões de GEE (gás de efeito estufa) em até 42% no Brasil já em 2025, em relação aos níveis de 2005.

Nesse sentido, o documento destaca os avanços representados pelo RenovaBio, a recém-aprovada política de pagamento por serviços ambientais (PSA) e o futuro mercado regulado de carbono no Brasil.

Os empresários ressaltam que é preciso desenvolver mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil, cooperando para a criação de um mercado de carbono global no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.

“Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil”, afirmam.